O (meu) Coração do Coelho
#horror
Sempre odiei animais: peludos, pelados, escamosos, penosos, insetos, sem ou com peçonha. Tinha aversão ao último, a peçonha me dava tremores só de imaginar seus efeitos. Não me lembro quando isso começou, mas faz bastante tempo. Lembro-me de uma versão de mim, bem menor e com menos barba, odiando os animais — sim, pois toda vez que me imagino uma criança, um adolescente ou um bebezinho eu estou de barba, acho que se me imaginar como o espermatozoide vencedor eu estaria de barba também. Queimando formigas o dia inteiro, chutando o cão velho e cego de um olho que pertencera ao meu pai, esmagando lagartixas, quando em geral, as pessoas tinham repulsa só de se imaginar executando esses pequenos atos socialmente reprováveis.
Agora eu, homem feito, percebo que não odiava todos os animais. Sempre tive um carinho enorme pelos filhotes, tão fofinhos, inocentes, com as bocas cheirando a leite materno e ração — só os mamíferos me despertavam interesse . Mas era o tempo de se tornarem maliciosos e sem truques novos que toda a fofura e afeição que eu sentia desapareciam. Eu queria (e por muitas vezes o fazia) destruí-los com minhas próprias mãos. Quando não chegava às vias de fazer eu me imaginava rasgando-lhes a carne macia com os dentes e unhas, sentindo o gosto ferroso e doce de seu último guincho na minha boca, estralando meus dedos na mesma frequência que seus ossinhos ainda pouco rígidos se quebravam e depois, mesmo quando era só imaginação, corria para me lavar no tanque que ficava no fundo da casa dos meus pais, torcendo por duas coisas: 1 – Que meus pais ou minha irmã não aparecessem até eu ter-me livrado de tudo, pois não sei o tamanho da bronca e surra que eu levaria, caso descobrissem; e 2 – Que o grandioso, poderoso, sabedor de todas as coisas, destemido, respeitado, temido e adorado, senhor de toda a glória, Deus estivesse ocupado cuidando de um outro assunto; que o quintal da minha casa fosse desinteressante demais naquelas tardes calorentas; que o resto do mundo precisasse mais dele naquele momento. Porque eu sentia imenso remorso logo que terminava o trabalho. Eu me sentia péssimo por ter tirado a vida de um animal, meus instintos eram horríveis e então eu rezava.
Eu rezava o tempo todo, exceto no período entre decidir que aquele animal estava velho demais para ser meu filhotinho e o momento em que eu começava a lavar meus lábios e as minhas mãozinhas tingidas de vermelho. Eu rezava para que chovesse, para que esfriasse, para que o sol não aparecesse um dia, só para ver o que acontecia. Rezava para um anjo me visitar enquanto estivesse acordado, também rezava por uma namorada, rezava para que meus pais ganhassem na loteria e não se esquecessem de mim e para que caso nunca ganhassem, assumissem que eu era filho adotivo. Como você pode ver como eu era uma péssima criança, um péssimo adolescente e, claro, me tornei um péssimo adulto.
À medida em que eu ia crescendo, passei a ignorar os animais e os filhotinhos também, tornei-me menos agressivo externamente. Por dentro eu permanecia odiando a tudo o que envolvia animais e até os filhotes que antes me enchiam de humanidade. Em se tratando de filhotes, nem de crianças eu consegui gostar depois que cresci. Aos vinte e tantos anos eu ainda não havia carregado um bebê no colo. Estava sempre inventando desculpas para me manter distante, e todo mundo achava que eu tinha medo de derrubar a criança.
— Ela não vai te morder! — certa vez minha irmã me disse quando notou que eu ainda não pegara no colo minha sobrinha de poucos meses de vida.
— Não é nada disso, Ju. Deixa de ser idiota. — respondi mau humorado. Minha irmã nunca descobrira o que eu fazia nos fundos da nossa casa nos agora remotos tempos de infância.
