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[Resenha] – O cavaleiro preso na armadura – Robert Fischer

por Elis Rouse
4 minutos de leitura

O cavaleiro preso na armadura – Robert Fischer

O cavaleiro preso na armadura é um livro de autoajuda. Já deixo isso bem claro, porque sei como este gênero é discriminado pela maioria dos leitores, inclusive, eu.

Mas de vez em quando é bom abrir a mente e encarar uma leitura assim. Os livros deste gênero, invariavelmente estão sempre na lista de mais vendidos, e possuem um público fiel.

Permeado de frases de efeito e ensinamentos tocantes, a grande marca do gênero é apresentar uma saída, um amparo, para solucionar problemas comuns do nosso cotidiano, como por exemplo, a angústia, estresse, ansiedade e até depressão. O mercado dos livros de autoajuda é amplo e dominado por nomes como Augusto Cury, Padre Marcelo Rossi e Dale Carnegie.

O cavaleiro preso na armadura é a fábula de um destemido cavaleiro, ávido pelas batalhas, que queria sempre ser bondoso, gentil e amoroso. Era conhecido pela sua bela armadura que “refletia raios de luz tão claros que, quando o cavaleiro partia para a batalha, os aldeões podiam jurar que tinham visto o sol nascer no norte ou se pôr no leste” (pág.3).

O cavaleiro queria tanto agradar que mesmo quando não havia batalhas, promovia o resgate de donzelas, quando elas não queriam ser resgatadas. Se você, assim como eu, pensou que o cavaleiro era solteiro, se enganou, ele tinha esposa e filho, contudo, por estar sempre no campo de batalha matando dragões, resgatando donzelas, ou ainda, admirando o lustre da sua armadura, era um pai ausente e um esposo frio e impaciente.  Com o passar do tempo, o cavaleiro incorporou a armadura no seu dia a dia dificultando ainda mais a convivência com a família.

A esposa então resolve dar um ultimato e ameaça deixá-lo caso o cavaleiro não se livre da tal armadura. À sua maneira, ele amava a esposa e o filho e não queria perdê-los. Porém, ao tentar retirar a armadura, o cavaleiro descobre que ela está presa ao corpo, e nem o ferreiro mais experiente do reino foi capaz de retirá-la. Diante da possibilidade de perder sua família o cavaleiro embarca em uma grande viagem para se livrar da armadura.

Sob a ótica de que todos nós temos a nossa própria armadura que vestimos em determinadas situações, o cavaleiro se armou da sua e não mais consegue retirá-la sozinho, e admitir que precisa de ajuda é o primeiro passo para o autoconhecimento. O cavaleiro parte então em busca do famigerado mago Merlin, profeta e conselheiro do rei Artur. Com frases como: “Uma pessoa não pode fugir e aprender ao mesmo tempo. Ela precisa permanecer algum tempo no mesmo lugar” (pág.12) ou ainda “Você está se tornando sensível o bastante para sentir as vibrações dos outros” (pág. 17), Merlin orienta o cavaleiro rumo a libertação. 

De maneira bem lúdica, o cavaleiro é guiado na sua jornada, pelo pombo Rebeca e o Esquilo que também tem sua dose de ensinamentos e lições. Percebemos que a armadura não passa de uma fachada construída pelo cavaleiro para esconder seus medos e sentimentos. Para se livrar dela, ele terá que aprender a se amar, reconhecer suas fraquezas, derrubar as barreiras e libertar o seu “eu” verdadeiro.

É um livro bem pequeno, a linguagem é simples, por isso é fácil de ler. Mas como toda obra de autoajuda, o livro é repleto de instruções, frases de efeito, reflexões superficiais e mudanças drásticas em poucos segundos. Maçante, principalmente para os mais céticos.

Mas acredito que a obra deve tocar as pessoas que se identificam com os problemas e desafios enfrentados pelo cavaleiro, veem nele um exemplo de superação e inspiração para mudar as próprias vidas. Uma leitura aleatória não fará sentido, se não houver essa empatia.

Se há essa identificação com as histórias contadas nos livros, se as pessoas aprendem com as experiências narradas e são capazes de mudar a partir disto, logo a autoajuda cumpre muito bem o seu papel de cura. Caso contrário, será alvo de todas as críticas possíveis. 

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2 comentários

Jonas Tarosso 23 de abril de 2021 - 11:45

Seria mesmo um livro de reflexões superficiais? Como um livro que indica que para adquirir autoconhecimento é necessário ter auxílio de outras pessoas, para encontrar-se consigo mesmo, pode ser reduzido a autoajuda? Acho que a nobre crítica literária poderia não apenas ler, mas buscar aplicar aquilo que se reflete, a não ser que também possua suas armaduras e não queira se livrar delas.
Reflexões e aplicações profundas ocorrem com alto poder de simplicidade em detrimento de uma complexidade vazia e cheia de preconceitos. Triste ver como a cultura acadêmica tem produzido mentes gigantes e corações vazios, pois a teoria exala à ausência de prática.
Espero que faça uma jornada parecida com esse cavalheiro em questão. Não deprecie a obra, tampouco o gênero apenas por não reconhecer que precisa tanto disso quanto velozmente critica. Torço e oro por um desfecho mais feliz de sua trajetória, a menos que o ego armado seja um empecilho.
Uma última observação: o gênero, do psiquiatra Augusto, Cury é ciência aplicada e não autoajuda. Sugiro pesquisar sobre a diferença. Você tem talento e é nítido em todo seu texto, Seu poder de síntese é alto. Cuidado, no entanto, ao baixo fundamento nas análises, pois podem estar permeadas de superficialidade.

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Dimas Rioz 3 de março de 2023 - 01:45

Jonas foi certeiro… esse livro é muito profundo. Altamente recomendável a leitura.
Muito bom para presentear aqueles que amamos.

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