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O Iluminado, uma adaptação que divide opiniões

por Barbara Andrade
6 minutos de leitura

Quem ainda não conhece “O Iluminado” (The Shining), deveria conhecer. Não é uma história de suspense qualquer, é uma história de suspense contada (escrita) pelo mestre do suspense, Stephen King. Sem dar muitos spoilers, o que posso dizer é que o confinamento em um crazy hotel pode fazer coisas horríveis com a mente de alguém. Saída das páginas do livro, a história chegou às grandes telas em 1980 com uma interpretação fantástica do ator Jack Nicholson.

Livros ou suas adaptações? É sempre polêmico! 

O que se diz por aí é que Stephen King não gostou nem um pouco do resultado do filme.  O escritor não esconde a insatisfação com a mais aclamada adaptação de um de seus livros. E, pasmem, o filme foi dirigido por ninguém menos que Stanley Kubrick. Sim! Aquele mesmo que dirigiu “Laranja Mecânica” e “2001, uma Odisseia no Espaço”. É claro que, entre os fãs da história, há controvérsias e tem gente que prefere o filme.

Livro X Adaptação – O Iluminado

A verdade contada no livro é que o personagem principal, Jack Torrance, é um cara legal. Ele tem problemas com bebida e passa por situações ruins devido ao vício, mas é um cara legal. Ama a esposa e o filho e se esforça para ficar sóbrio. Já no filme, Jack se mostra um ser humano não muito amável desde o início. Ainda nas primeiras cenas da adaptação, Jack fala ao telefone com a esposa e em nenhum momento passa a impressão de ser um marido amoroso. Em outros diálogos com a família, Jack não parece ser um pai muito legal também. Contam por aí que isso é uma das coisas que não agradaram a Stephen King. A ideia do livro é mostrar que Jack foi se tornando uma pessoa mais agressiva e até perigosa por influência do Hotel Overlook, um lugar que tem uma força maligna que passa a dominá-lo.

Na obra de King, a mudança de Jack de um cara legal para um cara mentalmente instável é gradativa, dramática e até um pouco chocante. A história do livro abre espaço para que o leitor queira o bem de Jack, algumas pessoas torcem por ele. Essa torcida fica bem mais difícil no filme. Além disso, a adaptação não deixa muito claro que Jack é um alcoólatra passando por um processo para largar o vício.

Continuando…

Jack decide ir trabalhar como caseiro de inverno no Hotel Overlook durante um período em que o local não tem hóspedes e fica completamente isolado pela neve. Jack é também um escritor sem inspiração que acredita que esse período de isolamento o ajudará a quebrar esse bloqueio artístico. Então, ele, Wendy (sua esposa) e Danny (seu filho) vão para o hotel onde a história começa a se transformar. O que não muda na versão cinematográfica é a condição de Danny. O garotinho é um iluminado e tem o dom de ver coisas que já aconteceram e coisas que ainda vão acontecer, além de conseguir enxergar os fantasmas que habitam o Overlook.

Outra coisa bem criticada na adaptação é que a personagem Wendy (interpretada no filme pela atriz Shelley Duvall) é apresentada como uma mulher muito frágil. Quem assistiu ao filme, percebeu que ela só grita e chora, além de fazer coisas estúpidas. No livro, ela é bem inteligente e corajosa. Essa mudança nas características da personagem é bastante dispensável. Não custava nada deixar a mulher como o livro a descreve, bem mais interessante, com certeza. Em entrevista Stephen King disse até que o filme “é muito misógino”. King também acha que a adaptação tem um tom frio, diferente do que ele escreveu.

A personagem Wendy foi vivida pela atriz Shelley Duvall.

Em contrapartida, uma das cenas mais clássicas do filme não está no livro. Sabe aquele momento em que Danny Torrance (interpretado por Danny Lloyd) está tranquilo, passeando de triciclo pelos corredores do hotel, e de repente dá de cara com os espíritos das duas menininhas e elas falam para ele: “Vem brincar com a gente”? Sim, aquela cena super legal que dá até um certo sustinho não está no livro.

Uma das cenas mais clássicas do cinema mundial.

O final do filme adaptado por Kubrick não é o mesmo final do livro de Stephen. Não dá para entender porque alguns diretores mudam o fim das histórias. Acho isso meio estranho. Tipo… é o fim da história, cara! Não o mude, a não ser que tenha realmente um bom motivo para isso. Caso contrário, deixe como é. Dizem que Stephen King escreveu um roteiro para o filme e que Kubrick simplesmente o ignorou.

Enfim… preciso discordar do mestre Stephen King e dizer que eu adoro o filme. Me arrisco a dizer que, em muitos momentos, eu gosto mais da adaptação do que do próprio livro. O filme é mais intenso e tem cenas que dão muito frio na barriga. Eu entendo as críticas de King com relação a adaptação e concordo com algumas delas (principalmente em relação a Wendy e ao final da história), mas o filme tem uma adrenalina gostosa de se viver. Outros pontos positivos para a história que foi ao cinema são: a perfeição dos cenários, a beleza da fotografia e a atuação sensacional de Jack Nicholson, com aquela expressão maluca e doentia no rosto.

O livro também é muito bom, um pouco arrastado, mas vale a pena ler. É também um dos livros mais conhecidos de Stephen King. Será que a popularidade do livro se deu pelo sucesso da versão cinematográfica? Será que esse é um dos raros casos em que o filme fez o livro? Não dá para afirmar, mas o fato é que a adaptação ficou eternizada como um dos melhores filmes de terror da história do cinema e é lembrado com destaque entre as obras dirigidas por Kubrick.

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