— Mas então por que você está com medinho? — ela me provocava sentada ao meu lado no sofá, ninando a criança que eu evitava olhar, enquanto eu mirava a TV, tentando me distrair com o jogo do Galo que passava pelo pay per view da casa dela.
— Não é medo. — a garrafa gelada de cerveja que eu segurava firmemente na mão direita começava a suar, assim como eu. — Eu só… porra eu não tô afim. Vamo ver o jogo?
— Esse seu time tá horrível, tu ainda não desistiu? — meu cunhado chegou assim que eu comentei sobre a partida, trazia duas cervejas em uma mão e um prato de amendoins salgados na outra.
O assunto estava ao menos adormecido por um tempo, mas claramente minha irmã ia pedir para que eu carregasse sua herdeira muitas vezes mais. Mas eu queria adiar ao máximo.
Tensos, assistimos quase em silêncio ao jogo, dando goles na cerveja e o amendoim jazia esquecido no prato. Senti, quase na metade do segundo tempo, a cabeça molenga de cabelos ralos da minha sobrinha tocar o meu braço. Me arrepiei imediatamente, o corpo tremeu de leve e eu precisei correr para o banheiro para tentar disfarçar, dizendo que não estava me sentindo muito bem.
Meu cunhado se levantou de pronto e me seguiu, eu fechei a porta antes que ele se aproximasse.
— Bicho, tá tudo bem? — ele perguntou com aquele sotaque chiado.
— Urrum. — respondi simplesmente. Não conseguia abrir a boca para mentir sobre o quanto me sentia mal.
Eu não aguentei muito tempo ali, o toque da criança no meu braço ainda estava presente, como a impressão de um fantasma pressionando meu braço. A cerveja ganhou vida dentro de mim e a queimação a trouxe de volta à minha garganta como um vulcão de massinha de modelar em feira de ciências.
Vomitei tudo o que havia comido desde o dia anterior.
— Ô meu, precisa que te arranje um remédio? — ainda na porta, o marido da minha irmã insistia em se mostrar preocupado comigo.
— Não, cara. — disse eu abraçado ao vaso sanitário. — Tô até melhor.
Ele não insistiu mais. Eu fiquei ali mais alguns minutos, lavei o rosto. Lavei a boca com água e usei o enxaguante bucal que já estava quase no fim. Nem cuspi, sentia que o sabor do vômito iria me fazer mal, então engoli a espuma de menta que se formara na minha boca. Era menos nojento que passar o resto da tarde com o gosto e cheiro do almoço de ontem saindo sempre que eu falasse.
— Você que me armou isso, seu puto. — eu falei voltando pra sala e me sentando no sofá, ignorando o olhar preocupado da minha irmã. — Me tirou da sala pra secar meu time, fala ai.
— E esse time seu precisa de gente secando pra afundar? — ele olhava para a TV quando me respondeu. — Fizemos foi um baita gol enquanto você estava fingindo que ia morrer no meu banheiro.
Peguei novamente a cerveja que abandonei pela metade na mesinha de centro, e um punhado dos amendoins que passaram a me interessar bastante.
— E você não diz nada, Ju? — eu empurrei minha irmã com o cotovelo. — Esse otário ai falando do nosso Galão.
— Ele nem sabe de nada. — ela riu enquanto me respondia. — Pergunta pra ele o nome de três jogadores do tricolor pra ver. Nem vale a pena discutir.
— PESADO. — disse eu colocando a mão na boca e olhando com os olhos arregalados para o cara sentado no outro sofá.
— Injusto! — retrucou ele fingindo indignação. — Eu não tenho folga pra ver jogo direito faz uns bons anos.
— É verdade, meu bem. — a Ju assumiu um tom balsâmico e mandou-lhe um beijo.
— Por isso que eu te amo tanto. — respondeu com uma piscadela e um sorriso torto.
— Mano, tem um bolo na geladeira, umas frutas também. — minha irmã demonstrou uma preocupação casual pelo ocorrido. — Vai lá comer alguma coisa.
— Tá. Acabando o jogo eu vou.
