Rainhas do Crime (The Kitchen): Um filme sobre a máfia que vale a pena conferir
Em The Kitchen (2019) você vai encontrar todos os elementos necessários para compor um bom filme sobre a máfia, mas, ao mesmo tempo um ponto de vista totalmente novo no gênero. Para aqueles que vêm questionando o potencial da DC no cinema, esse filme pode ser um turning point.
A sinopse é a seguinte: Na Nova York dos anos 70, três chefes da máfia irlandesa em Hell’s Kitchen vão para a prisão. Diante desse acontecimento, Kathy (Melissa McCarthy), Ruby (Tiffany Haddish) e Claire (Elisabeth Moss), esposas daqueles que foram presos, ficam a mercê de Little Jackie – que oferece menos dinheiro que o necessário para quitar as contas domésticas. Nesse cenário, elas decidem tomar uma atitude e, em pouco tempo, passam a chefiar a máfia local.
Em português o longa metragem ganhou o título de Rainhas do Crime, perdendo a ambiguidade do nome original, que faz referência tanto à região nova iorquina em que se passa o filme, apelidada de Hell’s Kitchen, quanto à cozinha – espaço que durante muitos anos foi reservado às mulheres. Esse espaço de poder ocupado por mulheres não é usual nesse tipo de produção cinematográfica e o interessante é que as personagens encontram outras maneiras de lidar com os negócios, outras formas de estarem na chefia. E a nova gestão é, inclusive, mais eficiente que a masculina, na maior parte das vezes.
E se você acha que diferente quer dizer menos impiedosa e violenta, está enganado. Não estamos aqui em um contexto semelhante a Breaking Bad (um professor do ensino médio que, de repente, começa a produzir metanfetamina entrando num universo completamente desconhecido a ele), essas mulheres já não eram inocentes, afinal eram esposas de figuras importantes na máfia e tinham conhecimento disso, porém antes elas estavam apenas nos bastidores.
O filme aborda questões como violência doméstica, discriminação no mercado de trabalho (antes de assumir o crime, uma das mulheres tenta arranjar um emprego mas é desqualificada por possuir filhos pequenos), racismo, assédio, entre outros.
Ter uma diretora pode ter contribuído para a coerência e a realidade da película, que mesmo sendo um filme sobre mafiosos é também um filme sobre feminismo e experiências das mulheres – e isso não é tratado de forma rasa (como têm sido em algumas produções recentes) está em todo o filme.
The Kitchen, como é comum no gênero, faz com que simpatizemos com personagens ambíguos apesar de serem extremamente violentos. É o caso de Gabriel (Domhnall Gleeson), o cara é um assassino frio, meio psicopata, mas o adoramos porque ele trata Claire (Moss), que antes sofria violência doméstica, com respeito.
Por fim, é interessante que até a escolha do elenco reforça a ideia de um deslocamento, de que é possível ocupar um espaço que você não ocupava. Digo isso porque Tiffany e Melissa são atrizes mais conhecidas pela comédia, e, dada a oportunidade elas demonstram que não estão presas à um gênero, arrasando na atuação. Além disso, a presença de Moss (deusa) também parece escolhida a dedo, em vista de sua atuação em The Handmaid’s Tale, a imagem da atriz aparece fortemente aliada ao girl power e ao feminismo.
Um dos melhores filmes de máfia que assisti nos últimos tempos, com cenas fortes e surpreendentes, reviravoltas, e uma boa dose de catarse para mulheres ( algumas coisas dão um prazer especial, como quando Moss aponta a arma para um cara que a assedia nas ruas).
O filme estreia nos cinemas em 8 de agosto e vale a pena conferir.
A Coluna Território Livre é dedicada a análise de filmes e séries e outros entretenimentos.