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Cacheada “Antes dos 30”

por Afia Alvim
4 minutos de leitura

 

Cacheada “Antes dos 30”

Sabe aquela época que surgiu várias formas de alisamentos? Fiquei doida para fazer todas. Mas passei por ela ilesa. Não porque quis, óbvio, mas porque me obrigaram. Era adolescente e minha mãe não deixou eu alisar meus cabelos. Na época, ela me convenceu que meu cabelo era bonito cacheado. Não que eu acreditasse, mas aceitei. Fiquei meio revoltada. Com 16 anos, pedi uma prancha de presente para o meu pai. Ele comprou, usei e quando sai do quarto ele me disse que meu cabelo era bonito cacheado, daquela forma, não combinava comigo. Usei só 2 vezes. Com o tempo, percebi que eles tinham razão. Cabelo cacheado combina comigo.

Hoje, quando acesso os blogs de meninas cacheadas, ensinando receitinhas caseiras de hidratação e umectação, percebo que minha mãe fazia todas no meu cabelo, ainda nos anos 90. Óleo de amêndoas, abacate, babosa, experimentei tudo isso na infância e, odiava.

Os anos foram passando e, com o tempo, aprendi a cuidar do meu cabelo. Com o tempo, as marcas de cosméticos aprenderam que eu também precisava cuidar do meu cabelo. Quando eu era criança, encontrava apenas dois tipos de cremes que davam certo. Os produtos não eram destinados para cabelos cacheados, mas, davam certo. Na adolescência, eu usava aqueles potes de 1Kg, se você é cacheada, vai entender o que eu estou falando. Eram potes de creme de tratamento, mas eu usava para finalização mesmo. Me virava como podia.

Quando eu entro nas lojas de cosméticos hoje, sinto uma satisfação fora do comum. Fico feliz em encontrar uma sessão só para cabelos cacheados. Finalmente nos notaram. Posso escolher um creme de finalização por textura, cheiro e pela cor, por exemplo. Sinto que se eu tiver uma filha cacheada, ela não vai passar pela situação que eu passei, de não ser notada pelas grandes marcas. Quando eu ligo a televisão e vejo que a Miss Brasil é uma negra cacheada, sinto a mesma satisfação. Cresci assistindo o concurso, e nunca tinha visto uma negra ganhar o concurso (Deise Nunes ganhou em 86, nasci depois disso). Ainda precisamos evoluir? Precisamos.

Quando vou ao salão, preciso procurar por um especialista em cabelos cacheados. Em um país que 53,6 % da população se declaram negros (segundo o IBGE), ainda preciso penar para encontrar um cabeleireiro que saiba cortar o meu cabelo crespo/cacheado. Isso deveria ser comum, não uma especialidade.

Hoje me sinto bem cacheada? Claro. Mas, veja bem, quando falo sobre me sentir bem cacheada, não quer dizer que você tem que assumir seus cachos e que você precisa ser cacheada também. Essa é a minha experiência. Você precisa fazer o que te faz sentir bem. Use o seu cabelo da forma que te faz livre e bonita. Você gosta do seu cabelo alisado? Use. Gosta do seu cabelo curto? Use. Quer cacheado? Use. Mas faça porque você quer, não porque a sociedade, ou qualquer pessoa te convenceu a fazer, baseado em um padrão. Certo?

No meu caso, eu gosto é de volume.

Gostou da coluna “Antes dos 30“? Se você já passou dos 30, não se preocupe, temos um espacinho pra você também. Confira: “Depois dos 30“.

A coluna Antes dos 30 é publicada aqui aos sábados, quinzenalmente. As opiniões e fatos não refletem, necessariamente, a opinião de todas as pessoas que estão perto de completar 30 anos.
Entre em contato com a colunista pelo e-mail afia@literalmenteuai.com.br

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