Já estava nos quatro minutos de acréscimo.
— Eu fiquei 5 minutos fora e sou craque. — reclamei enquanto levantava. — Esse juizinho ai deveria dar esse tempo na prorrogação.
Voltei um tempo depois para a sala e meu cunhado estava agora segurando minha sobrinha no colo com as pernas esticadas e os pés descalços cruzados sobre o tapete escuro. E minha irmã deitada no sofá maior com a cabeça na coxa dele.
— Boa craque. — o cara disse quando cheguei na sala depois de ter enchido a barriga. — Se fosse bom mesmo teria trazido mais cerveja.
Voltei rindo e peguei mais duas cervejas.
Mais tarde, minha sobrinha dormia pesadamente no berço e o casal assistia a um filme quando decidi ir embora. Um impulso primitivo me empurrou até o quarto do bebê.
— O titio vai aprender a gostar de você, viu? — confessei para a pequena adormecida. Até toquei seu corpinho protegido por uma manta azul.
Pouco tempo depois eu a carreguei no colo. Ela foi o primeiro e possivelmente o último bebê que eu aparei com os braços. Não pensei que fosse fácil, eu queria morrer sempre que tentava fazer esse esforço, e quando finalmente o fiz, acabei me acostumando, por medo de ter outro treco e deixá-la cair e se machucar.
O carinho que aprendi a sentir pela filha da minha irmã me fez melhorar bastante como pessoa.
Depois de adulto, não sei o que me deu de amolecer o coração (eu sempre dizia que era minha sobrinha que fizera o lobo virar vovózinha), mas talvez isso tivesse vindo com a idade mesmo. A gente se cansa de ser ranzinza em algum ponto da vida, sei lá. Eu parei de evitar as crianças, sempre perguntava pelos pais, se elas gostavam de algum desenho bobo, e até aprendi umas músicas da galinha bizarra em que minha sobrinha, agora com 4 anos, estava definitivamente viciada. Eu frequentava as festas de aniversário dela sem ficar escondido na cozinha e até exibia para seus amiguinhos as tatuagens coloridas que agora cobriam todo o meu braço, a tinta cobrira fisicamente o local em que a cabecinha nojenta daquele bebê tocara, mas eu ainda sentia a pressão no braço, o fantasma daquele segundo terrível continuava ali.
O quinto aniversário da filha da minha irmã seria em poucos meses e eu ainda não pensara no que comprar para ela. Passando na porta de uma casa de ração durante meu horário de almoço, vi filhotes de coelho em uma gaiola retangular, eram quinze no total, com aqueles focinhos rosados, os olhos aquosos e o pelo brilhante. Me aproximei da gaiola, tirando os óculos de sol para vê-los melhor. Apaixonei-me por um deles: cor de caramelo com uma cara curiosa, se é que dá para compreender expressões faciais de roedores. Pedi para que abrissem a gaiola para eu tocá-lo e ele abaixou a cabeça ficando repentinamente quieto quando toquei-lhe com a ponta dos dedos.
— Minha sobrinha vai amar. — comentei puxando o coelhinho para perto de mim. — É o aniversário dela em breve.
— É muito pequena? — a moça de rabo de cavalo e camisa de algodão perguntou me olhando com repentino interesse. — Animais precisam de atenção, cuidado, acompanhamento.
— Vai fazer cinco. — respondi sorrindo. — Ela dá conta, e os pais ficam de cima. E eles vão ficar putos comigo, mas pô, presentão né?
— É sim. — ela sorriu também. — E quanto aos cuidados com o animal…
— Internet! — respondi de pronto, cortando-a. — Pesquiso tudo na internet. Só que tenho de passar mais tarde, tô indo pro trabalho. Você pode reservar? Eu já deixo pago e tudo.
— Pode pagar quando voltar, não se preocupe. — informou-me. — Fechamos às seis.
Mais tarde voltei ao local, puxei o animalzinho pelo pedaço de pele que consegui agarrar próximo ao pescoço, abaixo da orelha, sob o olhar repreensivo da moça que abrira a gaiola. Paguei um valor pequeno pelo coelho, comprei alguma ração e fomos embora.
