Os Ravenels – Lisa Kleypas: Mais uma série de romances época para chamar de sua!
Os Ravenels é a quarta série da escritora Lisa Kleypas lançada no Brasil. É sem dúvida, uma das séries mais queridinhas dos leitores de romance de época em 2020.
O que poderia ter de tão sensacional em mais uma série de época? Às vezes temos a sensação de que, em um certo momento, os enredos começam a se repetir em torno da mesma fórmula: mocinhas dispostas a quebrar os padrões culturais e sociais, se envolvem com homens em sua maioria libertinos, que não querem se casar, mas acabam enfeitiçados e totalmente dominados pelo amor.
Não é uma crítica a essa fórmula, diz a pessoa que tem uma estante dedicada a autoras como Julia Quinn, Sarah Maclean, Tessa Dare, e outras divas da literatura de época. É que com Lisa Kleypas é diferente. Lisa tem o dom de criar personalidades únicas para cada personagem e de envolvê-los em questões que vão além da busca pelo casamento, maior realização para a época. É claro que, nem sempre essas personalidades são unânimes, como é o caso da viúva Kathleen, protagonista do livro 1, que beira a chatice (antipatia) em vários momentos da trama, e OK! Ninguém é obrigado a gostar né… Até porque as autoras têm evitado trazer personagens perfeitos, em especial as mocinhas.
Os Ravenels abordam questões políticas, femininas, sociais e econômicas da Era Vitoriana. Tem protagonistas inspiradas em mulheres revolucionárias, como a primeira médica diplomada da Inglaterra, Dra. Elizabeth Garrett Anderson e a criadora de jogos de tabuleiros Elizabeth Magie, injustiçada por não ter recebido créditos na criação de um dos jogos mais famosos, “O Monopoly”.
Dito tudo isso, o que mais surpreendeu os fãs em Os Ravenels foi o aparecimento de personagens de outra série queridinha da autora “As estações do amor”, trazendo as histórias de amor dos filhos de um dos casais mais legais da série: St Vicent e Evangeline Jener. Essa sacada foi interessante e assertiva.
Mais uma vez Lisa Kleypas mantem sua essência em apresentar histórias marcantes, recheadas de questões históricas e feministas, com tantos detalhes íntimos que a impressão que temos é que há o resgate de uma vida em cada cena lida.
A impressão que temos é que os acontecimentos narrados de fato aconteceram, alguém as viveu e contou para a Lisa, e ela simplesmente as eternizou nas páginas dos seus livros. A conexão com os personagens é inevitável, e quando eles voltam ao “presente” a sensação é melhor ainda.
“Infelizmente, os Ravenels sempre foram muito ardentes e impulsivos. Cediam a todas as tentações, se permitiam todos os pecados e zombavam de todas as virtudes. Como resultado, tinham tendência a morrer mais rápido do que conseguiam se reproduzir.” (pág12) – Um sedutor sem coração
Um sedutor sem coração
O que Devon Ravenel jamais queria, era herdar uma propriedade falida em um condado cheio de problemas estruturais, de um primo que ele abominava. Para piorar, a herança compreende também quatro mulheres: a viúva Kathleen, e as irmãs Helen, Pandora e Cassandra, que agora passam a ser sua responsabilidade.
Com desprezo a tudo que a herança representa, Devon e o irmão mais novo West, querem mesmo é se verem livres deste fardo. E eles não fazem questão de serem agradáveis ou legais com elas, sobretudo Devon, que desde o início deixa claro suas intenções e é recebido com a mesma hostilidade pela viúva, que é quem responde pelas mais jovens.
Entendendo melhor a situação do condado e ao se envolverem no dia a dia, Devon e West decidem avaliar as possibilidades de melhoria e acabam se deparando com uma fortuna e um novo propósito de vida.
Para West uma chance de reescrever sua história, se livrar dos vícios que o acompanham a anos, para Devon, assumir responsabilidades e conquistar o coração da megera Kathleen,. Quem é o sem coração agora? rs
Com o luto de Kathleen, entendemos um pouco das imposições e restrições a qual uma família era obrigada viver por conta do falecimento de um parente. Com Helen, entendemos como segredos de família podem ser devastadores na vida de uma pessoa tão doce e leal. Com as gêmeas Pandora e Cassandra como a sociedade pode ser cruel com suas regras que atinge direta e impiedosamente as mulheres.
