Vida Maria: A importância emancipatória da escola

aria, Maria
É o som, é a cor, é o suor
É a dose mais forte e lenta
De uma gente que ri
Quando deve chorar
E não vive, apenas aguenta”

Escolho como prefácio a música de Milton Nascimento para discutir um curta de animação também brasileiro: Vida Maria (2006), do diretor Márcio Ramos. Assista ao curta de 9 minutos, disponível no youtube: (Vai, assiste! O roteiro é genial)

Sinopse: “ A animação do diretor Márcio Ramos apresenta a vida de Maria, da infância à vida adulta, de uma menina entusiasmada pelo conhecimento à uma mulher que perpetua um estilo de vida marcado pelas adversidades do sertão brasileiro.”

O Brasil é um país marcado pela desigualdade social e o acesso à escola tem um papel paradoxal na manutenção da desigualdade: a diminuí e aumenta. Explico: conforme aponta Márcia Lima, a educação é essencial para a superação das diferenças sociais, mas, ao mesmo tempo, o próprio acesso e possibilidade de permanência dentro do sistema educacional, como se dá hoje, é uma forma de prolongamento da desigualdade.

O analfabetismo no Brasil, ainda atinge 11,5 milhões de brasileiros, segundo dados do PNE de 2015, mas, a taxa para o analfabetismo na zona rural, segundo dados do IBGE de 2011, ultrapassa o dobro desse número: 21,2%

Imagem: Cena animação

É diminuída a possibilidade de emancipação daqueles que vêm de contextos difíceis e áridos, numa espécie de circularidade da pobreza que mina o acesso à educação. No filme a própria constituição da linguagem acentua essa circularidade : os movimentos de câmera, a repetição de tarefas, a passagem do tempo, a repetição de acontecimentos.

Imagem: Cena animação

Gostaria de utilizar um exemplo pessoal, pois acredito que ele reflete essa realidade do nosso país: Meu pai é pertencente à zona rural, enquanto minha mãe é nascida na cidade capital de seu estado. Ambos vêm de família de origem humilde: a família paterna no campo e a família materna na favela. Meus avós paternos tiveram 11 filhos, meus avós maternos 4. Das 11 pessoas nascidas no campo apenas três tem ensino médio completo, enquanto todas as que nasceram na cidade completaram os estudos.

Como mostra o curta, nós tendemos a reproduzir os valores que aprendemos, existe uma narrativa de memória muito forte nos relatos sobre meu avô materno: ele tinha vergonha de ser analfabeto, e, por isso, incentivava os filhos ao estudo. Na casa do meu pai, que estudou apenas até a quarta série, não sei como isso se dava, mas tenho uma pista: Na infância, durante meus longos períodos de leitura, meu pai dizia constantemente: “fecha esse livro e vai fazer alguma coisa, menina”. Eu nunca precisei trabalhar, quando criança, e não creio que existia rancor na voz de meu pai ao pronunciar essa frase, o que acredito piamente é que os livros eram um mundo estranho à ele, inacessíveis e, portanto, inúteis.

A Coluna Território Livre é dedicada a análise de filmes e séries e outros entretenimentos. 

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