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Maus: da proibição ao recorde de vendas

por Elis Rouse
5 minutos de leitura

Maus: da proibição ao recorde de vendas

A primeira publicação de Maus é datada de 1980. A história, contada em quadrinhos, retrata as memórias mais terríveis de um sobrevivente do holocausto e os reflexos dessa cruel experiência em sua vida atual.

A obra multipremiada é de um cartunista norte-americano, Art Spiegelman, que revela detalhes da vida do seu pai, sem poupar o leitor dos horrores vividos por ele e da relação conflituosa entre os dois. 

Contudo, o autor opta por retratar os personagens como animais, destacando os judeus como ratos, enquanto os nazistas aparecem como gatos. Há ainda uma distinção entre outros personagens da trama, retratados como porcos, sapos, coelhos, cervos e cachorros.  

Maus é simplesmente a única HQ da história a ganhar o Prêmio Pulitzer, um dos mais renomados do segmento. Faz parte da lista de leituras nas escolas americanas e uma das referências quando o assunto é o holocausto.

Mais de 30 anos depois, Maus é alvo de polêmica. A leitura da obra para alunos na faixa dos 13 e 14 anos foi proibida no condado de McMinn, do estado de Tennessee, nos EUA, sob alegação de conter nudez e palavrões. Entenda o caso!

Contudo, a polêmica fez com que a procura pela obra crescesse, chegando à liderança das listas de mais vendidos pela Amazon, com três edições diferentes, alcançando leitores em todo o mundo, muitos como eu, que nunca tinha ouvido falar da obra. É aquela história: o que é proibido acaba despertando o interesse.  

Afinal, como é a leitura de Maus? 

Li Maus em menos de três horas. É o tipo de história que prende e pode até despertar gatilhos, sobretudo no momento em que vivemos, em que acompanhamos várias guerras pelo mundo e o sofrimento de milhões de pessoas em tempo real. Saber que o que se está lendo está acontecendo no momento com pessoas inocentes é devastador.

Tudo o que Vladek conquistou foi brutalmente tomado pelos nazistas, seus bens, seus pais,  seu filho mais velho, e mesmo depois do fim da guerra, as memórias levaram sua esposa. Violência, abuso, morte e humilhação são alguns dos temas pautados na história. 

Para além da ilustração dos personagens, o autor foca e choca com os desenhos minuciosos, como quando apresenta um esquema com medidas do porão em que a família viveu. É uma visão bem diferente, porque a família do personagem resistiu bravamente à caçada nazista, com fugas engenhosas e corajosas.

A narração de Vladek é rica em detalhes e traz passagens e situações que passaram despercebidas em outras obras da mesma época, como o uso de latas de lixo como esconderijo, o suborno de comandantes nazistas e como judeus serviram ao exercito nazista ajudando a caçar seus semelhantes. Algumas passagens são muito impactantes (como tudo o que envolve os horrores do holocausto) e aquele embrulho no estômago é inevitável. O leitor acessa uma enxurrada de informações direto da fonte, de quem esteve lá e sobreviveu.

É uma leitura que incomoda em muitos sentidos. Ver como o nazismo, que dizimou milhões de pessoas, segue, mesmo nos dias de hoje, conquistando adeptos em todo o mundo. Ver como os efeitos de uma guerra perduram por anos entre os sobreviventes e como afeta aqueles que estão ao seu redor.

Maus, sem sombra de dúvidas, é uma leitura que precisa ser feita, é uma obra que precisa ser conhecida e lida. Além de louvar o talento do cartunista Art Spiegelman, não podemos nos esquecer do que a intolerância é capaz.

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