A sociedade nos mostra que nem sempre dois homens de classes sociais diferentes apertavam as mãos, que alguns presentes como um simples lenço eram consideráveis íntimos demais, portanto impróprios de serem dados. Pessoas que trabalharam duro para conquistar suas riquezas, como é o caso do comerciante Rhys Winterborne, não eram bem aceitas pela sociedade, por não terem berço.
Um sedutor sem coração fala sobre os avanços industriais da época, aborda a violência doméstica, e como sempre expõe a situação de mulheres que viveram essa época. É uma história afetiva, com a construção dos laços de uma família que permanecerá unida, personagens com passados a serem desvendados e problemas justificáveis a serem resolvidos nos próximos volumes.
Uma noiva para Winterborne
Rhys Winterborne já apareceu no primeiro livro, como um arranjo induzido pelo amigo Devon, para conhecer Lady Helen e se casar com ela. Nesse arranjo, a família Ravenels, até então praticamente falida, receberia um bom dinheiro. Em troca, por se casar com uma aristocrata, Rhys passaria a ser aceito na sociedade londrina. Sua enorme fortuna e fama não foram suficientes para fazer com que ele fosse bem-vindo nas rodas da sociedade.
Apesar desse “arranjo”, o interesse de ambos é mútuo, a química é perfeita e a interação dos dois é de uma fofura sem fim. Esse é o livro mais romântico da série. Rhys é um homem poderoso, rústico e até mesmo grosso, mas basta um olhar doce de Helen para ele virar aquela famosa cadelinha e nunca mais se desgrudar dela, isso logo nas primeiras páginas do livro.
“Sem querer tentar, ela fizera brotar algo nele, uma ternura que ele nunca mostrara por ninguém.” (pág.64)
Lady Helen está determinada a conquistar Rhys, ela não se importa com sua fortuna, nem com o seu status social. Ela simplesmente gostou dele e quer ser sua esposa. No primeiro livro, Helen aparece comedida, às vezes até abatida e sem sal. Mas a determinação da jovem em conquistar o milionário, revela uma personalidade até então desconhecida, e que vai se justificando ao longo da trama.
Helen é tímida, mas não é boba, e esconde um segredo que pode arruinar sua vida, a de suas irmãs e o seu casamento com Rhys, o que justifica sua postura na família Ravenels.
Diferentemente de outras tramas cujo segredo fica ali pairando entre o casal, enrolando a trama, aqui eles se resolvem rapidamente. E fazem sentido. Rhys é um homem poderoso, tem inimigos que veem em Helen uma fraqueza do empresário. Os dois se amam, mas esse laço pode não ser suficientes.
O livro segue ainda dando espaço para o crescimento dos demais personagens. Devon e Kathleen estão casados à espera do primeiro filho. Pandora e Cassandra seguem tendo aulas de etiqueta para estrearem nos salões londrinos. West assumiu de vez a administração na fazenda e tem tido sucesso.
É também palco para a estreia de outros personagens importantes como a Dra. Garret, primeira mulher médica da Inglaterra e Ramson, um investigador misterioso a serviço de Rhys, com fortes laços com os Ravenels.
Uma noiva para Winterborne é um dos livros mais românticos que já li. Aquele tipo de leitura que quando a gente acaba dá vontade de começar de novo.
É uma história de amor com várias nuances: Amor pela profissão, amor pelos irmãos, e o encontro de duas almas gêmeas.
Um acordo pecaminoso
De cara foi o livro mais engraçado de todos. Eu amei esse casal desde o início. E saber que Gabriel é filho de um casal que já foi meu favorito em outra série, só ganhou mais pontos.
Lady Pandora nunca quis casar, se encaixar na alta sociedade e muito menos ser uma dama convencional que no futuro tomaria conta de uma propriedade e seria feliz ao lado do marido e os inúmeros herdeiros.
Lady Pandora sonha muito alto para a época. Incentivada pelo cunhado Rhys, ela quer seguir a carreira de mulher de negócios, ter sucesso com seus jogos de tabuleiros, não depender de um marido e muito menos ser propriedade dele.
“Não quero me casar. Fiz planos para me sustentar e viver de forma independente. Com alguma sorte, serei bem-sucedida e ninguém terá que se preocupar mais comigo.” (pág.15)
“Não me casarei até as mulheres terem direito a votar e a tornar as leis justas. O que significa nunca _ Até mesmo a rainha se opôs ao sufrágio feminino.” (pág.165)
Lady Pandora só frequenta os bailes e a agenda social por conta da irmã gêmea Cassandra, que é mais graciosa e mais disposta às convenções. Só que o destino às vezes prega umas peças desagradáveis, e numa dessas reviravoltas e coincidências da vida, ela se vê presa a um banco com o Lorde Gabriel St.Vicent, filho de um dos maiores libertinos de Londres, atualmente um dos solteiros mais cobiçados. E agora terão que se casar!
