Início > Em nome de Deus detalha os bastidores da investigação jornalística do maior caso de abuso sexual do Brasil

Em nome de Deus detalha os bastidores da investigação jornalística do maior caso de abuso sexual do Brasil

por Redação LiteralmenteUAI
5 minutos de leitura

Documentário Em nome de Deus detalha os bastidores da investigação jornalística do maior caso de abuso sexual do Brasil

A principal estreia da Globoplay em junho, sem dúvida, é o documentário Em nome de Deus revelando os bastidores da investigação jornalística que expôs o maior caso de abuso sexual do Brasil.

O caso envolveu mais de 500 vítimas e uma das personalidades mais emblemáticas do país até em então, o médium João de Deus. A obra cumpre uma das principais premissas do jornalismo, isto é, dar voz a quem não tem.

Quantas atrocidades já foram cometidas em nome de Deus?

Quem poderia imaginar? Quem poderia acreditar? Quem poderia denunciar? O caso João de Deus ganhou repercussão mundial em 2018, momento em que o programa de entrevistas Conversa com Bial deu voz às primeiras mulheres que acusavam o médium João de Deus de estupro e assédio sexual.

A revelação chocou os milhares de seguidores do médium e, principalmente, para além dos seguidores da Casa Dom Inácio de Loyola em Abadiânia. É que João de Deus era um queridinho da alta sociedade brasileira, incluindo celebridades nacionais e internacionais, políticos e personalidades com grande notoriedade como ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e ex-presidentes da República. Um homem conhecido pelas curas milagrosas – realizadas sempre em nome de Deus.

A princípio apenas duas vítimas estrangeiras se dispuseram a mostrar a cara e denunciar João de Deus, mal sabiam elas que essa ação abriria espaço para centenas de denúncias posteriores, feitas por mulheres de diferentes faixa etárias e nacionalidades, que foram vítimas dele em épocas diferentes.

A importância do jornalismo investigativo

Em tempos de #exposed, em que mulheres vêm a público nas redes sociais relatar casos de abusos sofridos, as atrocidades cometidas por João de Deus foram reveladas ao mundo por meio da investigação jornalística para o programa televisivo tendo durado meses e dando voz e amparo às vítimas – mulheres desacreditadas até mesmo pela justiça, com registros de antigos boletim de ocorrências e julgamentos que inocentaram o médium.

A série traça um panorama da vida do médium desde a infância, com depoimentos de amigos e familiares e imagens reais extraídas de filmes e documentários, contrapondo com a denúncia das vítimas. As falas são tocantes e chegam a chocar o telespectador com tamanho sofrimento sendo que alguns casos são de mulheres que guardaram o segredo de abuso por mais de 20 anos. Durante a exibição dos curtos episódios, quando você pensa que não tem como ficar pior, vem mais uma atrocidade que chova e literalmente mexe com as nossas emoções, podendo despertar gatilhos emocionais.

O documentário traz ainda entrevistas de personalidades íntimas de João de Deus, por exemplo, a Xuxa, que seguiam o médium e chegaram até a fazer propaganda para ele.

A investigação jornalística vai fundo na rotina em Abadiânia apresentando a trajetória de João de Deus da sua ascensão até a condenação pela justiça brasileira, e os efeitos da pandemia no cumprimento da pena. São revelados importantes aspectos da cultura brasileira e sua herança, que contribuíram para que os crimes do médium ficassem escondidos por tanto tempo. As dinâmicas de poder, a influência política e os resquícios do coronelismo são facilmente percebidas.

Já o machismo estrutural é detectado à medida que a vítima é desacreditada ao denunciar qualquer tipo de abuso recebendo represálias do tipo “oportunista”, “interessada em fama ou dinheiro”. A certeza da impunidade, a camaradagem e o conhecido jeitinho brasileiro enraizado desde à época do Império ocultaram as atrocidades do médium, que incluem assassinatos, ameaças e corrupção. A série revela o preço da injustiça na vida de uma vítima, incluindo a própria filha de João de Deus, que luta sozinha contra toda uma estrutura de opressão.

É impossível realizar qualquer julgamento em relação às vítimas, em sua maioria já fragilizadas por doenças e tragédias familiares, que foram a Abadiânia em busca de milagres e saíram com traumas profundos, acuadas pelo medo do homem poderoso, da conexão espiritual que ele representava, das represálias espirituais e da facilidade em serem desacreditadas.

A estreia do documentário na Globo repercutiu nas redes sociais. Conduzido por Pedro Bial e a jornalista Camila Appel, Em nome de Deus tem direção de Monica Almeida, Gian Carlo Bellotti e Ricardo Calil.

São 6 episódios repletos de detalhes com entrevistas que são verdadeiros socos no estômago, mas, extremamente necessários sobretudo para que a sociedade reflita a importância de dar voz e ouvir às vítimas de qualquer tipo de abuso.

Falamos de livros, séries, filmes e outras críticas. Clique aqui para continuar lendo. 

Artigos relacionados

Deixe um comentário

* Ao utilizar este formulário você concorda com o armazenamento e tratamento dos seus dados por este site.

Usamos cookies em nosso site para fornecer a experiência mais relevante, lembrando suas preferências e visitas repetidas. Ao clicar em “Aceitar”, você concorda com o uso de TODOS os cookies. Para informações de como tratamos seus dados pessoais, clique em "Ler Mais". Aceitar Ler Mais