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[Resenha] Cinco Minutos | A Viuvinha – José de Alencar

por Elis Rouse
7 minutos de leitura

Cinco Minutos | A Viuvinha – José de Alencar

Dois clássicos da literatura nacional, os contos Cinco Minutos e A Viuvinha vem sendo editados há anos juntos, como se fosse uma história única. Com isso o leitor tem o privilégio de ter um livro com duas histórias de amor fantásticas.

Se depois da última frase, você que ama romances, torceu o nariz ou ficou curioso, já passou da hora de deixar o preconceito com os clássicos da literatura nacional de lado e dar uma chance para José de Alencar. Ele mesmo, criador de uma das personagens femininas mais fortes da literatura nacional, Aurélia, do livro Senhora.

Cada vez que dou mais uma chance aos clássicos me surpreendo positivamente e fico muito feliz de poder experimentar uma literatura bem escrita, estruturada e que dialoga com qualquer pessoa, em qualquer século.

O livro que traz Cinco Minutos e A Viuvinha tem pouco mais de 100 páginas. Dá para ler em um dia tranquilamente. Os contos são curtinhos, a linguagem é rebuscada, porém compreensível, e a mensagem de uma história de amor ultrarromântica é facilmente assimilada.

Relembrando as aulas de literatura, José de Alencar, é um dos principais representantes das correntes literárias nacionais: romantismo e indianismo. Suas obras evidenciam o cotidiano urbano, trazem um pouco da realidade da época, da cultura e tradições do Brasil Império, em especial do Rio de Janeiro, além da exaltação da natureza nos clássicos Iracema (1865) e O Guarani (1857).

É preciso registrar que José de Alencar foi um dos patronos da Academia Brasileira de Letras, chegando a ocupar a cadeira nº 23. Cinco Minutos foi sua primeira publicação em 1856. O Guarani de 1857 foi a obra responsável por dar visibilidade aos escritos de Alencar.

Cinco Minutos (1856): Todo mundo sabe que um pequeno atraso pode mudar completamente sua vida. No século passado não poderia ser diferente. “… uma noite de inverno fresca e úmida; o céu estava calmo, mas sem estrelas…” o nosso personagem principal perdeu o ônibus, tendo assim que esperar o próximo.

Ao adentrar na condução e procurar o lugar onde gostava de se sentar, ele percebe uma mulher com todos os seus panos e sedas, afastar-se para abrir espaço. O que acontece durante a viagem curta é um jogo de sedução e paixão mútua que termina com um enigma: Quem é a mulher que deixou nosso personagem apaixonado? E por que ela não o deixou ver seu rosto?

A partir daí se inicia uma verdadeira e incessante saga em busca da misteriosa mulher. Ao ponto do nosso personagem se questionar se de fato viveu essa aventura.

O romance é narrado em formato de carta endereçada intimamente a uma prima, o que desencadeia uma empatia imediata, principalmente quando o autor se dirige diretamente a pessoa que está lendo essa carta.  

“Aposto, minha prima, que a senhora acaba de dar uma risada, pensando na cômica posição em que me achava; mas seria uma injustiça zombar de uma dor profunda, de uma angústia cruel como a que sofri então.” (pág.42)

Cinco Minutos é um dramão, trazendo para nossa realidade, no melhor estilo novela mexicana mesmo, com direito a loucuras de amor, como gastar uma fortuna em um cavalo e cavalgar no coitado até sua morte, trocas singelas de cartas, doença incurável e um final surpreendente.  

Em um cenário urbano bem marcante, pelas nuances da cidade carioca, costumes, entrelaçado a uma escrita poética e gostosa de ler, você levará pouco mais de Cinco Minutos para se aventurar com o personagem nessa jornada em busca do amor.  

A Viuvinha (1857): Também em formato de carta, conhecemos a história de Jorge, um jovem que passou os últimos anos ostentando o luxo e esbanjando as riquezas do falecido pai. Bem típico né…

“As mulheres lhe sorriram, os homens o festejaram; teve amantes, luxo, e até essa glória efêmera, auréola passageira que brilha algumas horas para aqueles que pelos seus vícios e pelas suas extravagâncias excitam um momento a curiosidade pública. ” (pág.54)

Quando, num rompante de redenção, Jorge se sente tocado a mudar de vida. Ele conhece Carolina, uma moça linda com quem deseja se casar e construir uma família.

Às vésperas do casamento, Jorge descobre que está completamente falido, pobre mesmo. O peso da vergonha e da humilhação de ver o nome do pai sendo jogado na lama, e o seu próprio, recai como uma bomba sobre sua vida.

Sem perspectiva de saída, Jorge toma uma decisão drástica, acabar com sua vida após o casamento. Para não manchar a honra de Carolina, ele prefere deixa-la viúva, ao invés de solteira.

Esses momentos de indecisão de Jorge, acuado pela honra, a pressão da aparência social, aliada a moral e aos bons costumes, nos dão um pouco do panorama social da época, onde um homem falido não valia nada.  Nesse romance, outras nuances sociais também são destacadas.

“A lei, a sociedade e a polícia estão no mau costume de exigir que cada homem tenha uma profissão; donde provém esta exigência absurda não sei eu, mas o fato é que ela existe, contra a opinião de muita gente. ” (pág.77)

O que era para ser uma noite de núpcias se transforma então em uma tragédia. Carlota dorme casada e acorda viúva, a viuvinha.

A belíssima e encantadora Viuvinha segue com seu luto e amor eterno ao falecido por anos, até misteriosamente flores começam a aparecer em sua janela.

Algumas reviravoltas depois, vemos que Alencar nos brindou com outra história de amor fascinante, com um desfecho no melhor estilo Sidney Sheldon ou Harlan Coben (que nem tinham nascido). Mas só saberemos de tais semelhantes se lermos. Conhecer a literatura nacional é nos deparar com grandiosas surpresas. 

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