O mineiro Emanoel Ferreira é o autor do mês
A coluna autor do mês é um destaque à literatura nacional, que por aqui já foi muito bem representada por diversos gêneros, como romance, suspense, literatura fantástica, infanto-juvenil, jornalismo literário e quadrinhos. Agora é a vez da poesia, com o mineiro Emanoel Ferreira, nosso primeiro autor do mês em 2020.
Nascido e criado em Belo Horizonte, Emanoel tem 27 anos e publicou seu primeiro livro em 2016, pela editora Multifoco.
A obra Já tomei uns tragos de poesia e prosa pra amaciar a tristeza traz poesias, crônicas, contos curtos e aforismos, e os textos ainda se passam nos mais diversos cenários da capital mineira, como a Praça da Liberdade, o Edifício Arcângelo Maletta, o Viaduto Santa Tereza, Savassi, e outros. Leia a resenha aqui.
Conhecido também como Mano, o autor é formado em jornalismo e, além de escritor, é locutor e observador de humanos, como se descreve: “especialmente os mais estranhos deles, esses que se descrevem na terceira pessoa”.
Emanoel conta que sempre gostou de ler e que a literatura entrou na sua vida por pura curiosidade.
“Numa toca no chão vivia um hobbit’ é o tipo de frase que me obriga a passar à segunda e terceira frases, até que o livro termine. Assim como ‘O Sr. e a Sra. Dursley, da rua dos Alfeneiros, número 4, se orgulhavam de dizer que eram perfeitamente normais, muito bem, obrigado’. É como coçar; você não para, a menos que por um esforço realmente digno de nota.”
O autor lembra ainda que a dedicação pela escrita veio mesmo em 2006, quando participou do concurso BH Em Prosa, realizado pela Secretaria Municipal de Educação. Mano produziu uma crônica que conquistou o segundo lugar e ainda ganhou um computador como prêmio.
Confira entrevista:
Como a literatura entrou na sua vida?
Sempre gostei de ler. “Numa toca no chão vivia um hobbit” é o tipo de frase que me obriga a passar à segunda e terceira frases, até que o livro termine. Assim como “O Sr. e a Sra. Dursley, da rua dos Alfeneiros, número 4, se orgulhavam de dizer que eram perfeitamente normais, muito bem, obrigado”. É como coçar; você não para, a menos que por um esforço realmente digno de nota. Então, eu diria que a literatura entrou em minha vida por causa da curiosidade.
Qual seu gênero preferido?
Esta é uma pergunta que me coloca contra a parede. Mas, escolhendo arbitrariamente… a ficção especulativa, seja de fantasia, ficção científica ou terror. É difícil fazê-la bem, mas aqueles que acertam o tom são, por isso, nada menos que extraordinários, J.R.R. Tolkien, Murilo Rubião, Isaac Asimov e Stephen King, para citar alguns.
Mas faço uma necessária menção honrosa à literatura policial, à poesia, à crônica… Exatamente os gêneros em que costumo escrever. Espero que Rubem Fonseca, Ferreira Goulart, Drummond e Nelson Rodrigues possam me perdoar por tê-los deixado em segundo plano aqui.
Qual livro marcou sua vida?
Outra pergunta indecorosa de se fazer. Bom, isso eu deixo para o meu advogado resolver… Mas lá vai minha resposta: Sobre a Escrita, do Stephen King.
Diferente dos seus clássicos Carrie, A Estranha, À espera de um milagre, O Cemitério, A Torre Negra ou It: A Coisa, este não é um livro de ficção. Aqui, King traz um verdadeiro manual para jovens escritores, mesclado a uma espécie de autobiografia. Simples e indispensável.
Qual a sua principal marca, o que não pode faltar nas suas poesias, contos?
A cidade de Belo Horizonte. Qualquer coisa que eu escreva se passa em BH. Meu livro de estreia, Já tomei uns tragos de poesia e prosa pra amaciar a tristeza já trouxe essa tônica. Esta é uma cidade que pode ser tanto mágica, quanto trágica ou misteriosa. Depende do que eu quero contar.
Como você busca inspiração, existe algum processo especial?
Eu entendi que a inspiração se busca trabalhando. Abrir o word e forçar-se a escrever é a minha fórmula especial para a inspiração. Ela invariavelmente virá.