Gabriel St Vicent também não quer se casar, mas se quisesse não seria com uma mulher tão inadequada como Pandora. Choca saber que ela o rejeita em nome de sua liberdade (alô feminismo) e que também não dá a mínima para seu dinheiro. Porém, os modos excêntricos da jovem, desperta em Gabriel curiosidade, afeto e um instinto de proteção fora do comum.
As convenções exigem que se casem ou a família da mulher cairá em desgraça, afetando inclusive a irmã solteira. Nesse dilema entre a liberdade, a desgraça e o casamento, faz com que Pandora considere conhecer o amor. Um acordo, sela a amizade entre os dois e garanto que será uma descoberta prazerosa para ambos.
Vale lembrar que Gabriel é um aristocrata perfeito, autocontrole e frieza, mas, Lady Pandora, a mulher mais original que Gabriel já conheceu, saberá atingir o ponto fraco desse moço e conquistar (mesmo sem querer) seu coração.
Como eu gostei desse livro. Uma história sensível, agradável de ler, com fortes sentimentos femininos e destaque para a importância da união familiar. É muito legal saber como continuou a história de amor dos pais de Gabriel, Evie e St.Vicent, e como a vivência deles se refletiu positivamente nos filhos.
Legal também ver o desenvolvimento de Devon como chefe da família, que se coloca ao lado de Pandora, mesmo que sua decisão jogue na lama o nome da família.
Um acordo pecaminoso é sobre convenções sociais, tradições ultrajantes que sufocaram as mulheres por anos. É sobre a luta feminina real, verdadeira e extremamente necessária.
Um estranho irresistível
Um estranho irresistível, misterioso, charmoso e envolvido em tretas pesadíssimas. Ethan Ransom aparece nos dois últimos livros em episódios importantes: Junto com Pandora e Gabriel, conseguem impedir um atentado terrorista no livro anterior. E ao seguir os passos de Lady Helen a pedido de Rhys, ele acaba conhecendo e se encantando pela Dra. Garret Gibson e esse encanto é recíproco. E chegou a hora de unir esse casal.
A Dra. Garret Gibson é a primeira mulher a obter licença para atuar como médica na Inglaterra. Depois de sua ousadia, regras foram mudadas para impedir que outras mulheres se aventurassem para fora do espaço que lhes foi culturalmente imposto. À Garret cabe lidar com as constantes desconfianças e provar que ela é competente e capacitada.
Contudo já está estabelecida como médica dos funcionários da loja de Winterborne e também já conquista clientes na alta sociedade e em seu consultório. Garret lutou muito para conseguir o que tem, e obviamente não irá abrir mão, mas está na hora de viver novas emoções e quem sabe algumas aventuras. Ethan não é o homem certo, mas quem disse que ela é uma mulher convencional.
“_ Sou independente, tenho opinião própria, vivo dando ordens. Tenho zero delicadeza feminina. Minha profissão ou ofende ou assusta os homens… às vezes ambas as coisas. Então nunca recebi um dente-de-leão sequer. Mas tem valido a pena viver como escolhi.” (pág.73)
As ações que impediram o atentado no passado, agora pesam sobre Ethan. Ele precisa investigar e descobrir os responsáveis. Isso colocará sua vida e a de Garret em risco, mas não pense em Garret como uma mocinha sofrida e insegura, ela já mostrou anteriormente que sabe muito bem usar um bastão e enfrentar os malfeitores.
Neste livro, Lisa Kleypas inovou, saiu dos salões de bailes e das pegadas românticas e inseriu questões políticas importantes, envolvendo os personagens em cenas perigosas, de muita ação, e que condizem totalmente com a personalidade que ela criou para os protagonistas.
O casal combina em tudo! Há química, envolvimento, ação e mais uma vez Garret provando que a ciência é soberana.
Uma herdeira apaixonada
West Ravenel é o personagem mais divertido da série. É um cara que se regenerou, e agora está totalmente focado na administração das propriedades da família. Praticamente todos já se acertaram em casamentos felizes e apaixonados, e tudo para bem para um cara que não quer se casar, tão pouco constituir uma família. Maaaaas uma bela viúva ruiva, cunhada de sua prima Pandora, vai mexer com os planos e o coração do moço.
