A adaptação do livro 365 DNI é o filme mais assistido da semana na Netflix Brasil
Desde o anúncio da adaptação da obra literária da escritora polonesa Blanka Lipińska, 365 DNI está em alta nas redes sociais e provocando debates fervorosos.
A história faz parte de uma trilogia polêmica que, embora ainda não tenha sido publicada no Brasil, é facilmente encontrada em formato PDF para download. Uma rápida busca na rede social SKOOB percebemos que a trilogia está no topo da procura pelos leitores.
É no SKOOB que também se evidencia as diversas opiniões sobre a história. A nota dos leitores varia em média 3.3 de um total de 5. Há os leitores que amaram, aqueles que detestaram fortemente e também os indiferentes, que saíram da leitura inabaláveis.
Mas há um consenso: a narrativa classificada como Dark Love é preciso ser lida com cuidado e com consciência emocional já que aborda temas fortes como violência, abuso físico e emocional, drogas e tudo o que envolve o ambiente de máfia do personagem principal, não podendo ser diferente. Além de trazer sexo explícito, portanto, classificada para maiores de 18 anos tanto o livro quanto o filme.
A adaptação estreou em 7 de fevereiro na Netflix Polônia e nos cinemas de lá, mas só chegou ao Brasil na última segunda-feira (8/6). Desde então, o filme segue firme no primeiro lugar do TOP 10 mais assistidos da plataforma. E a hashtag com o nome do filme tem figurado nos trends topics, fazendo mais gente assistir e contribuindo para a sua popularização.
A narrativa:
Massimo é um mafioso italiano e, como tal, comete suas atrocidades. É um criminoso violento e impiedoso – inclusive com a família, porém, obcecado por uma mulher que viu pouco antes do assassinato de seu pai.
Após o acontecimento, Massimo a procura por todos os cantos. Sua obsessão não é segredo para ninguém, até mesmo das mulheres com quem se relaciona pois, em sua casa, há um quadro imenso com a pintura da desconhecida.
Sua busca tem fim quando ele a vê saindo de um aeroporto na Itália. Mas, ao invés de tentar seduzi-la, Massimo simplesmente a sequestra, sem conhecê-la ou sem saber nada da sua vida, da sua personalidade ou gostos… Ele lhe dá 365 dias para que ela se apaixone por ele e, se isso não acontecer, ele a libertará. Mas gente, ela foi se-ques-tra-da! é a expressão que martela em sua mente o tempo todo.
Laura é uma mulher de 29 anos, que assim como qualquer outra precisa se posicionar no trabalho e em casa. É uma mulher que, apesar de morar junto com o namorado, tem como companhia mais fiel o vibrador. Ela é linda, nada inocente, ousada, que quer e merece mais, menos ser sequestrada… Pelo amor!!!
A história inteira é absurda e surreal. A começar pelo sequestro, a passividade da moça e a estereótipo do namorado dela, a verdadeira personificação de bananão, que nega atenção e até mesmo sexo a ela mas, pasmem, tem uma amante. A comparação entre ele e o mafioso gato é inevitável.
Meu lado racional diz que nem era preciso sequestrá-la, bastasse aparecer na cena inicial da piscina, no dia do aniversário de Laura, socar o namorado e salvar a mocinha do ostracismo. Mas essa não é a proposta da história. Nada de água com açúcar ou redenção. Afinal, Massino é um mafioso e, por isso, está acostumado a tomar tudo o que quer – ele bem gosta de lembrar isso.
A adaptação não mostra a aflição de Laura ao se ver nessa situação, pelo contrário, ela o confronta, uma, duas vezes e sempre acaba em flerte e provocação sexual já que Massimo avisa que não vai tocá-la se ela não pedir. E nem precisa pedir, na verdade…. Toda hora a tensão sexual exige agarrões, pegadas bruscas e a sedução corre solta beirando a chateação.
Muito flerte, provocações, duas pessoas jovens e extremamente bonitas e gostosas criam o clima ideal para o erotismo, mas sem amolecer o coração do mafioso como se espera de um romance, contudo, mudando completamente seu dia a dia só com a presença de Laura em sua vida,
Laura é o bem mais precioso de Massimo e, consequentemente, alvo de seus rivais. Isso já é a pegada da continuação da série e dos demais filmes porque, a história tem continuação. Mais um sequestro à vista.
