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Resenha | O Colecionador – John Fowles

por Herlane Meira
5 minutos de leitura

Resenha | O Colecionador – John Fowles

O Colecionador é um clássico do suspense/terror psicológico. O romance foi publicado pela primeira vez em 1963 e é a obra de estreia do escritor inglês John Fowles.

Desde seu lançamento, o livro se tornou best-seller em vários países do mundo, inclusive no Brasil, onde ficou esgotado por anos. Além disso, serviu de inspiração para autores como Stephen King e Thomas Harris.

O Colecionador conta a história de Frederick Clegg, um jovem solitário que vive com sua tia e sua prima, mas nunca conseguiu se relacionar muito bem com outras pessoas. Como uma forma de escapar da solidão, ele coleciona borboletas, prática que aprendeu ainda criança, quando ia pescar com o tio.

Clegg trabalha no Anexo da Câmara Municipal de sua cidade, onde ele começou a observar Miranda Grey, uma jovem e bela estudante de artes que morava em frente ao prédio em que trabalhava. Apesar de desenvolver essa obsessão pela garota, ele sempre mantinha uma distância: observava da janela, seguia ou buscava informações sobre ela, mas nunca interagia.

As coisas mudam para o jovem quando ele ganha uma fortuna em apostas de jogo. Ele decide, então, usar o dinheiro para fazer um plano e, assim, conseguir conquistar a garota de seus sonhos. Clegg imagina que não conseguiria chamar a atenção de Miranda por meios convencionais, então ele decide sequestrá-la e mantê-la em cativeiro para que ela possa conhecê-lo melhor e, consequentemente, se apaixonar por ele.

“Não sei por que, mas da primeira vez que a vi, fiquei logo sabendo que ela era a única. Não estou louco, claro, visto que sabia ser apenas um sonho, que o teria sido sempre, se não fosse o dinheiro. Costumava sonhar acordado a seu respeito, inventando histórias nas quais eu a encontrava, em que fazia coisas que ela admirava, em que me casava com ela, e tudo o mais. Nunca senti quaisquer desejos inconfessáveis; isso só aconteceu mais tarde, conforme explicarei.” (pág. 6)

Narrado em primeira pessoa e de uma maneira ágil e sem muita enrolação, conhecemos na primeira parte do livro a mente de Frederick Clegg, um jovem adulto sem muitas habilidades sociais e que acredita estar certo sobre o crime que está cometendo.

Na segunda parte do livro, temos a narrativa de Miranda, que repentinamente se vê em um cativeiro com um homem que diz que a sequestrou para que ela pudesse conhecê-lo melhor. Percebendo a situação, aos poucos ela vai tentando entender melhor a mente de seu sequestrador para encontrar alguma forma de se libertar. Ela passa a refletir não apenas sobre a prisão, mas também sobre Clegg, sua vida até ali e a sociedade como um todo.

Os conflitos de Miranda se revelam através de um diário. Sua leitura nos mostra a confusão de sentimentos e emoções de quem se vê privado da liberdade e nas mãos de um louco que a idolatra. Seu sofrimento não é o da agressão física, mas do emocional, do psicológico.

Outra característica forte da narrativa da jovem é a sua constante oscilação de humor, o que influencia diretamente nossas opiniões a seu respeito. Ao longo da leitura, apesar de vítima, ela se revela uma garota bastante arrogante e mimada. Algumas de suas observações soam superiores, num nível de divisão de classes e intelecto. Embora esteja nas mãos de Clegg, ela também o despreza por ele não apreciar a literatura, as artes, a cultura em geral.

Esse, aliás, é o aspecto mais brilhante no livro. A forma como John Fowles consegue trabalhar os personagens é simplesmente genial e, à medida que a história se desenvolve, nossa relação com eles se intensifica, não necessariamente simpatizamos totalmente com Miranda, mas passamos a conhecê-la melhor e desejar que de alguma forma as coisas terminem bem para ela.

O Colecionador certamente vai frustrar as expectativas de quem espera uma história cheia de ação ou de quem confundiu a obra como sendo de terror. Há horror assim, mas daquele que mexe com nossa mente, que dispensa recursos sobrenaturais porque tem nas atitudes humanas sua pior parte, e é assim que o autor nos surpreende. A obra se torna angustiante por ser o relato de um sequestro, e também por toda habilidade com que o autor construiu cada detalhe do livro, nos permitindo penetrar no mais íntimo de cada protagonista.

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