Phoebe é uma mulher deslumbrante, que vive à risca o luto pelo amor de sua vida que faleceu deixando-a com dois filhos pequenos. Filha do casal Evie e St. Vincent, Phoebe teve uma criação diferente da aristocracia, fugindo de regras e tendo certas liberdades com que toda mulher da época sempre sonhou, e assim também estende esses privilégios aos filhos.
“_Antigamente, as crianças eram pouco vistas e nunca ouvidas. Nos dias de hoje, parece que elas devem ser vistas e ouvidas por toda parte e em toda parte e em toda as horas.” (pág.168)
West e Phoebe se encontram, se desencontram, se apaixonam, mas viver esse amor não será nada fácil. Phoebe tem sido vítima de golpe e terá que aprender a administrar sua herança sozinha e provar que uma mulher é capaz de gerir suas propriedades.
“Phoebe, contabilidade é um esforço excessivo para o cérebro feminino. Se você tentar ler um daqueles livros, terá dor de cabeça.” (pág.173)
É o livro mais sensual da série, o casal tem química. Os filhos de Phoebe são uma atração a parte, em especial Justin, responsável por momentos fofos e irreverentes.
Esperei tanto pra ler esse livro que acho que criei expectativas demais. O que era pra ser divertido e espirituoso se tornou uma leitura simples, com acontecimentos previsíveis e um final totalmente sem surpresas.
Pelo amor de Cassandra
Única solteira da família, Cassandra Ravenel é uma beldade em busca de um marido. Esse desejo se acentuou ainda mais com o casamento da irmã gêmea Pandora. E foi justamente na cerimônia da irmã, que ela interage com o poderoso Tom Severin pela primeira vez.
Severin é um magnata, super inteligente, construtor de ferrovias. Apesar de extremamente rico, assim como Rhys Winterborne, enfrenta o preconceito da sociedade londrina, por não descender de uma linhagem nobre. Uma das opções é se casar com uma mulher da nobreza, algo que ele não descarta, porém, se autodenomina incapaz de amar. Proclama que tem o coração gelado e que cultiva apenas 5 sentimentos.
O oposto do que Cassandra precisa e deseja. Ela quer se casar, mesmo em um casamento arranjado, mas quer ser amada e deixa isso claro a Tom em todas as oportunidades possíveis. Em uma tentativa de amizade, os dois personagens entregam momentos muitos legais e nostálgicos, com ela indicando romances da época para despertar um lado mais humano em Severin.
Em sua mente lógica, Tom não consegue enxergar o cerne do amor verdadeiro, vendo sempre o lado prático das histórias literárias. Algumas conclusões até concordo com ele.
O homem de negócio implacável e impiedoso, até mesmo temido, vai se desmanchando e sensivelmente se abrindo para o amor, naturalmente, mesmo sem desconfiar ou admitir. Lembram dos 5 sentimentos, do nada vão se multiplicando e com um beijo roubado aqui, um abraço apertado ali… os dois vão se envolvendo.
Quando vê a reputação da sua amada em risco, esse homem não medirá esforços, para salvar sua amada e olha, se o ato em questão não for amor meus amigos, não sei mais o que seria.
O legal dos últimos livros da série é o aparecimento dos casais anteriores. Aqui todos eles se reúnem em prol da salvação de Cassandra. A história toca num ponto interessante para época, mas que se repete ainda nos dias de hoje, assédio sexual e “pornô revenge”, com a culpa da violência sofrida recaindo sempre sobre as vítimas.
“Homens assim nunca assumem a culpa… Eles atacam e depois dizem que foram provocados a fazê-los. ‘Olhe só o que você me levou a fazer’. Mas a escolha é sempre deles. Eles machucam e assustam as pessoas para se sentirem poderosos.” (pág.130)
Cassandra e Tom formam um casal lindo, com um amor construído aos pouquinhos e uma relação sólida que condiz com a personalidade deles.
Assim, Lisa Kleypas encerra mais uma sensível e divertida série de época. Publicada no Brasil pela Editora Arqueiro, que sempre capricha nas edições, entregando capas lindas.
Importante, a editora precisa ficar mais atenta a alguns errinhos de digitação e erros de continuidade em cenas, como aconteceu em dois momentos no último livro “Pelo amor de Cassandra” em que há erro na citação de personagens que não estão na cena.
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