O Sol Também é Uma Estrela traz romance leve com pitadas de crítica social
Você acredita em destino? Acredita no “feitos um para o outro”, ou no “o que tiver que ser, será”?! Há pessoas que crêem que tudo acontece por um motivo, e há também os céticos, que admitem acreditar que os acontecimentos não passam de uma simples coincidência, sem um objetivo definido no final.
A autora jamaicano-americana Nicola Yoon traz esse debate no título O Sol Também é Uma Estrela e, a cada história de um personagem que ela nos apresenta na narrativa, é capaz de criar um questionamento pessoal para o mais descrente dos indivíduos: será que realmente minha ação pode ter tanto impacto na vida de outra pessoa?
Lançado em 2017, a obra tem como tema central o romance entre Natasha Kingsley e Daniel Bae. Dois adolescentes que moram nos Estados Unidos, mas que sofrem por não pertencerem 100% àquele lugar. Isso porque Natasha e sua família são jamaicanos e imigrantes ilegais e Daniel é coreano, que precisa seguir fielmente as doutrinas de sua cultura, ou seja, não pode fazer simplesmente o que ele quer, e sim seguir o que sua família recomenda.
É preciso apenas algumas horas para que o jovem casal se apaixone perdidamente, e mesmo com todas as suas diferenças, não conseguem negar o sentimento um pelo outro. E, principalmente, a sensação de já terem se conhecido em outra vida.
O grande problema nessa história de amor é que Natasha só tem mais 24 horas no estado americano, pois a família dela está sendo deportada, porque o pai dela decidiu numa noite comemorar uma boa notícia, bebeu demais e bateu em uma viatura policial.
Correndo contra o tempo
É assim que a história de Natasha começa. Decidida a tentar corrigir o erro do pai, a adolescente passa o dia atrás de uma alternativa que permita que ela continue a estudar nos EUA, pois está no país desde os 9 anos. E os únicos amigos que conhecem estão lá, fora as oportunidades de universidades que ela gostaria de se candidatar.
A jovem quer se tornar uma cientista, é completamente cética, não acredita em amor e nem em coincidências. É apaixonada por rock e astronomia. Passa o dia na companhia de vozes como Kurt Cobain e Chris Cornell. Jura que consegue sentir o sofrimento nas músicas desses cantores e acha reconfortante.
“Quando Natasha pensa no amor, é nisto que pensa: nada dura para sempre. Como o hidrogênio-7, o lítio-5 ou o boro-7, o amor tem uma meia-vida infinitesimalmente pequena que decai até o nada. E quando acaba é como se nunca tivesse existido.” (pág. 56)
Daniel sonha em ser poeta. Acredita em destino, amor à primeira vista, e no juntos para sempre. Vai atrás de Natasha porque acredita que ela é um sinal de Deus em sua vida naquele dia, e cai de quatro por ela. A sua missão é fazer com que a garota sinto o mesmo por ele, mesmo tendo que deixar em segundo plano sua entrevista de admissão na Universidade Yale para se tornar médico, destino já traçado por sua família.
No meio do caminho do centro de imigração até um advogado especializado em imigrantes, que Natasha espera poder ajudar em seu caso, ela conhece Daniel. A combinação de diferentes ideologias entre os dois rende diálogos divertido, além de fofos e cheios de química, quando resolvem deixar de lado as diferenças.
A leitura te faz acompanhar o dia dos dois em Nova York. Mas também com histórias do passado, sobre como eles chegaram até aquele momento e também sobre outros personagens interessantes. Aliás, O Sol Também é Uma Estrela, é um livro que cativa em amplos aspectos: pela escrita, pela história, e pelas várias mensagens que transmite e por dizer tanta coisa em tão poucas páginas.
Nicola Yoon traz, além do romance com hora pré-determinada para acabar, debates como imigração ilegal, racismo, aceitação em família, depressão, além de outros temas totalmente relevantes no nosso dia a dia. E ela faz isso de uma forma gostosa de ler, que é através de personagens que surgem aleatoriamente na obra. E, isso mostra um pouco sobre como todos temos uma história, e sobre como a forma que tratamos uns aos outros pode determinar o futuro daquela pessoa específica que você não reparou porque estava correndo atrasado para algum lugar. Vale a pena a leitura!
O filme
A adaptação de O Sol Também é uma Estrela ficou por conta da diretora Ry Russo-Young e traz a atriz Yara Shahidi, como Natasha Kingsley, e Charles Melton, na pele de Daniel Bae. Casal, inclusive, parece ter sido escolhido a dedo para dar vida aos personagens de Nicola Yoon, pois não deixa nada a desejar nas características de cada um.
Confira o trailer:
O longa traz o mesmo drama, baseado no livro e com as sequências descritas pela autora, com foco, principalmente, em destacar as coincidências que os levam até aquele momento em que estão juntos.
Para quem não teve oportunidade de ler o livro, o filme se torna um romance fofinho, meio água com açúcar, que é um bom entretenimento para quem curte o gênero. Mas para quem conhecer a história através da literatura, vai ficar bem frustrado com o roteiro mal explicado e cheio de furos. Deixando de lados aspectos importantes, como a família dos dois na narrativa, os preconceitos vividos por eles, e os diversos personagens que tem um contexto significativo para toda a obra.
É uma pena ter visto detalhes tão essenciais de fora da produção. Por ser um entretenimento focado em jovens, trazer para o debate questão tão relevantes hoje em dia é um fato que não pode ser deixado de lado.
Mas vale o entretenimento! O filme traz a cidade de Nova York diferente de como estamos acostumados a ver em outras produções, como somente a parte para turistas, executivos e lugares caros para visitar. Na adaptação, vemos comunidades de coreanos, negros, diversos restaurantes com todo o tipo de comida do mundo, além de outras partes da cidade, que acaba se tornando uma protagonista da trama.
A trilha também compõe bem essa estrutura exposta na produção, trazendo leveza e proporcionando diversão para o espectador, acompanhar o casal por diversas regiões da metrópole americana.
Apesar de não conseguir trazer para a tela de forma fiel ao livro de Yoon, a produção, diferente de romances juvenis recentes, que apostam na doença e na morte dos protagonistas, O Sol também é uma estrela é relevante por além de trazer aquele velho clichê do amor impossível, abordar temas como a imigração, diferenças étnicas e preconceito, que estão no centro do debate atual e merecem ser discutidos entre os jovens.
A adaptação de O Sol também é uma estrela é um amorzinho leve, daqueles capazes de arrancar sorrisos e também algumas lágrimas discretas.
Livros ou suas adaptações? É sempre polêmico, né? Veja outros comparativos aqui