O Caso Richard Jewell, a nova produção de Clint Eastwood
Baseado em fatos reais, o longa do Caso Richard Jewell, faz parte da primeira grande leva de estreias do cinema para 2020.
O Caso Richard Jewell é a nova produção do ator e diretor Clint Eastwood que com quase 90 anos continua com uma média de uma nova produção por ano. O filme narra a história do segurança Richard Jewell que, durante as Olimpíadas de Atlanta de 1996, encontrou artefatos que apontavam a presença de uma bomba no evento e alertou as autoridades sobre o caso. Entretanto, Jewell acaba se tornando o principal suspeito de ter colocado ele mesmo as bombas no local.
Veja o trailer:
Crítica:
Em 2016, Eastwood lançou Sully – o herói do rio Hudson, sobre a atuação do piloto Chesley Sullenberger que em 2009, percebendo problemas técnicos no avião que pilotava, faz um pouso forçado em pleno rio Hudson. Todos os passageiros ficaram a salvo, Chesley foi considerado um herói, e ainda assim recebeu um duro julgamento pelas agências de regulação aérea dos Estados Unidos. A similaridade entre as histórias nos mostra a intenção do diretor de contar histórias de heróis quase esquecidos.
A construção da história do filme é baseada no artigo “Pesadelo Americano: Uma balada de Richard Jewell” [American Nighmare: A ballad of Richar Jewell, em inglês] escrito pela jornalista Marie Brenner para a revista Vanity Afair quase um ano depois da divulgação de que Jewell era o suspeito número um do FBI.
Richard é brilhantemente interpretado pelo ator Paul Walter Hauser, que recebeu um prêmio de Performance Inovadora do Conselho Nacional de Críticos dos EUA [National Board of Review]. A atuação de Walter Hauser no filme nos proporciona um retrato angustiante desse momento da vida de Jewell. Antes de entender sobre o atentado, somos apresentados a ele. Com o que trabalha, em que acredita e como ele lida com as pessoas ao seu redor. É construída uma relação entre o espectador e o personagem de uma forma que é quase impossível não ficar do seu lado na discussão. Só então somos levados à história principal.
Richard Jewell estava trabalhando como segurança em um dos eventos das Olimpíadas de Atlanta quando encontrou uma mochila abandonada. Seguindo os protocolos e chamou oficiais do esquadrão anti-bombas para verificarem o objeto. Ninguém mais acreditava que o material pudesse, realmente, ser uma bomba e tratavam a suspeita de Jewell como uma paranoia de um segurança inexperiente. Estavam errados.
Richard é tratado como herói por alguns dias, até que o fato de ter sido quem localizou o objeto e alertou as autoridades ser considerado suspeito. A imprensa tem um papel importante nesse momento, divulgando de forma displicente os motivos que levaram o FBI a considera-lo o principal suspeito.
Uma característica marcante do filme é que ficamos o tempo todo apreensivos com o que pode acontecer. Primeiro, pela atuação incansável do FBI, muitas vezes caindo em atitudes também ilegais e inescrupulosas. Richard acredita piamente na atuação das forças policiais, responde às perguntas escusas dos agentes fornecendo tudo que precisam. Por outro lado, vemos que há um aproveitamento da crença de Jewell, usando sua boa vontade e sua moral para forçá-lo ao limite.
É nesse sentido que está o segundo ponto de apreensão do filme, já que Jewell, por muito tempo, não considera a possibilidade de que os policiais e agentes federais possam cometer erros ou fazer julgamentos apressados sobre seu caso. Ele tem total convicção de sua inocência e acredita que os outros enxergarão isso também.
É aqui que se torna fundamental a atuação de seu advogado, Watson Bryant, interpretado pelo excelente Sam Rockwell. É de Bryant que partem as respostas e as reações de defesa que ficamos ansiosos para ver. Quem também chama atenção é a mãe de Jewell, interpretada por Kathy Bates, indicada ao Globo de Ouro. Ela conhece o filho melhor que ninguém, defende sua inocência e é quem mais sofre com o escrutínio público que ambos acabam sofrendo.
Um outro ponto interessante no filme é poder ver como eram os protocolos de atuação dos agentes de segurança em situações de risco de atentado terrorista antes de 2001. Existem dezenas de filmes que nos mostram como o governo americano leva a sério essas ameaças e como há uma grande mudança em como isso era feito antes e depois de 2001. Poder ver como era antes desse período nos dá uma dimensão de como as coisas mudaram.
Por fim, vivendo em um momento único da história do mundo, com a existência de “pós-verdades” e fake news sendo replicadas e compartilhadas aos montes, ao conhecer a história de Richard podemos nos perguntar: o que aconteceria se esse fosse um caso recente? E se a história de Richard fosse do ano passado, como a mídia, as forças policiais e a opinião pública iriam lidar com o caso? É um bom exercício para pensarmos sobre como os embates na justiça são carregados por um peso social, sendo influenciados pelo contexto e o momento em que acontecem.
O filme estreia em 2 de janeiro. Clique e confira as salas de exibição em Belo Horizonte.
Crítica: Bruna Batista
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