Percepções de uma mulher às vésperas dos 30.
Há alguns meses, fui a um prédio comercial no Centro de BH, porque precisava encontrar uma camisa, com uma estampa específica. Fiquei sabendo que poderia encontrar nesse prédio. Não achei a camisa, sai da loja e esperei o elevador ao lado de um homem. Quando o elevador chegou, para minha surpresa, ele estava totalmente vazio. Entrei no elevador junto com ele, apertei a saída e esperei. Entrou mais duas pessoas, depois de 3 andares percorridos. Nesse momento, olhei para as minhas mãos e assustei, eu estava apertando forte a alça da minha bolsa, sem nem perceber. Nesse pouco tempo e nessa situação rotineira, de pegar um elevador, eu senti medo.
Talvez o cara nem tenha percebido, pode ter sido uma coisa normal para ele, pegar o elevador sozinho com uma mulher. Mas eu, na minha posição, senti medo do que poderia ter acontecido, naquela pequena fração de tempo. Tenho várias experiências de medo, nesse sentido, e se você é mulher também já deve ter passado por situações assim. Voltar tarde da faculdade, descer do ônibus e sair correndo para chegar rápido em casa. Deixar de ir a uma festa por causa do horário, porque não vai ter uma companhia para voltar. Entrar em algum banheiro e usar bem rápido por medo, não sei de quê. Aquele medo doido quando o motorista do ônibus resolve apagar a luz. São medos que podem ser considerados bobos? São medos pequenos, mas que são rotinas na vida de uma mulher.
Diante da violência no Brasil e das políticas públicas cada vez mais excludentes para nós, tenho medo do que pode me acontecer na rua. O que pode acontecer com minhas amigas, minha família e por aí vai. Não é fácil ser mulher em um país como o Brasil. Não é fácil ser mulher e ser governada por representantes como os do Brasil. É triste, mas é a realidade. E não é só a realidade de uma mulher antes dos 30, mas, é a dura realidade de uma mulher antes dos 15, antes dos 20, depois dos 30, 40, 50. Todas sofremos do mesmo mal.
Você acha que a rede de proteção e as políticas públicas de combate à violência contra mulher estão funcionando? Basta acompanhar os jornais ou conversar com as pessoas nas ruas, que você vai perceber que não. E a prevenção da violência contra a mulher? Você acredita que temos políticas públicas de prevenção ou essas políticas são mais voltadas à punição? Você acredita que existe punição para os casos de violência contra a mulher? Mulheres continuam sofrendo violência, continuam morrendo porque muitas vezes isso é naturalizado. Precisamos de um debate maduro sobre isso. E enquanto isso não acontece, ficamos com medo de pegar um simples elevador.
Gostou da coluna “Antes dos 30“? Se você já passou dos 30, não se preocupe, temos um espacinho pra você também. Confira: “Depois dos 30“.