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Racismo, colorismo, abuso sexual, violência doméstica, alguns temas das Cartas para a minha mãe da escritoraTeresa Cárdenas

por Elis Rouse
3 minutos de leitura

Cartas para a minha mãe | Teresa Cárdenas

Em Cartas para a minha mãe, a escritora cubana Teresa Cárdenas nos apresenta um relato pesado, ao mesmo tempo singelo, da vida de uma criança que queria apenas conversar e contar um pouco do seu dia a dia à sua mãe que já faleceu.

Na simplicidade de uma criança de apenas 10 anos, que já carrega um fardo gigante de ser órfã, como também morar com uma família em que todos não apenas a odeiam, como descontam suas frustrações na menina, nos faz conhecer a solidão, a carência e a angústia de alguém que só queria um pouco de atenção e carinho, especialmente da mãe que já se foi.

Racismo, colorismo, abuso sexual, violência doméstica, bullying, prostituição, são alguns dos temas que acompanham o crescimento da nossa personagem.

“Não gosto que digam que negros têm nariz achatado e beição. Se Deus existe, com certeza está furioso por ouvir tanta gente criticando sua obra.” (pág. 19).

Os pequenos detalhes da narrativa da criança dão um panorama dessa estrutura familiar. Destaque para a relação com a avó que, além de conturbada, é violenta.

“- Cale essa boca, beiçuda! Parece uma ave de mau-agouro! — xingou ele antes de ir atrás de titia no quarto onde Lilita estava ardendo em febre. Desde então, todos me chamam de beiçuda nessa casa onde eu não queria morar.” (pág.15 e 16).

Ela mora com a tia Catalina (irmã de sua mãe) e as primas (Ninã e Lilita) que não gostam dela, reclamam do seu jeito e do seu cabelo, que ela gosta de deixar natural (como as africanas), enquanto as primas e as colegas de turno fazem de tudo para alisar (ela cita o pente quente).

“Algumas pessoas não sabem ser negras. Tenho pena delas.” (pág.20).

Enquanto luta sozinha para suportar a ausência da mãe, crescer, sobreviver em um ambiente que é hostil tanto dentro de casa quanto na escola, as cartas emocionadas são o alento para a menina. Essas cartas começam sempre com adjetivos carinhosos, que tocam profundamente o nosso coração: “Mamãe da primavera”, “Mãezinha linda”, “Mãezinha preciosa”, “Mãezinha, meu sol!”, entre outros.

“Quero um céu em que as avós sejam boas e distribuam doces entre seus netos. Onde ninguém maltrate as crianças, nem as obrigue a fazer coisas que não gostam. Um céu onde ninguém me chame de beiçuda nem de feia e onde eu não me sinta sozinha.” (pág.82).

Cartas para minha mãe é um livro com uma carga sentimental enorme, apesar das poucas páginas, utiliza uma linguagem infantil e o formato ligeiro da escrita de uma carta, que mais parece um bilhete.

A escrita é um desabafo e um pedido de socorro atemporal, que vale para nossa personagem sem nome e para qualquer criança que, desde cedo, já tem que enfrentar a hostilidade do mundo.

Cartas para minha mãe é uma publicação da Editora Pallas

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