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O Sol Também é Uma Estrela traz um romance leve com pitadas de crítica social 

por Herlane Meira
8 minutos de leitura

O Sol Também é Uma Estrela traz romance leve com pitadas de crítica social 

Você acredita em destino? Acredita no “feitos um para o outro”, ou no “o que tiver que ser, será”?! Há pessoas que crêem que tudo acontece por um motivo, e há também os céticos, que admitem acreditar que os acontecimentos não passam de uma simples coincidência, sem um objetivo definido no final.

A autora jamaicano-americana Nicola Yoon traz esse debate no título O Sol Também é Uma Estrela e, a cada história de um personagem que ela nos apresenta na narrativa, é capaz de criar um questionamento pessoal para o mais descrente dos indivíduos: será que realmente minha ação pode ter tanto impacto na vida de outra pessoa?

Lançado em 2017, a obra  tem como tema central o romance entre Natasha Kingsley e Daniel Bae. Dois adolescentes que moram nos Estados Unidos, mas que sofrem por não pertencerem 100% àquele lugar. Isso porque Natasha e sua família são jamaicanos e imigrantes ilegais e Daniel é coreano, que precisa seguir fielmente as doutrinas de sua cultura, ou seja, não pode fazer simplesmente o que ele quer, e sim seguir o que sua família recomenda.

É preciso apenas algumas horas para que o jovem casal se apaixone perdidamente, e mesmo com todas as suas diferenças, não conseguem negar o sentimento um pelo outro. E, principalmente, a sensação de já terem se conhecido em outra vida.

O grande problema nessa história de amor é que Natasha só tem mais 24 horas no estado americano, pois a família dela está sendo deportada, porque o pai dela decidiu numa noite comemorar uma boa notícia, bebeu demais e bateu em uma viatura policial.

Correndo contra o tempo

É assim que a história de Natasha começa. Decidida a tentar corrigir o erro do pai, a adolescente passa o dia atrás de uma alternativa que permita que ela continue a estudar nos EUA, pois está no país desde os 9 anos. E os únicos amigos que conhecem estão lá, fora as oportunidades de universidades que ela gostaria de se candidatar.

A jovem quer se tornar uma cientista, é completamente cética, não acredita em amor e nem em coincidências. É apaixonada por rock e astronomia. Passa o dia na companhia de vozes como Kurt Cobain e Chris Cornell. Jura que consegue sentir o sofrimento nas músicas desses cantores e acha reconfortante.

“Quando Natasha pensa no amor, é nisto que pensa: nada dura para sempre. Como o hidrogênio-7, o lítio-5 ou o boro-7, o amor tem uma meia-vida infinitesimalmente pequena que decai até o nada. E quando acaba é como se nunca tivesse existido.” (pág. 56)

Daniel sonha em ser poeta. Acredita em destino, amor à primeira vista, e no juntos para sempre. Vai atrás de Natasha porque acredita que ela é um sinal de Deus em sua vida naquele dia, e cai de quatro por ela. A sua missão é fazer com que a garota sinto o mesmo por ele, mesmo tendo que deixar em segundo plano sua entrevista de admissão na Universidade Yale para se tornar médico, destino já traçado por sua família.

Warner/Divulgação

No meio do caminho do centro de imigração até um advogado especializado em imigrantes, que Natasha espera poder ajudar em seu caso, ela conhece Daniel. A combinação de diferentes ideologias entre os dois rende diálogos divertido, além de fofos e cheios de química, quando resolvem deixar de lado as diferenças.

A leitura te faz acompanhar o dia dos dois em Nova York. Mas também com histórias do passado, sobre como eles chegaram até aquele momento e também sobre outros personagens interessantes. Aliás, O Sol Também é Uma Estrela, é um livro que cativa em amplos aspectos: pela escrita, pela história, e pelas várias mensagens que transmite e por dizer tanta coisa em tão poucas páginas.

Nicola Yoon traz, além do romance com hora pré-determinada para acabar, debates como imigração ilegal, racismo, aceitação em família, depressão, além de outros temas totalmente relevantes no nosso dia a dia. E ela faz isso de uma forma gostosa de ler, que é através de personagens que surgem aleatoriamente na obra. E, isso mostra um pouco sobre como todos temos uma história, e sobre como a forma que tratamos uns aos outros pode determinar o futuro daquela pessoa específica que você não reparou porque estava correndo atrasado para algum lugar. Vale a pena a leitura!

O filme

A adaptação de O Sol Também é uma Estrela ficou por conta da diretora Ry Russo-Young e traz a atriz Yara Shahidi, como Natasha Kingsley, e Charles Melton, na pele de  Daniel Bae. Casal, inclusive, parece ter sido escolhido a dedo para dar vida aos personagens de Nicola Yoon, pois não deixa nada a desejar nas características de cada um.

Confira o trailer:

O longa traz o mesmo drama, baseado no livro e com as sequências descritas pela autora, com foco, principalmente, em destacar as coincidências que os levam até aquele momento em que estão juntos.

Para quem não teve oportunidade de ler o livro, o filme se torna um romance fofinho, meio água com açúcar, que é um bom entretenimento para quem curte o gênero. Mas para quem conhecer a história através da literatura, vai ficar bem frustrado com o roteiro mal explicado e cheio de furos. Deixando de lados aspectos importantes, como a família dos dois na narrativa, os preconceitos vividos por eles, e os diversos personagens que tem um contexto significativo para toda a obra.

É uma pena ter visto detalhes tão essenciais de fora da produção. Por ser um entretenimento focado em jovens, trazer para o debate questão tão relevantes hoje em dia é um fato que não pode ser deixado de lado.

Mas vale o entretenimento! O filme traz a cidade de Nova York diferente de como estamos acostumados a ver em outras produções, como somente a parte para turistas, executivos e lugares caros para visitar. Na adaptação, vemos comunidades de coreanos, negros, diversos restaurantes com todo o tipo de comida do mundo, além de outras partes da cidade, que acaba se tornando uma protagonista da trama.

A trilha também compõe bem essa estrutura exposta na produção, trazendo leveza e proporcionando diversão para o espectador, acompanhar o casal por diversas regiões da metrópole americana.

Warner/Divulgação

Apesar de não conseguir trazer para a tela de forma fiel ao livro de Yoon, a produção, diferente de romances juvenis recentes, que apostam na doença e na morte dos protagonistas, O Sol também é uma estrela  é relevante por além de trazer aquele velho clichê do amor impossível, abordar temas como a imigração, diferenças étnicas e  preconceito, que estão no centro do debate atual e merecem ser discutidos entre os jovens. 

A adaptação de O Sol também é uma estrela é um amorzinho leve, daqueles capazes de arrancar sorrisos e também algumas lágrimas discretas.  

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