Mas gente, ela foi sequestrada!
Sim! E esse é o principal alvo de todas as polêmicas e das diversas interpretações e questionamentos. O ponto chave para mim é: Laura é sequestrada e ninguém vai atrás, ninguém procura por ela, ninguém chama a polícia, faz um cartaz ou um post no Facebook contrastando com a realidade afetiva em que vivemos. Mas isso é só mais uma das inúmeras observações lúcidas que se faz sobre essa história louca. Meu lado racional também reflete sobre a questão dos estereótipos e da troca de papéis, e se o marido é o ator gato e o mafioso sequestrador é exatamente a figura do namorado?
Enfim… Enquanto ninguém se importa, Laura tenta sem muito empenho ou sucesso se livrar do cárcere e do cara gostoso, que pode dar a ela o prazer e a aventura que não tem, mas em troca de sua liberdade.
Mas, quanto vale a sua liberdade? Porque traumatizada ou não, quando tem a chance de fugir não o faz, tem acesso ao seu laptop e celular, liga para a mãe, fala que está tudo bem e se joga na aventura ao lado de um criminoso. No segundo dia de cárcere sai para fazer compras, em uma cena clássica com muitos vendedores, muitas caixas de compras. Talvez a adaptação não mostre com clareza e riqueza de detalhes sobre esse momento, por isso, essa dubiedade acerca da decisão de Laura. Embora saibamos que o medo diante de situações traumáticas pode paralisar qualquer ser humano, e aqui entra a discussão sobre a Síndrome de Estocolmo, que é quando a vítima começa a ter empatia pelo seu agressor.
A propósito do sequestro e da vulnerabilidade feminina, há uma tentativa fraca de abordar o assunto em alguns momentos. A primeira cena é exatamente a discussão em relação ao tráfico de mulheres, algumas delas com idade entre 12 anos. Mesmo a família de Massimo se negando a participar do esquema, classificando os criminosos como bons parceiros de negócio, não fizeram nada para ajudar tais mulheres. Em outro momento, Massimo mata um parente por participar em um esquema parecido. Se foi uma tentativa do roteiro de afastar as duas vertentes, não surtiu muito efeito, pois o próprio Massimo sequestra uma mulher, então, qual a diferença?
Ao se entregar à paixão de Massimo, Laura experimenta algo muito além do que o seu humilde vibrador pode proporcionar. E o sexo com censura mínima também é o ponto alto da trama, principalmente foco das justificativas para a ausência de reflexões mais aprofundadas acerca do relacionamento abusivo. Isto é, quem gostou da história está agora mesmo sonhando em ser sequestrada pelo bonitão italiano, de preferência pelo ator Michele Morrone, que não é brilhante em sua interpretação, mas cuja sedução de seu personagem extrapola a história. Assim como a atriz polonesa Anna Maria Sieklucka, que é linda e muito sedutora.
Com pegadas para lá de sexy, a química do casal e a trilha sonora são os pontos positivos. Destaque para o foco na nudez masculina, disponível para apreciação sem moderação, quebrando o padrão de normalização da nudez feminina das produções cinematográficas.
De uma forma geral, o filme é raso, com umas cenas toscas e sem lógica, como as misteriosas aparições de Massimo atrás de Laura sem nenhum contexto, criando um clima de mistério para quê? Ou as divertidas compras em meio a um sequestro e ainda tem problema de saúde de Laura. O roteiro é fraco para um livro de quase 500 páginas e dois meses de história, que é o tempo em que se passa a narrativa.
A adaptação de 365 DNI é mais uma tentativa de trazer para as telas a literatura erótica, que tem um público fiel, geralmente mais velho e mais interessado em ver a personificação dos seus personagens, na fidelidade da trama literária e nas cenas de sexo descritas do livro. Talvez, por este motivo, a adaptação de Cinquenta Tons de Cinza não tenha agradado aos fãs da série.
E, sim! São fãs que mantém esse gênero em alta, desde que esse tipo de romance era vendido em bancas, com suas polêmicas e seu erotismo guardado apenas nas páginas do livro.
Quem quiser saber mais os livros veja a crítica da trilogia no Canal Lembrete Literário.
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