De onde vem sua criatividade para os contos e poesias? Viveu algumas dessas histórias ou conhece quem viveu?
Vivi muitas das coisas que escrevo, mas sou um aumentador, que é um neologismo para mentiroso; a vida é só uma matéria prima disforme, é preciso modelá-la. Outras muitas coisas são mentira pura e simples. A literatura é a mãe da mentira, mas quem leva a fama é o superestimado pai, o que é lamentável. E aí fica impossível não citar Fernando Pessoa: “O poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente”.
O que os leitores vão encontrar nos seus trabalhos?
No meu primeiro livro, crônicas e poemas sobre álcool e coração, além de um pouco de filosofia.
Quais temas você mais gosta de abordar nos seus textos?
Conflitos, ansiedades, términos de relacionamento e tudo o que nos resume como pessoas.
Qual livro você indicaria para quem nunca leu por prazer?
Difícil dizer, porque o prazer é individual. Mas imaginando aqui uma pessoa que tenha gostos muito parecidos com os meus… Mas que não seja jovem demais… Força Estranha, de Nelson Rodrigues. Um livro repleto de contos saborosos, tão cariocas quanto possível, marcados com sexo, drama, e alguns pormenores sobrenaturais.
Ou, para alguém afeito à uma literatura mais delicada: Antes do Baile Verde, de Lygia Fagundes Telles. Aqui a Lygia traz contos lindos, tanto pelo que é narrado, quanto pela forma de narrar. Uma autora fantástica, a Lygia.
Ser escritor no Brasil hoje significa…
Significa sentar e escrever. De fato, ser escritor num país em que 44% das pessoas não têm hábito de leitura significa que viver da venda de livros é dramaticamente improvável. Mas viver da venda de livros e ser escritor são coisas diferentes. Então, escritor brasileiro, seja escritor: sente-se e escreva. Isso fará com que suas chances de viver da venda de livros deixe de ser dramaticamente improvável e passe a ser apenas improvável. Não é um avanço?
Tem alguma poesia ou conto favorito?
De minha autoria? Não. Mas gosto de Confissões, o poema de onde saiu o título do meu livro de estreia.
O que teremos do Emanoel para o futuro? Quais projetos?
Tenho um livro pronto e outros dois em andamento. O que está pronto é um livro de poemas e segue guardado, para ser publicado no momento certo; enrolei-o no jornal, como fazem as avós com as frutas que querem ver amadurecer. Já os dois em que tenho trabalhado são, respectivamente, um livro de contos de realismo mágico e um romance.
::Ping-Pong::
- Ler é… Enriquecer
- Escrever é… Artesanato
- Quem é seu autor (a) favorito? Meu advogado vai mesmo procurar por vocês.
- Cite um livro que te marcou: Se antes citei Sobre a Escrita, agora aproveito para citar Cemitério, do Stephen King.
- Qual livro você mais releu? Sem sombra de dúvidas, os três da saga O Senhor dos Anéis.
- Nem li, nem lerei: Besteira. Mas a minha lista de Li e não relerei é extensa.
- Um sonho literário: Alcançar uma base sólida de leitores que regularmente consumam a minha produção. O maior prazer possível a quem escreve é ser lido.
- Seu personagem favorito: Samwise Gamgee, o fiel escudeiro do protagonista Frodo Bolsoneiro, na trilogia O Senhor dos Anéis. Um verdadeiro amigo é o herói mais provável que uma pessoa pode ter. Aliás, esta saga de J.R.R. Tolkien é extremamente filosófica, repleta de reflexões valiosas.
- Uma frase que te inspira: “O feito é melhor que o perfeito”. Desconheço sua autoria.
- Se pudesse escolher apenas um argumento para as pessoas lerem mais, qual seria? Ler mais. O melhor argumento para qualquer coisa é o exemplo. Se você lê muito, as pessoas ao seu redor vão convencer-se do prazer da leitura com facilidade incrivelmente maior do que se você tentar evangelizá-las para a Igreja dos Leitores Vorazes. Não faça isso, especialmente com jovens.
Conheça mais sobre Emanoel Ferreira, além de outros textos de sua autoria aqui.
Veja aqui os autores dos meses anteriores.
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