A figura ridícula de um homem magro, com quase trinta, barbudo, carregando nos braços um coelhinho que só poderia ser definido pela mesma palavra que define qualquer coelho no mundo: fofo. Meu rosto estava enrubescido, mas não de vergonha pelo que os outros pudessem imaginar, e sim por estar imensamente satisfeito com minha recente aquisição. Estava sentindo aquele amor que sentia quando era criança e ganhava um filhote, mas desta vez foi um pouco diferente, eu o havia adquirido por vontade própria e isso deveria estar fazendo alguma diferença.
No caminho, parei em uma sapataria e peguei uma caixa vazia na qual pedi para o atendente fazer alguns furos, pois era proibido que entrassem animais no meu prédio. Porém, uma vez dentro do apartamento, ele não sairia nunca mais e nenhum dos meus vizinhos ou qualquer condômino me visitava de qualquer forma.
Então o coelho estava a salvo da repreensão. Ele a essa altura também estava a salvo da minha sobrinha. “Ora, criança não sabe cuidar de animais, olhem para mim no passado e me digam se é possível que eu confie este animalzinho aos cuidados dela”. Esse coelho, que no caminho eu batizara de Terçafeira, seria um presente para mim. Pelo meu bom comportamento de anos pra cá. Restava saber se Terçafeira também estaria a salvo de mim mesmo.
Ele dormia comigo e eu acordava o tempo todo preocupado que pudesse sufocá-lo, ou que ele pudesse me sufocar com os pelos. E ele, curiosamente, acordava sempre que eu abria os olhos e ficava me observando. “Um filhote muito inteligente esse que eu arranjei”, eu pensava ao me virar para o lado alguns minutos depois de ficar olhando para o coelho iluminado pela claridade da noite que entrava pela janela que eu quase sempre mantinha aberta.
Os anos passaram e o coelho cresceu fazendo algumas descobertas inocentes, como aqueles vídeos do YouTube em que os coelhinhos estouram balões e saem correndo, derrubam algo e se assustam e depois voltam farejando com aqueles focinhos nervosos e cor de rosa. Ele se tornou mais preguiçoso e o mais estranho era que sobrevivera à mim e meu histórico agressivo, que agora parecia plenamente dormente. Eu já não achava mais estranho lidar com isto, cuidar de um coelho é bem simples, mesmo quando adultos as necessidades não mudam quase nada.
Certa noite, numa sexta, eu encontrei uma mulher em uma festa, estávamos muito bêbados, ela estudara comigo no ensino médio, como descobrimos depois de concordarmos que nos conhecíamos de algum lugar. Fomos para a minha casa de Uber e no banco de trás nos beijávamos e ríamos muito. Lembramos algumas coisas sobre nosso passado em que na verdade não compartilhamos nada além da mesma sala de aula.
Em casa, demorei um pouco para encontrar a chave certa.
— Eu deveria poder começar pela última chave, você não acha? — perguntei me sentindo completamente leve pela bebida, não sabia se minha língua estava enrolando.
— Ca-ra-lho! — ela disse lentamente, também afetada pelo alcool — A última chave é sempre a certa. Por que a gente tem que começar pela primeira?
— Não é? — eu estava rindo muito. Mas ficava colocando o dedo indicador sobre os lábios e fazendo “shhhhh” enquanto me abaixava sem forças de tanto rir.
Finalmente entramos.
Ofereci algo para beber.
— Já bebi demais por hoje. — ela me seguia até a cozinha. — Chega.
— Nem água? — insisti. — Vai fazer bem.
Eu fucei a geladeira, peguei uma maçã e uma garrafa de água. Ela pegou da minha mão a garrafa, tirou a tampa e bebeu direto do bico, deixando um pouco cair, sem querer, molhando um pouco seu vestido marinho. Limpando a boca com as costas da mão ela me devolveu a garrafa pela metade. Eu tomei o restante da mesma maneira. Dei mais algumas mordidas na maçã enquanto ela estava sentada mirando a bancada de madeira, fazendo alguns comentário meio sem nexo.
