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[Resenha] Correndo Descalça – Amy Harmon

por Elis Rouse
8 minutos de leitura

Correndo descalça – Amy Harmon

Sempre disse que não tenho um autor (a) preferido, mas Amy Harmon ganhou o meu coração com os dois únicos livros publicados por aqui: Beleza Perdida e Correndo Descalça. Amém Editora Verus! 

Beleza Perdida é aquele livro perfeito, que te toca intensamente, profundamente, totalmente e todos os “mentes” em que se é possível atribuir a uma leitura e a uma história. Eu amei este livro, amei os personagens, a escrita magnífica de Harmon, as reviravoltas da história e como me tornei uma pessoa melhor após a leitura. Confira a resenha aqui.

Por este motivo, embarquei na leitura de Correndo Descalça desconfiada, achando que não seria possível superar Beleza Perdida, mas caro leitor, ledo engano. Terminei este livro tão tombada quanto o outro, amando ainda mais essa escritora que consegue te sacudir, te fazer refletir e quem sabe mudar algo que esteja muito errado em você.

Sobre a história:   

Ainda criança, Josie Jensen perdeu a mãe. Aos 9 anos ela assumiu as tarefas domésticas, e os cuidados do pai, dos irmãos e das criações da fazenda. Era praticamente invisível, ao passo que extremamente importante em casa.

Acostumada a viver sem a presença de uma figura feminina, ela se apegou a Sonja Grimaldi, uma professora de música aposentada, que ensinou a arte da música clássica no piano, dividia leituras, e sanava as principais dúvidas da menina. Josie amadurecia praticamente sozinha, sem amigos, e tentava passar despercebida onde quer que fosse.

“As roupas masculinas disfarçavam a silhueta, e eu encurvava os ombros para esconder a altura e os seios e estava sempre constrangida e desconfortável. ” (pág.27)

Josie era quieta, tranquila e muito inteligente. Sonhava em sair de Levan, a pequena cidade em que morava, e se tornar uma musicista de sucesso. Para isso ela se dedicava aos estudos da música, e também na escola, para conseguir uma bolsa em uma grande universidade. Aos 13 anos, Josie não aparenta a idade que tem, nem no físico, nem no comportamento. Ela já é uma mulher adulta e isso desperta a atenção dos colegas de classe.

Foi numa troca de lugares no ônibus escolar, após ser vítima de bullying, que Josie conhece Samuel Yates. Um garoto mestiço, filho de pai branco e mãe índia navajo, que saiu da reserva onde vivia com a mãe, para morar com a avó, concluir os estudos e entrar para o corpo dos fuzileiros navais, seguindo os passos do pai. Samuel é um garoto deslocado nos dois mundos, introspectivo, violento e revoltado, completamente diferente de Josie, que apesar de não se conformar com a sua vida, ela a segue com otimismo e perseverança.

Josie percebe a fachada de Samuel. E ele encontra, pela primeira vez na vida, a confiança e a força para superar os seus medos e vencer os obstáculos que impedem de realizar o seu sonho. Ela o transforma. E é lindo os dois lendo e ouvindo músicas juntos. Crescendo juntos e vivendo bons momentos. É inocente e cativante.

_ Você é boa nisso.

_ Em quê?

_ Em me fazer sentir especial em vez de excluído, em me fazer sentir importante.

_ Você é importante, Samuel. (Pág.111)

Com essa linda amizade começa florescer o amor, o carinho e o desejo de cuidar. Mas a diferença de idade entre eles impede Samuel de viver esse amor. Com o fim do ano escolar, ele segue em busca do seu sonho na esperança de que Josie faça o mesmo quando chegar a hora. Acontece que nem sempre a vida tem os mesmos planos que nós. E é cada tombo que ela dá na Josie, que nem toda perseverança do mundo é capaz de suportar.

“A raiva que eu sentia de Deus me distraiu da dor por um tempo. Eu já havia sofrido a minha cota! Não era justo que Ele me tirasse duas pessoas. Era a vez de outra pessoa. Eu sentia muita raiva. Mesmo quando tentava rezar pedindo força e compreensão, acabava furiosa demais para ir até o fim e desistia.” (pág.171)

Quase 10 anos depois de abandoná-la e negar viver esse amor arrebatador, Samuel volta para Levan, e se depara com uma Josie completamente diferente, numa situação de penúria. Agora é a sua vez de retribuir, e desta vez Samuel não fugirá.

Correndo descalça é um livro musical, e isso se reflete na leitura que vai fluindo ao toque da música clássica que dita os momentos especiais da Josie, que também rege os títulos dos capítulos com termos relacionados a música, como maestro, progressão, virtuose, cadência interrompida, etc.

Correndo descalça é um livro literário, porque os livros são os responsáveis pela aproximação de Josie e Samuel, e inspiram a vida dela, moldam a sua essência. O morro dos ventos uivantes é a obra que aproxima Josie de Samuel. Ele precisava fazer um relatório da obra para conseguir pontos extras na escola e a leitura em voz alta o ajuda a conseguir compreender a história. Jane Eyre era a amiga literária de Josie.

“Para mim, esse livro era como comida que conforta e eu me sentia meio rejeitada” (pág.51).

Por fim, alguns versículos da Bíblia são citados para justificar o amor e perdão e marcam a amizade deles.

“O amor verdadeiro é sofredor, é benigno. O amor não é invejoso, não trata com leviandade. Não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca interesses, não se irrita, não suspeita mal.  O amor verdadeiro não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. Coríntios, versículo l, capítulo 13.

Correndo descalça é um livro inteligente, por toda a construção acerca das lendas e costumes dos índios Navajo, dos fatos históricos que marcaram o país, das descrições da vida pacata do interior, da construção dos personagens, sentimentos e personalidade de cada um. A escrita sensível e delicada de Harmon me pegou mais uma vez, em uma história profunda e tocante, e tão real que parece ter acontecido com o meu vizinho.

Gosto desses livros gente como a gente. Gente que precisa trabalhar, pegar ônibus, lavar vasilhas, arrumar casa. Gente que sofre com dramas reais e comuns a qualquer ser humano. Por isso a identificação é imediata. Essa proximidade com os fatos faz muito sentido e reflete muito na nossa vida real. Tudo lá é muito factível e pode acontecer com qualquer um de nós.

A leitura é pra sofrer. Refletir sobre o que você tem feito da sua vida e o que pode mudar. E tem sempre algo que poderá mudar a partir da literatura.

!!Um parabéns especial a edição da Verus. A capa é linda, as páginas grossas tem aquele tom confortável de amarelo, as letras são grandes, os capítulos pequenos, contribuindo para aquele “só mais um capítulo” básico de leitura boa. A única crítica que tenho é sobre a troca de cartas, em alguns momentos as letras ficaram muito grudadas e escuras, e isso pra quem miopia é um terror, mas a intenção de diferenciar a letra foi acertada. 

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