O Oceano no fim do Caminho – Neil Gaiman
Dizem que todos nós guardamos, lá no fundo do nosso inconsciente, todas as memórias e traumas da nossa infância. Mesmo que não nos lembramos mais de tudo que se passou, enquanto éramos pequenos, tudo ainda está lá, muito bem guardado e seguro. É exatamente assim que você vai se sentir com o literalmente fantástico “O Oceano no fim do Caminho”. Um livro pequeno, mas com tantas mensagens, que ao fim, você sentirá o impacto.
Mas vamos à narrativa: Aqui conheceremos nosso protagonista que não tem nome, o que já pode ser indicativo que ele bem que poderia ser você, ou o próprio autor. Ele está regressando ao local onde cresceu, depois de 40 anos, para um funeral, que também não sabemos de quem. Assim que começa a adentrar a pequena estrada da sua casa, lembranças começam a vir à tona em sua mente e ele dirige até o fim da estrada, em busca de uma antiga fazenda que ficava no fim do caminho, a Fazenda Hempstock. Assim que ele encontra a fazenda e o pequeno lago que fica aos fundos, somos transportados até a infância do nosso protagonista onde toda história do livro se passa.
A partir deste momento os capítulos são narrados pelo menino de sete anos, que mora com os pais e a irmã, sem muito dinheiro, mas com muitas possibilidades. Sua família está passando por dificuldades financeiras e por isso aluga um dos quartos da casa, para quem possa pagar. Esse morador da casa do pequeno menino acaba por cometer suicídio dentro do carro da família, o que é o pontapé para a narrativa.
Ele vai conhecer as três moradoras da Fazenda Hempstock, que fica no fim da estrada, onde o carro foi encontrado. Logo, ele fica amigo de Lettie Hempstock a neta da família e a personagem mais maravilhosa da história. Você vai se apaixonar por ela desde a sua primeira aparição. Sua sagacidade e frases de efeito são apaixonantes. Ela tem tanto conhecimento sobre o mundo e todas as coisas que logo você começa a estranhar que não tenha só 11 anos.
Ir desvendando esse mistério é uma das delícias do livro. E, é nesse momento também, que alguma coisa muito louca começa no livro: É quando é inserido o elemento fantástico. As consequências para esse suicídio começam a aparecer, pois essa morte libertou uma força fantástica e obscura que começa a incitar o caos e perseguir o protagonista. A medida que a narrativa avança, você logo começa a perceber sinais que as três moradoras da fazenda são mais que mulheres normais, elas têm habilidades fantásticas e juram proteger o garotinho deste mal que foi libertado.
Aos poucos a trama começa a tomar rumos mais assustadores e perigosos, quando esse mal toma forma humana, que eu não vou contar de quem, e começa a perseguir o pequeno, fazendo com ele as piores maldades. Somos imediatamente transportados para nossa época de criança à medida que vamos nos identificando com os medos do garoto, como medo de perder a família, de que não acreditem em nós, de ficarmos sozinhos pra sempre, do escuro, e muitos outros. Mas também vamos reconhecer a coragem e a curiosidade que somente uma criança é capaz de demonstrar. Não tem como avançar as páginas do livro sem nos lembrarmos, nem que seja uma vez, da nossa época de pequenos, das nossas próprias experiências. Claro que ao fim você estará se perguntando se todos aqueles acontecimentos que você leu foram verdade ou se foi tudo criação da mente fantasiosa de uma criança, mas aos poucos se dará conta de que quando somos crianças até o imaginário pode ser real.
A leitura avança rapidamente porque a escrita do autor é muito gostosa, é algo a se apreciar. Foi meu primeiro contato com ele, e, sem dúvida, já quero mais. Esse é um livro tão pequeno, mas com um potencial tão grande. Gaiman trás tantas lições sobre o amor, o poder da amizade, a confiança plena em alguém, a imaginação e, sobretudo, o valor e o poder dos laços que criamos com outras pessoas. Eu diria que é um livro transformador!
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Esse não é um livro adulto. É para crianças ou adolescentes. Perdi tempo e dinheiro com ele.