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[Resenha] Em algum lugar nas estrelas – Clare Vanderpool

por Elis Rouse
6 minutos de leitura

Em algum lugar nas estrelas – Clare Vanderpool

Em algum lugar nas estrelas é sobre a construção de uma amizade entre dois adolescentes feridos, marcados por grandes perdas e uma grande reconciliação com a vida.

Após perder a mãe, Jack Baker também perdeu o direito de permanecer na sua cidade, no interior do Kansas. Filho de um capitão das forças armadas em serviço na guerra, Jack foi enviado para a escola de meninos de Morton Hill, no Maine, do outro lado o país. Jack se culpa pela morte da mãe, se ressente pelo pai, que em toda sua vida sempre esteve distante, e agora precisa conviver com a solidão de ficar longe de tudo o que conheceu, enquanto se adapta às novas perspectivas.

Na nova escola, a adaptação de Jack é até rápida, embora ele escolha viver pelas sombras, com as suas revistas do National Geografic. Seria uma vida sem sentido, vazia, cumprindo as regras diárias da escola, não fosse sua curiosidade com relação a Early Auden, um garoto que só aparece de vez em quando nas aulas de matemática, e vive enfurnado em um porão da escola, sem ser incomodado ou cobrado por ninguém.

“Às vezes, ele entra e ocupa uma carteira, mas sai assim que o professor fala algo de que ele discorda. É tão esquisito que ninguém faz nada sobre isso.” (pág.34)

Após a morte do pai, Early Auden vive sozinho na escola. É um garoto tão metódico e inteligente que, durante a leitura, me peguei questionando se ele de fato era real ou uma imaginação da cabeça de Jack. Mas ele é um humano fantástico, com sinais claros de autismo. Tive um carinho muito grande por ele e por toda a sua história de dor.

“Lembrei o que Early Auden havia dito. Ele ouvia Louis Armstrong às segundas, Frank Sinatra às quartas, Glenn Miller às sextas e Mozart aos domingos.  A menos que chovesse. Se chove é sempre Billy Holiday.” (pág70)

Pelo gosto musical fica claro que Early, um garoto entre 12 e 13 anos, é diferente. Já o gosto pela matemática vem da fascinação do garoto pelo número PI, aquele infinito, 3,14… Ele transforma PI em um personagem real, de carne e osso, que vive altas aventuras em sua infinidade. Early é capaz até de narrar as aventuras desse PI real para Jack, que a princípio ignora, até que as suas próprias histórias começam a se entrelaçar.

“Ele diz que quando vê os números que começam com 3,14, só enxerga um monte de algarismos que não significam nada mais que números. Isso me deixou triste por ele. Para mim, eles são azul e roxo, areia e mar, áspero e liso, barulho e sussurro, tudo ao mesmo tempo.” (pág. 125).

A amizade entre os dois é inevitável e natural, dada a curiosidade de Jack em relação a como Early lida com a solidão, e a necessidade de companhia de Early. As reflexões inteligentes de Early, em muitos momentos fizeram Jack relembrar sua mãe e aos poucos buscar sua redenção.

Uma amizade necessita de lealdade e sobretudo confiança. A possibilidade de um matemático ter encontrado o fim para PI, um spoiler que óbvio não posso dar, é o ponto chave para os dois saírem em uma longa jornada completamente incerta, tendo como guia as constelações.

“Senti uma inquietação crescer dentro de mim. Não queria ficar sozinho com a tristeza, a chuva e os fantasmas do passado. Sabia que seguiria Early onde quer que ele fosse. Ele pode se perder e me levar junto, mas é melhor do que ficar perdido e sozinho. Era o que eu pensava, pelo menos.” (pág. 104)

Por falar em estrelas, as constelações dão nome aos capítulos e as histórias se relacionam. O fascínio das estrelas, somado aos acontecimentos e coincidências da narrativa, dão um tom fantástico e mágico a trama de leitura simples e bem agradável.

É uma história fofinha e singela, porém voltada para um público bem específico: adolescentes até no máximo 14 anos, ou adultos com uma vibe mais poética. É uma história de amizade real, em sua essência mais pura, por isso em alguns momentos pode soar bobinha, embora muito bem escrita.

Em algum lugar nas estrelas é aquele livro que você compra por todo o capricho da edição, já que a autora é desconhecida e a contracapa não revela nada da história. Estamos falando aqui de Darkside, portanto não é de se esperar menos.  

Pra começo de conversa, temos uma edição em capa dura com desenhos em alto relevo. A guarda (página 2) no melhor estilo pintura clássica, traz os anjos em meio aos signos do zodíaco, a folha de guarda, aquela já tradicional caveira DarkSide, e na folha de rosto mais uma representação da constelação. E não para por aí! Como brinde desta edição, temos um disco de papel, trazendo de um lado a rosa dos ventos, e do outro os dias de música do personagem Early. E, pra fechar com chave de ouro, um marca páginas de cetim rosa.

Babação de ovo à parte, a edição casou perfeitamente com o tom lúdico e sereno da história.

:: Referências musicais::

Louis Armstrong | Up a Lazy River

Frank Sinatra

Glenn Miller

Mozart

Billy Holiday

Rock of ages

Elvis Presley | Amazing Grace

Benny Goodman

Camptown Races |Stephen Foster

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