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Olhos que Condenam escancara a perversidade do racismo em um história real

por Herlane Meira
7 minutos de leitura

Olhos que Condenam escancara a perversidade do racismo em um história real

Com 16 indicações ao Emmy Awards, a minissérie Olhos que Condenam, da Netflix, expõe a crueldade e as consequências do racismo estrutural

Desde que o mundo é mundo, vemos injustiças sendo cometidas em diversos povos, culturas e nacionalidades. Mas quando nem todos esses fatos têm a atenção da mídia, plataformas de entretenimento, como a Netflix, entram em ação, recriando e dando visibilidade a essas histórias. Assim conhecemos a história baseada em fatos reais da série Olhos que Condenam.  

Criada e dirigida por Ava DuVernay (nome por trás do filme Selma) Olhos que Condenam, como o nome original diz When they see us (Quando eles nos veem, em tradução livre) é sobre o caso Os Cinco do Central Park, um dos mais emblemáticos da história norte-americana, que envolve a condenação e a prisão de cinco jovens inocentes.

Confira o trailer:

https://www.youtube.com/watch?v=InMokMK3ji4

A História:

Na noite de 19 de abril de 1989, cinco adolescentes do Harlem, em Nova York, quatro negros e um latino, com idades entre 14 e 16 anos, foram presos acusados de agressão e estupro a uma mulher branca no Central Park. É importante ressaltar a cor da vítima e dos acusados, porque no contexto de toda a história, ambos foram determinantes para o desfecho do caso. 

Após serem submetidos a quase 24 horas de interrogatório na delegacia, sem comer, beber ou ir ao banheiro, Antron McCray (Caleel Harris), Yuseff Salaam (Ethan Herisse), Raymond Santana (Marquis Rodriguez) Kevin Richardson (Asante Blackk) e Korey Wise (Jharrel Jerome), se acusaram mutuamente e confessaram o crime.

A minissérie é dividida em quatro partes. Cada episódio tem pouco mais de uma hora e o último cerca de 1h30. A primeira é sobre o crime e a investigação na delegacia. É impossível não terminar esse primeiro episódio com lágrimas nos olhos e um nó na garganta.

Atsushi Nishijima/Netflix Divulgação

Como se não bastasse toda a emoção que as agressões e coerções que os cinco jovens enfrentam no interrogatório, o segundo episódio causa uma revolta tão grande, um aperto, e aquela sensação horrível de impunidade e injustiça. 

Na segunda parte acompanhamos o julgamento e, mesmo sem nenhuma prova que incriminasse Antron, Kevin, Yuseff, Raymon e Korey, eles foram condenados e encaminhados ao reformatório.

Korey Wise é, particularmente, dentre o caso dos meninos, o que me fez mais desidratar. Ele não estava na lista da polícia dos jovens que foram apanhados naquela noite no parque. Ele, simplesmente, foi à delegacia acompanhar o amigo Yuseff e acabou sendo detido. Como Korey tinha 16 anos na época, idade em que o jovem já pode responder criminalmente nos Estados Unidos, ele foi encaminhado para uma prisão de adultos. 

Atsushi Nishijima/Netflix Divulgação

A terceira parte traz Antron, Kevin, Yuseff e Raymond já adultos e fora do reformatório. Nesta fase são interpretados por Jovan Adepo, Justin Cunningham, Chris Chalk e Freddy Miyares, respectivamente. O episódio mostra a dificuldade dos rapazes em seguir com suas vidas, arrumar um trabalho, se relacionar com outras pessoas, vivendo sempre na sombra da acusação de estupro.

O quarto e último episódio traz a trajetória de Korey e o inferno que ele enfrentou preso com outros criminosos. O jovem era agredido constantemente, muito em razão da natureza do suposto crime cometido, o estupro. Korey ficou 13 anos encarcerado, porque não admitia ter cometido o crime do Central Park.

Jharrel Jerome é o único ator que interpreta o mesmo personagem na adolescência e na fase adulta, e é uma atuação brilhante, que merece aplausos por retratar o pesadelo vivido por Korey durante a prisão. Papel, inclusive, que lhe rendeu uma indicação ao Emmy Awards 2019, na categoria melhor ator principal em série limitada.

Além do sofrimento que esses jovens enfrentaram, a produção também traz a agonia da família deles, principalmente, as mães, que foram o principal suporte naquele momento tão difícil, em que todos viraram as costas.

Netflix/Divulgação

Com o mínimo de empatia que você possa ter, te adianto que é extremamente difícil assistir Olhos que Condenam sem se emocionar. Dói e incomoda, principalmente, por ser um caso real. Quase desliguei a Netflix várias vezes. É a realidade nua e crua de uma injustiça que roubou a paz e os anos de vida de cinco meninos condenados injustamente. 

Olhos que Condenam

A minissérie da Netflix estreou em maio deste ano e, em duas semanas no catálogo, se tornou uma das séries com maior audiência da plataforma (23 milhões de usuários). 

O sucesso não parou por aí. A produção também foi indicada a 16 categorias do Emmy Awards, entre elas, duas para Ava nas categorias melhor roteiro e melhor direção, bem merecidas, inclusive.

Ava entregou uma ficção documental brilhante e a escolha do tema foi justificada pela cineasta no especial When they see us with Oprah Winfrey, também disponível na plataforma. “O objetivo era criar algo que realmente movesse as pessoas e as fizessem avaliar o que elas pensam e como elas se comportam no mundo”.

A Coluna Território Livre é dedicada a análise de filmes e séries e outros entretenimentos. 

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