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O Meu Pé de Laranja Lima – José Mauro de Vasconcelos

por Elis Rouse
8 minutos de leitura

O Meu Pé de Laranja Lima – José Mauro de Vasconcelos

O meu pé de laranja lima é um livro para quebrar os preconceitos contra os clássicos da literatura nacional. Parece uma história “batida”, por conta das inúmeras adaptações para o teatro, TV e cinema. Contudo, é uma história impressionante, tocante, linda demais para ser ignorada pelos leitores.

A obra do escritor carioca José Mauro de Vasconcelos é um sucesso absoluto. Lançado em 1968, o livro já vendeu mais de 2 milhões de exemplares no mundo todo. Foi publicado em 23 países e traduzido para 15 idiomas. No Brasil já teve mais de 150 edições. É um clássico que precisa ser valorizado e reconhecido pelos leitores brasileiros.

O meu pé de laranja lima conta a história de Zezé, um menininho super inteligente, que com apenas cinco para seis anos, já sabe ler e tem uma consciência muito profunda da sua realidade. A família de Zezé é miserável, o pai está desempregado e o principal sustento da casa vem dos turnos que a mãe faz na fábrica. Falta de tudo na casa deles, e tanto Zezé, quanto o seu irmão mais velho, Totoca, precisam engraxar sapatos para ganhar uns trocadinhos.

“A pobreza lá em casa era tanta que a gente desde cedo aprendia a não gastar qualquer coisa. Tudo custava muito dinheiro. Era caro.” (pag.163)

Apesar de todo esse aperto, Zezé vive a infância em toda a sua plenitude. Ele brinca na rua, sobe nas árvores, joga bolinha de gude e troca figurinhas, e claro, faz algumas traquinagens típicas da idade. Por essas ele apanha, e muito. Toda a família descarrega suas frustrações em Zezé, justificando as constantes surras como proeza do diabo. Ora Zezé é filho do demônio, ora ele foi influenciado por ele, em alguns momentos ele é o próprio diabo.

“Porque em casa eu aprendia descobrindo sozinho e fazendo sozinho, fazia errado e fazendo errado acabava sempre tomando umas palmadas. Até bem pouco tempo ninguém me batia. Mas depois descobriram as coisas e vivem dizendo que eu era o cão, que eu era o capeta, gato ruço de mau pelo”. (pág.12)

Enquanto isso, Zezé aceita sua condição, e mergulha na sua imaginação para fugir da dura realidade. O pé de laranja lima, apelidado de “minguinho” é o principal fruto dessa imaginação fértil. Nele, Zezé viaja para terras distantes em aventuras felizes ao lado do seu fiel companheiro.

Zezé é um menino bem-intencionado, porém largado. A única pessoa que tem um pouco de paciência com ele é a sua irmã Glória (Godóia), a única fonte de amor que ele conhece, até então. A sua mãe, infelizmente não tem tempo para ele. Na escola, Zezé se comporta direitinho, é o mais inteligente da classe e o xodó da professora Dona Cecília Paim. Na rua, ele também apanha dos vizinhos e, nas brigas, para defender o seu irmão Totoca.

A violência e a pobreza são presenças constantes na vida sofrida de Zezé. Falta amor, carinho, respeito e sobretudo uma referência. No fundo ele só precisava de alguém que se importasse com ele de verdade, protegesse, educasse e orientasse quanto a vida.

É aqui que começa uma das amizades mais lindas da literatura. Apesar de o primeiro encontro entre os dois resultar em umas palmadas em Zezé, a amizade entre ele e o velho português Ladislau (Portuga) é um dos momentos mais lindos e inesperados da história. A pureza desta amizade é o que salva (literalmente) e dá sentido à vida dos dois.

“Porque você é a melhor pessoa do mundo. Ninguém judia de mim quando estou perto de você e sinto um sol de felicidade dentro do meu coração”. (pág.143)

O meu pé de laranja lima é uma das histórias mais tristes e mais singelas que já li. Eu chorei horrores em vários trechos da leitura. Sinceramente não tinha noção do que se tratava a obra e me surpreendi demais. O início é meio arrastado, porém a empatia com Zezé é imediata. Em alguns momentos você quer repreendê-lo, em outros abraçá-lo, consolá-lo, dar uma perspectiva de que as coisas vão melhorar. Zezé sofre muito, e a gente sofre junto com ele.

É uma obra autobiográfica e isso me fez admirar ainda mais o escritor José Mauro de Vasconcelos, porque tocou fundo em feridas e problemas comuns ao dia a dia do leitor brasileiro. A narração é ao mesmo tempo ingênua e impactante, capaz de imprimir uma verdade absurda, inclusive sobre a possibilidade de uma árvore consolar e dar abrigo a uma criança. Em uma história lúdica e despretensiosa, ele aborda temas seríssimos como o desemprego, alcoolismo, violência doméstica, perdas, a importância da família e da amizade.

Quero deixar um elogio a Editora Melhoramentos que caprichou nessa edição especial, com direito a capa dura e marca páginas especial. Parabéns!! 

Confira o Trailer de Meu Pé de Laranja Lima: 

https://youtu.be/GDePuLpo3Bg

Sobre o filme: A adaptação mais recente da história de José Mauro de Vasconcelos foi para os cinemas em 2012. Trazendo no elenco, José de Abreu (Portuga), o ator mirim João Guilherme Ávila (Zezé), Caco Ciocler (Zezé adulto) e Inês Peixoto (Dona Cecília Paim).

