Minha história das mulheres – Michelle Perrot
O livro Minha história das Mulheres é uma leitura imprescindível para mulheres e homens entenderem e sobretudo valorizarem as conquistas das nossas antepassadas
Tanto para as mulheres quanto para os homens, o atual momento de empoderamento feminino, pelo menos nos países Ocidentais é, de uma certa forma, uma conquista diária. Sabemos que todo direito vem de muita luta. E o livro Minha história das mulheres, da historiadora Michelle Perrot, publicado pela editora Contexto, mostra um pouco do caminho que foi percorrido até aqui.
Acredito que cada pessoa carrega consigo uma história de mulheres, que conseguiram mudar uma perspectiva de vida, romper o silêncio e transformar o seu meio. Com 35 anos, sendo criada no interior de Minas, consigo enxergar muitas mulheres marcantes. Que lá nos anos 90, lutaram para batizar na Igreja Católica seus filhos sem pai, por exemplo.
Mulheres que penaram para vencer os inúmeros preconceitos de “mãe solteira”. Onde ninguém se importava em comprometer o pai. Para o homem a honra de garanhão, para ela a fama de piranha.
É só um dos inúmeros exemplos que poderia dar, fatos tolerados a apoiados por toda uma sociedade que prendia suas moças e soltavam os seus machos, porque assim regia a lei do mundo.
Paira sobre nós conceitos estruturais e deveres ocultos que apesar de toda a modernização estão ali, à espreita, prontos para surgir ou simplesmente serem jogados nas nossas caras.
A mulher nasce com algumas obrigações e habilidades ocultas, que predomina o “cuidar”: da limpeza da casa, do marido, dos filhos, dos parentes e por aí vai. Tá aí a #porramaridos que bombou no twitter em julho/18, traz relatos de mulheres que (com muita razão) reclamam das atitudes dos seus maridos, e só comprova a tese do “cuidar”. Mas há relatos promissores que dá uma esperança de que dá pra melhorar.
Quando alguma criança abre o berreiro em um local público por que todo mundo fala "cade a MÃE dessa criança?" #porramaridos essa criança não tem pai?
— Yuri – Quatrode15 (Educação Física) (@YuriMoto4x15) July 25, 2018
https://twitter.com/StephanMedeiros/status/1022320987218403329
#porramaridos meu namorado estava na casa dos meus pais, lavando a louça e meu pai apenas comenta, "virou empregado?"
— shii. (@Macedoar_) July 25, 2018
https://twitter.com/ardnailig/status/1022332100131909632
#porramaridos nunca entendi pq minha mãe começava a arrumas as malas dois dias antes de viajar, até perceber que ela fazia a dela, a do meu pai e a das coisas que precisava levar (comida, roupa de cama) e meu pai ainda reclamava se ela esquecia alguma coisa
— rafofis 🇵🇸 (@raf_lowers) July 25, 2018
https://twitter.com/MatteosMoreno/status/1022149995099828224
https://twitter.com/leanearaujo/status/1022119666897113090
Nos anos 80, meu pai tinha 3 empregos simultâneos: diretor numa escola, professor em outra, vigia (!) no Porto de Santos. Minha mãe era professora em duas escolas. Os dois lavam louça juntos até hoje. Crescer com isso me fez o pai e homem que sou hoje. #porramaridos
— Fábio Yabu – #OSNF2 vem aí! (@fabioyabu) July 25, 2018
https://twitter.com/BrunoFMoreira/status/1022275134462287873
Michele Perrot é uma historiadora francesa que, incomodada com ausência de registros históricos sobre as mulheres, se debruçou sobre o assunto e colocou sua pesquisa e impressões neste livro. Minha história das mulheres, é a visão comprovada com fatos, dados bem embasados da autora, acerca da invisibilidade feminina em vários momentos históricos. Ela contextualiza e dimensiona, por meio de várias nuances, a evolução da condição das mulheres ao longo dos tempos.
“A cesariana, inventada na Itália na Época Moderna, põe em evidência o conflito que se estabelecia em torno do dilema: a mãe ou a criança? Na maior parte das vezes, os médicos escolhiam a criança.” (pág.73)
Muito além do feminismo, Minha história das mulheres é um registro histórico de grande significado. Não é preciso ser feminista para enxergar a diferença entre homens e mulheres e o quanto nossas antepassadas tiveram que batalhar para termos o mínimo de liberdade que temos hoje.
É um livro agradável de ler e muito esclarecedor, que aborda questões e temas acerca das mulheres em diversos campos: os estigmas do corpo feminino, a maternidade, o impacto da religião, as mulheres no mercado de trabalho, uma vez que o trabalho, sobretudo o doméstico, já é de ordem natural atribuído a nós, mulheres na política, nos bastidores de grandes acontecimentos históricos, destaca as importantes escritoras e personalidades femininas que romperam o silêncio e marcaram suas épocas, e claro, o movimento feminista.
No século XlX, uma mulher “de respeito” traz a cabeça coberta, uma mulher de cabelos soltos é uma figura do povo, vulgar; (pág.58)
É um livro que faz a diferença quando lido. Empatia imediata. Um trabalho diferenciado, de muita dedicação, que resgata e tira da obscuridade as mulheres extraordinárias que garantiram a nossa existência e liberdade. Te faz refletir e buscar se aprofundar mais nessas histórias, conhece-las, propaga-las, não deixar cair no esquecimento. Uma grande mulher pode estar ao seu lado, na sua família, e isso precisa ser registrado.
Que tal começar a registrar a Sua história das mulheres?
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