Por Samuel Reis
Há alguns dias o jornalista William Waack foi exposto publicamente devido a um comentário pejorativo sobre atitudes inapropriadas ao mesmo tempo que as identificou como “coisa de preto”. Hoje, celebramos o Dia da Consciência Negra, um dia bem importante para lembrá-lo sobre umas coisas que realmente poderiam fazer parte de uma vasta lista das que realmente teriam a cara dos negros:
É coisa de preto ser retirado do seio da família e ser tomado como escravo em troca de dinheiro.
É coisa de preto ter sobrevivido a condições sub-humanas dos navios negreiros sem comida dias à fio em uma viagem a lugares desconhecidos.
É coisa de preto ter vivido anos e anos na escravidão sem ter direito à alfabetização para não ser comparado com o nível dos brancos nos tempos antigos.
É coisa de preto ser tomado como objeto sexual dos senhores e forçar uma sensualidade em meio ao sofrimento da desigualdade.
É coisa de preto ter visto filhos, esposos e esposas sendo vendidos e separados em troca de qualquer trocado.
É coisa de preto ter sido cobaia para todo tipo de tortura desumana e explícita para demonstrar a soberania da raça branca por suas posses de cor preta.
É coisa de preto ter suportado tanta humilhação durante anos e carregar sobre si o sangue de quem levantou nações em troca de nenhum reconhecimento, nem sequer em troca de liberdade.
É coisa de preto ter sonhado tantos anos com a liberdade e ter morrido derramando seu próprio sangue sem tê-la conquistado.
É coisa de preto sofrer com à própria “liberdade” que não lhe deu nenhuma condição de trabalho para se fazer igual àqueles que antes os tinham como escravos.
É coisa de preto ser taxado como marginalizado, bandido, ser seguido por seguranças nas lojas, ser parado em revistas de abuso do poder, de uma forma generalizada nos dias de hoje por conta da cor da pele.
É coisa de preto ver em novelas constantemente negros em sua grande maioria fazendo papéis de baixo escalão e ver personagens negros da realidade sendo interpretados por artistas brancos para dar glamour à quaisquer tramas da TV.
É coisa de preto nos tempos modernos ir além da modinha dos cabelos crespos e antenados pra conhecer a sua própria história de resistência e ser alguém que sirva de exemplo contra a desigualdade racial.
É coisa de preto ouvir que as nossas lutas se tratam de vitimização, e que não existe racismo no mundo nos dias de hoje, só pelo fato da escravidão ainda persistir “maquiada” nas brincadeiras pejorativas de conceito racial.

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Não, eu não sou descendente de negros escravos. Eu sou descendente de negros africanos livres que foram tirados à força de seu berço nativo para serem vendidos cruelmente como máquinas de trabalho por serem taxados como “raça inferior”. Minha origem africana é livre como a de qualquer outra etnia desse planeta embora o comércio escravo seja a mente de grande parte da sociedade. A carne mais barata do mercado é a carne negra se a cultura mundial é rasa e baseada em PREÇOS. Mas uma raça que pagou o preço da desumanidade das outras raças sabe bem os VALORES da sua luta.
Não sou escravo nem do “padrão de beleza negra”. De cabelo crespo ou liso, preto ou loiro, grande ou comprido, eu sou preto. Minha identidade é interna de um passado livre que escravidão nenhuma vai apagar.
É coisa de preto, utopia das mais delirantes, lutar por um sonho maior que se concretizará no dia em que as raças forem tratadas com igualdade. Enquanto esse dia não chega, resisto. Resistimos.
A maior riqueza que os negros têm vem do passado de luta numa época em que os recursos eram bem mais escassos do que hoje
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