— E então, a gente vai transar ou o que? — ela me perguntou inesperadamente.
— Você quer mesmo? Tá se sentindo bem? — eu estava muito afim, mas eu evitava transar com mulheres nesse estado de embriaguez, porque se a mulher diz que tava inconsciente é problema pra mim, e eu não quero problemas pra mim, sacou?
Ela não respondeu convencionalmente. Veio pra cima de mim, começamos a nos agarrar ali mesmo, a maçã rolou e parou esquecida do outro lado da bancada.
Já estávamos sem nossas roupas quando chegamos no meu quarto e me deitei sobre ela, colocando todo o peso do meu corpo enquanto forçava sua cabeça para trás, para o lado de fora da cama, beijando-lhe o pescoço.
— Mas que porra é essa? — ela estava de olhos abertos.
Acompanhei a direção que o queixo dela indicava e vi, ali sob a luz da noite que ainda entrava pela minha janela quase sempre aberta.
— Ah, que susto! — eu voltava a beijar seu pescoço. — É o Terçafeira, meu coelho.
— E esse bicho é voyeur por acaso? — ela se posicionou com o corpo todo em cima da cama, mesmo eu tentando mantê-la como antes.
— Sei lá, o bicho é o bicho. — perdi um pouco da paciência com a conversa. — Quer que eu o tire daqui?
— Não, deixa pra lá. Foi curiosidade só.
E eu continuei, Mas enquanto eu a beijava de olhos fechados eu via o coelho. Quando abri os olhos eu o via me encarando com o mesmo olhar de quando o comprei naquela casa de ração. Parecia muito interessado em nós ali na cama. Macabro sob a luz amarelada.
Eu me virei e a mulher (não consigo me lembrar seu nome por mais que me esforce) se colocou em cima de mim virando meu rosto para o lado oposto ao da janela de onde Terçafeira nos vigiava. Poucos segundos depois, Terçafeira estava ali, do outro lado, e eu via sua silhueta pálida e os olhinhos brilhando.
Eu não conseguia me concentrar no sexo. E não era apenas porque o coelho estava nos encarando. Eu estava me sentindo mal.
Eu entendi em pouco tempo.
Eu estava apaixonado pelo coelho.
Terçafeira tomara uma parte pouco explorada do meu coração. Eu estava apaixonado pelo meu coelho. Qual a chance? Logo eu. Broxando com uma mulher na cama porque só pensava no amor que sentia pelo coelhinho e que eu o estava traindo bem na sua frente.
— Que foi? – ela percebeu que eu estava desanimando. — Quer que pare?
— Aguenta aqui, 5 minutos eu volto. Vou só levar esse filho da puta pra outro lugar.
Me levantei, fechei a cortina da janela e peguei Terçafeira pela pele perto do pescoço, como sempre fazia. Mas não o carreguei no colo, saí com ele pendurado. “Meu coração é seu, Terçafeira” eu disse baixinho na cozinha, encarando o coelho que deixei em cima da bancada. “É justo que o seu também seja meu, parceiro”.
Um pouco mais de cinco minutos depois eu voltei para o quarto, completamente renovado. Me perguntando se ela já havia dormido.
— O que houve? Achei ter ouvido um barulho agudo. — me perguntou completamente desperta, embora ainda embriagada.
— Nada, não. — eu tropecei no caminho.
— Entendi. — ela não quis perguntar mais e voltou exatamente de onde havíamos parado. Com fôlego renovado.
— Esse gosto na sua boca…
— Aquela maçã, comi mais um pedaço quando passei pela cozinha.
— Mas esse gosto…
Antes que ela descobrisse, no escuro, o sangue que escorrera da minha boca eu a agarrei encerrando o assunto, havia coisas melhores do que conversar a se fazer na cama.
E certas coisas nunca mudam, por isso, uma vez mais, eu rezei.
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