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Jogador nº 1 é um tributo a cultura pop dos 1980

por Elis Rouse
9 minutos de leitura

Jogador nº 1 é um tributo a cultura pop dos 1980

“Jogador nº 1” é um dos livros mais inteligentes que já eu li. E olha que ficção e fantasia não são a minha praia, mas o livro me pegou de um jeito, que li em poucos dias e amei. “Jogador número 1” é um tributo a cultura dos anos 1980, desde os filmes, músicas, séries, programas de TV e claro, o nosso primeiro contato efetivo com a tecnologia, os videogames. Anos 1980 e 1990 deixaram marcas, e se hoje já sentimos saudade da qualidade cultural daquela época, imagine daqui a 20 anos. Este livro é uma oportunidade de relembrar.

A história: As perspectivas de futuro na história criada pelo americano Ernest Cline, são desanimadoras e sombrias, nem um pouco diferente daquilo que já foi abordado em diversas obras cinematográficas e literárias. Em 2040, a vida na terra é um pandemônio: caos no clima, crise de energia, há fome e miséria por toda a parte, vivemos sobre o que restou de inúmeras guerras. E o único alento de uma geração de sobreviventes é o “Oasis”, uma plataforma de realidade virtual, criada pelos amigos James Halliday e Ogg Monroe, que se tornou o centro do mundo, responsável até mesmo pela educação das crianças e jovens. 

“Um lugar agradável para que o mundo se escondesse de seus problemas enquanto a civilização humana lentamente ruía, principalmente por negligência”. (pág.156)

Enquanto no mundo real impera o desemprego, a violência, e os efeitos devastadores da poluição, o Oasis apresenta a alterativa de um mundo perfeito, onde cada “login” pode ser e fazer o que quiser, com acesso gratuito a todos, sem distinção. Praticamente tudo o que um dia se viveu na terra que conhecemos hoje, poderia ser feito dentro do Oasis, bastava alguns cliques e um óculos de estilo 3D, para acessar outros mundos, participar de campeonatos esportivos, encontros religiosos, apresentações musicais, e até encontros virtuais.  O Oasis se tornou um modo de vida e valia muita grana.

“Passei boa parte de minha infância caminhando por uma simulação em realidade virtual da Vila Sésamo, cantando músicas com os simpáticos Muppets e jogando jogos interativos que me ensinaram a andar, falar, fazer contas, ler, escrever e compartilhar.” (pág. 24)

Capa livro – Editora Leya

E é justamente quando um dos seus criadores morre é que se tem a dimensão do valor e da importância da plataforma, como influência mundial, caso caia em mãos erradas. James Halliday deixa no seu testamento um desafio inusitado, toda a sua fortuna e o controle do Oasis ficaria nas mãos de um único “login”, o jogador que conseguisse desvendar todos os enigmas (envolvendo outra grande paixão de Halliday a cultura pop dos 80) e alcançar o seu “Easter egg” ou apenas “ovo”. Dá-se início assim a uma grande caçada e a um frenesi no mundo real e virtual.

Engana-se quem pensou que desvendar os segredos de Halliday seria fácil, cinco anos se passaram desde a sua morte, as notícias sobre a fortuna escondida no Oasis já haviam esfriado e o placar virtual continuava zerado. Até que em fevereiro de 2045, um garoto de 18 anos inaugura o placar encontrando, uma das chaves do desafio. Wade Wats morava com a tia e mais 15 pessoas em um trailer, em um grande parque de trailers, às margens da cidade de Oklahoma. Como todos, Wade passava mais tempo no Oasis que no mundo real, e quando não estava logado na plataforma, estava jogando videogame em um laptop, achado no lixão. O pai morreu assassinado, a mãe de overdose. A caça ao Easter Egg de Halliday foi a motivação para Wade, um garoto pobre sem nenhuma perspectiva, continuar vivendo.

Apaixonado pelo mundo dos games e um grande fã de Halliday, Wade dedicou todo o seu tempo a estudar sobre o passado do criador do game, e tudo àquilo de que ele mais gostava. Decorou as músicas preferidas de Halliday, assistiu todas as séries e desenhos animados, viu filmes, leu livros e gibis colecionados por Halliday, jogou todos os videogames e por fim, memorizou o almanaque de Halliday, uma espécie de biografia do grande mentor do Oasis. Sem dúvida, um jogador preparado para a disputa.