Destaque para a atuação do ator João Guilherme que, apesar de ser um pouco mais velho que o Zezé do livro, trouxe a mesma simplicidade e intensidade do personagem literário. A emoção nos olhos dele, em momentos de alegria ou tristeza, chamaram a minha atenção.  

Cena filme

A adaptação é bem fiel ao livro. Preservou os principais pontos tristes da obra literária, apesar de nos poupar das inúmeras e constantes cenas de violência. Mesmo assim é um filme emocionante, não tanto quanto o livro, mas as cenas escolhidas representaram bem a obra literária.

A magia da imaginação infantil se faz presente ao longo de toda a trama, além da espontaneidade e alegria. A poesia das cenas, a trilha sonora de ambiente rural, também foi bem explorada e acertada pela produção. Só achei que a participação do “pé de laranja lima” ficou bem pequena, afinal ele é o grande amigo imaginário do Zezé, e poderia ter aparecido mais.

Cena filme

Naquela velha rivalidade entre filme e livro, aqui, porém, temos um caso em que as obras se complementam e vale a pena prestigiá-las. O filme foi aclamado pela crítica e o livro é um best-seller da literatura nacional. O filme fez jus a toda beleza do livro. 

Livros ou suas adaptações? É sempre polêmico, né? Veja outros comparativos aqui

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10 comentários

Aline Martins de Oliveira 11 de maio de 2019 - 20:22

Ah, se tem um livro que está para sempre em meu coração é este! Eu li ainda menina, e pensa num sofrimento! Chorei de soluçar! De sentir aquela dor na alma, como Zezé sentia, e sofri meu Deus, como eu sofri, pensando, na minha inocência de criança que aquela história toda era real! Guardo essa história num canto precioso do meu coração e sei que nunca, se vivesse mil anos, irei esquecer. A simplicidade de Zezé, o amor puro e bonito que ele sente, é tudo tão lindo! Com certeza é um dos meus livros preferidos da vida inteira. Se não for O favorito, não tenho nenhum livro que consiga dividir esse posto com ele. ♥

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Ana Caroline 13 de maio de 2019 - 09:49

Olá!

Esse livro é muito falado e bem recomendado, o que me deixa vem feliz, por se tratar de um livro nacional de sucesso.
Não conhecia a história do livro, mas confesso que fiquei bastante surpreendida, ainda mais por essas cenas de violência constantes no livro.
Fiquei curiosa para realizar a leitura, irei assistir a adaptação para saber se a história irá me agradar, se sim, irei correndo pegar o livro para me apronfudar mais na história.

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Camila - Leitora Compulsiva 17 de maio de 2019 - 17:31

Nossa… que saudades que me deu agora!!
Lembro de ter lido esse livro quando ainda era criança e me diverti bastante!
Acho que nunca vi nenhuma adaptação, mas deu vontade de reler o livro!
beijos
Camis

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Luna 17 de maio de 2019 - 22:34

Eu sou louca para ler este livro, mas sempre que conseguia esbarrar nele estava custando muito caro. Tenho uma amiga que me recomenda a história desde 2010 e até hoje não li. 🙁

Já sei que vou chorar horrores com a história, pois só lendo a resenha já me emocionei com a situação de vida dessa criança. A falta de amor no lar dele, a miséria, a tristeza, a esperança que ele sente apesar de tudo e o mundo criado no imaginário para escapar da realidade cruel… tudo isso me fará chorar. Mas quero muito ler o livro! Não assistirei o filme enquanto não tiver lido!

Bjs!

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Camila de Moraes 19 de maio de 2019 - 09:27

Olá!
Tem tanto tempo que li esse livro que ao ler suas considerações fui levada para um momento bem nostálgico.
O enredo na época por ser muito jovem provavelmente não foi absorvido da forma que deveria, por isso me sinto com vontade de reler para entender mais das tristezas, pesares vividos pelos personagens.
O fato de filme e livro se complementarem mostra a grandeza e qualidade com que cuidaram da trama.

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Leitura Enigmática 22 de maio de 2019 - 23:13

Li esse livro na minha infância e confesso que toda a vez que leio uma resenha, fico bem nostálgico, bate aquela saudade. É uma obra que todos deveriam ler. Excelente dica.

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Andressa Ledesma 23 de maio de 2019 - 22:08

Eu nunca li o livro, e nem sabia sobre o filme! Agora sinto que preciso ler o quanto antes, adorei sua resenha, parece uma história bem sensível. E que capa mais fofa.
beijos

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Jéssica Melo 25 de maio de 2019 - 16:32

Olá Elis, eu não sei porque ainda não li esse livro, o enredo parece ser bem sensivel, tocante e muito bem desenvolvido, sem duvida deve mexer com o leitor *-* Espero conseguir lê-lo ainda esse ano <3 Adorei sua resenha.

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Ivinah Campos 8 de junho de 2019 - 17:43

Li este livro umas 10 vezes e chorei em todas elas. Meu filho leu recentemente e ficou arrasado também. Acho que esta e uma daquelas histórias atemporais e que sempre estarão seguras no nosso coração.
Beijos

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Beatriz Andrade 11 de junho de 2019 - 21:51

Eu ainda não li o livro e também não assisti ao filme, mas quero muito fazer os dois. Adorei ver seu ponto de vista em relação às duas artes e espero poder conhecer ambas em breve. EU acho que será uma leitura que me deixará aos prantos e quando eu for ver o filme provavelmente vou me emocionar demais também.

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