A poesia incrível de Thaís Campolina em Eu investigo qualquer coisa sem registro
Em 2021 Thaís Campolina publicou o seu primeiro livro de poemas. Mais um desses anos em que quase todo mundo experimentou fazer alguma coisa pela primeira vez. Se contarmos apenas o intervalo entre o momento em que esses poemas foram impressos no papel, até quando eles chegaram às mãos dos primeiros leitores, muitas coisas foram oficialmente registradas.
Fotografias, textos jornalísticos, artigos científicos, documentários, diários e uma infinidade de coisas que em algum momento foram percebidas por alguém. São entre esses acontecimentos que os poemas de Thaís Campolina surgem como uma investigação do que não foi percebido no primeiro olhar ou não foi considerado importante o suficiente para ser registrado e que em alguns aspectos me rememora o que Didi-Huberman denominou como “coisas chãs”.
Assim como o filósofo francês ao visitar um museu dedicou-se a observar o que estava abaixo das primeiras coisas avistadas, Thaís Campolina, em seus poemas nos convida a considerar o trivial, a perceber nossas presenças anônimas na cidade com o olhar atento ao que é visto como desimportante.
Apesar da arquitetura, os objetos e os espaços de convívio público surgirem com intensidade nos primeiros poemas, em outras partes do livro também se destaca a curiosidade da autora pelos corpos, as histórias e os desejos dos humanos e dos bichos que ocupam esses espaços.
uma pintura descascada anuncia kaiser por centavos
dentro do bar entretanto se vende subzero por sete reais
os trinta anos que separam
a parede da ação
não diminuíram o desespero do público
nem a desvalorização da moeda
Thaís Campolina além de escritora e leitora é formada em Direito e pós-graduada em Escrita e Criação. Em seu site thais escreve, onde podemos ler textos de diversos modelos, encontrei um relato da autora sobre a experiência de publicar um livro pela primeira vez.
Entre algumas reflexões sobre o alcance intangível que seus poemas podem ter no mundo virtual e outras suposições sobre os lugares em que o livro físico possivelmente chegará a poeta pede que ao lermos seus poemas deixemos para falar sobre o que não gostamos quando ela não estiver olhando, mas que não deixemos de contar sobre os lugares que estivemos enquanto folheamos as páginas do seu livro.
Então, pensando que um dia esse texto chegará à autora, eu conto: li os poemas de Thaís aos poucos, mas sempre pela manhã enquanto tomava meu café diário dentro de uma casa onde vivo apenas em companhia de uma cadela. Esse espaço onde passo grande parte da semana não está entre os mais importantes da cidade, nem ao menos recebeu um registro oficial até hoje, mas eu aceitei o convite e agora também sou uma investigadora do banal.
só fui aprender a diferença entre cozer e coser nas aulas de português
as que vieram antes de mim conheceram pelas próprias mãos
que realizaram tamanha contradição
O livro Eu investigo qualquer coisa sem registro faz parte do projeto Poesia Incrível da Crivo Editorial e foi selecionado para publicação em 2021 junto com o livro espelho umbigo capim, de Malu Grossi Maia. A publicação foi realizada a partir de recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte e sua distribuição é gratuita. Para conhecer os centros culturais onde os exemplares estão disponíveis visite o perfil da editora no Instagram. E para conhecer mais sobre o trabalho de Thaís Campolina visite o site da autora.
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