Lugares escuros: Um livro impressionante, um filme morno!
Ler um livro e depois descobrir que já existe um filme sempre gera uma expectativa. ‘Será que aquele trecho vai ser como imaginei?’ ‘Não podem deixar essa cena de fora… ’
Todo mundo espera alguma coisa de um filme adaptado, e não vem negar não, que eu sei que você espera. Infelizmente, porém, em grande parte das vezes, a gente acaba se decepcionando. Não pelos infinitos quesitos técnicos que impossibilitam um filme de ser idêntico ao livro, não estamos falando disso. Estamos falando que às vezes as produções dão cada vacilo que não tem como defender. Um exemplo disso é o livro “Lugares Escuros”, da Gillian Flynn.
Na trama, somos apresentados a história de Libby Day, que aos sete anos presenciou o assassinato brutal da família inteira, mãe e as duas irmãs. A única pessoa que sobreviveu foi o irmão mais velho, a quem Libby acusou do crime e que hoje cumpre prisão perpétua. Nos dias atuais, Libby não trabalha, e vive de um fundo de doações da época da tragédia, contudo, a grana acabou e agora ela está se vendo sem opção, afinal nunca trabalhou.
Libby recebe, então, um convite para participar de um estranho clube de pessoas que são fascinadas por grandes assassinatos não resolvidos. Em troca de algum dinheiro, ela aceita ir a algumas reuniões do Kill Clube, e, juntamente com um integrante de lá, fascinado por sua família, começa a juntar fatos que não haviam sido notados antes e aos poucos a perceber que pode ser que sua memória a tenha enganado por anos, e, que talvez, nada seja como ela pensou que fosse.
Lugares escuros é narrado por três vozes. Algo que eu achei incrível, pois muitas vezes a visão de apenas um dos lados pode estar corrompida, ou pode não representar a totalidade da verdade. Ouvimos Libby, nos dias atuais, com seus traumas e problemas, e, no passado, temos as perspectivas de sua mãe e de seu irmão, acusado do crime. Acho a narrativa do irmão de Libby, Ben, a mais instigante e cheia de elementos interessantes, além das reviravoltas, contudo, no quesito psicológico, eu diria que os três são bem construídos, com suas trevas e luz, que venhamos e convenhamos, todos temos.
Outro elemento incrível do livro é o fato de cada capítulo começar com uma hora, como uma contagem regressiva, e como você sabe a hora que o crime aconteceu, vai vendo o momento se aproximar e percebe como os acontecimentos vão se afunilando para levar até o instante do massacre. É construída uma tensão e uma expectativa incrível. E quando você descobre o que realmente aconteceu ali, fica chocado. Nenhuma das teorias que você traçou até então vão se concretizar. Te garanto!
Filme: Agora, se tratando do filme de 2015, do diretor Gilles Paquet-Brenner, que dirigiu o incrível “A chave de Sara”, não se pode esperar muito. Ele é a prova que nem uma talentosíssima Charlize Theron no papel de protagonista pode salvar um roteiro mal feito. O filme não conseguiu transmitir aquela inquietação, aquela sensação da iminência de uma coisa muito ruim.
A narrativa não se desenvolve bem, e, com isso, a trama ficou chata, o roteiro deixou pontas soltas que nem de longe eram tão difíceis de amarrar, o que deixa o espectador com a sensação de que algo está faltando. As exceções ficam por conta da maravilhosa Chloe Grace-Moretz que dá um show de atuação em um papel pequeno e da incrível Christina Hendricks, no papel da mãe de Libby, que toma conta do filme com uma atuação impecável. Cada fala e trejeito dela, consegue transmitir exatamente o que ela deseja passar, uma mãe feliz por seus filhos e infeliz por criá-los sozinha e sem nenhum dinheiro.
A adaptação de Lugares Escuros não impressiona, não assusta e não conduz ao clímax maravilhoso do livro. Temos aqui um caso em que o filme servirá apenas para complementar a experiência, uma vez que o livro é infinitamente melhor.
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