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[Crônica] – Serial Killer de BH

por Caroll Freitas
4 minutos de leitura

Serial Killer de BH

Está oficialmente aberta a caça ao Serial Killer de BH. Todo ano, nesta mesma época, ele ataca. Quando não mata, ele destrói casas ou leva embora todos os bens que demoraram uma vida para serem adquiridos.

O Serial Killer de BH não é preconceituoso. Atinge a todos sem distinção de cor, idade, religião ou opção sexual. É só achar uma mínima brecha.  Ataca em todas as áreas da cidade, ricas ou pobres. Neste quesito, os pobres, os menos favorecidos, aqueles não têm escolha ou recursos, ainda perdem feio quando batem de frente com ele.

Esse assassino tem um grande e poderoso aliado. Uma benção divina que traz grandes benefícios, mas também é a arma do assassino. A chuva.

Estamos falando de um assassino em série, daqueles que espera pela chuva forte para aparecer. E, a população, por sua vez, fica na incerteza de segurança e na certeza de que, basta começar a chover forte que esse assassino, sem rosto definido, volta a aparecer. E, vai morrer mais gente.

É bizarro, porque, organizando esses sentimentos no papel, fica parecendo o roteiro de um ótimo filme de suspense ou então um daqueles romances policiais da Agatha Christie, que não sabemos ao certo quem vai morrer, mas já sabemos que vai morrer. E, aí é só aguardar, com a tensão à flor da pele. Mas a única coisa que nos resta é seguir o enredo e aguardar.

Se eu pudesse falar pela cidade de BH hoje eu diria que ESTAMOS DE LUTO. Mais do que isso, eu diria que o que restou é menos que a metade, é um estopo de uma cidade meio em choque, vivendo o conflito interno de vários assassinatos, sem um assassino declarado. O mau tem vencido o bem há anos e ninguém fez nada para contê-lo.

O que mais assusta de tudo isso é que os personagens somos nós. Sim, é isso mesmo. Não estudamos teatro, não fizemos inscrição para participar e menos ainda teste de aptidão. Mas fomos convocados. E, o enredo dessa história parece um daqueles romances do Nicholas Sparks, com o final sempre trágico. Quando fechamos esse livro, nossa vida segue o curso natural e minutos depois nem lembramos mais do personagem.

Na vida real eles estão pertos de nós. Poderia ter sido um de nós. Ontem à tarde dei uma olhadinha pela janela. Quando percebi que o tempo começou a fechar, já pensei: “Iiiih, hoje vai chover, e muito! Será que hoje o Serial Killer vai atacar?” Pronto, bastaram algumas horas para conhecermos as histórias e os rostos por trás das novas vítimas. Ele atacou novamente. Ontem na Vilarinho, ano passado no Prado. Hoje? Amanhã? Nunca saberemos.

Colocando no papel fica até poético a história da mãe e filha que morreram afogadas, abraçadas e com o terço na mão. Ou então o bombeiro que não consegue salvar a garota de 17 anos, e tem que assistir ela ser arrastada para dentro de um bueiro. Tem também a equipe do Corpo de Bombeiros que teve que receber atendimentos médicos, porque no meio de todo esse caos, foi em busca da vítima tragada pelo bueiro e, mesmo assim, não a encontrou.

Só não é nada poético ter que explicar para a família dessas pessoas que o Natal desse ano não tem alegria. Que para a morte não há solução e para essa tragédia não tem volta. Que a partir de agora eles vão ter que conviver com esse vazio e com a incerteza de não saber quando será e quem será a próxima vítima.

A previsão deu mais chuva. A Defesa Civil deu alerta. A colega do trabalho não sabe como voltará pra casa caso chova forte na região. Ela é da região. Ela conhece uma das vítimas. Ela é testemunha dos crimes do Serial Killer e tem medo de se tornar uma das vítimas dele. Todos nós temos.

Pergunto-me, e agora, de quem é a culpa? Quando será revelado o rosto desse assassino? Porque sim, foram assassinatos. Só é acidente quando não dá pra prever. Tá lá no dicionário é só olhar.

Quem será o mocinho que irá detê-lo? Aguardaremos os próximos capítulos, se não nos tornamos vítima dele. Só sei de uma coisa: infelizmente essa série não acabou e parece estar longe do fim. E, a minha tensão já está aqui, novamente à flor da pele. Porque dei uma olhadinha pela janela, o céu tá escuro de novo. Iiih, hoje vai chover.

 

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