No entanto, a mesma dedicação e conhecimento de Wade, são reconhecidas em outros cinco jogadores, que também movimentam o placar, logo após a descoberta dele. Aech é o  seu melhor amigo “virtual”, os dois estudam na mesma escola dentro do Oasis, jogam videogame juntos, trocam conhecimento sobre a caça ao ovo, mas não se conhecem pessoalmente, algo bem comum para a época. A representante feminina do grupo dos “5 do topo” do ranking da caça ao ovo é Art3mis, inteligente e empoderada, vai alternar o primeiro lugar com Wade e mostrar que mulher, entende sim, de videogame e joga muito bem, melhor até que muito macho por aí. Wade tem um crush na Art3emis mesmo antes de se conhecerem e achei bem legal a expectativa criada para o encontro, entre os dois. Fechando o top 5 do ranking, os amigos e samurais Shoto e Daito.

É claro que quando cinco avatares saem na frente da disputa, alguém vai ficar muito irritado. Esse alguém atende pelo nome de Nolan Sorrento, e a empresa IOI, a galera do mau, que quer, principalmente, assumir o controle do Oasis. Para isso, Sorrento não vai medir esforços para impedir que Wade e seus amigos vençam o desafio, mesmo que para isso ele tenha que agir na vida real. Civilização virtual e real correm perigo, caso caia nas mãos da IOI.  

 “Jogador nº1” é um livro ágil, inteligente, com suspense, ação, romance, aventura e tudo que um bom videogame tem para nos oferecer. É impossível ler o livro e não imaginá-lo em uma versão para o cinema, muitas das cenas de estratégia, de ação, de mistério, parecem ter sido escritas em um roteiro para ser dirigido por ninguém menos que Steven Spielberg, inclusive, citado no livro como um dos diretores preferidos de Halliday.  

“Jogador nº1” é um sonho nerd que se tornou realidade, na adaptação para o cinema

Antes de qualquer coisa, esse sonho pertence a Ernest Cline, que colocou no papel toda a sua paixão pelos games, e construiu uma história fantástica. Participando da criação do roteiro do filme, ao lado de Zak Penn (Os Vingadores), esperava-se de Cline certa fidelidade ao livro, mas o que se viu no cinema, foi algo tão surpreendente, quanto na literatura. O filme manteve apenas a essência da história descrita na resenha acima, e alterou os principais acontecimentos da trama, colocando cenas inexistentes no livro ou apenas alterando as referências culturais. Como é o caso da eletrizante corrida do primeiro desafio, com direito a King Kong, Tiranossauro, e  a cômica cena, no cenário do filme “O iluminado”, ambas não existem no livro. 

Divulgação

Cline criou uma nova versão da sua história, especialmente para o cinema e brindou os fãs com uma adaptação sensacional. É como se tivéssemos duas histórias, uma para ler e outra para assistir.  Com a direção de Steven Spielberg, que dispensa qualquer comentário, “Jogador nº 1” é um filme eletrizante e divertido. Os efeitos especiais da realidade virtual te fazem sentir dentro de um super videogame e a cada referência identificada, a sensação de empatia é extasiante. Do nada aparecer um He-Man e o boneco Chuck, um personagem usar um “hadouken” para se defender, ou ainda tocar aquela música antiga, é muito nostálgico. A escolha dos atores foi perfeita, todos se encaixaram nas descrições do livro e, literalmente, deram vida aos personagens sem rosto, da história literária.

Se no livro, com todas as descrições, a leitura mesmo assim se mantem ágil, no filme não é diferente, a trilha sonora, as cenas de ação, e até mesmo o romance, fazem as mais de 2 horas de duração passarem voando.  O enredo bem construído e amarrado, vai te prender do início ao fim e quando terminar, você vai lamentar e querer ver de novo, para colher as referências que passaram despercebidas. “Jogador nº 1” é a ficção a ser batida e se você é desses que pensa que se tem o livro, não precisa ver o filme, ou se tem o filme, não precisa ler o livro, essa justificativa foi derrubada nessa casadinha.  

Sobre a história: A leitura deste livro me fez refletir sobre o nosso futuro. A transformação das relações interpessoais e a tecnologia que enfim domina o homem, já é uma realidade. Apenas vinte e dois anos nos separam da história criada por Cline, e a sensação de talvez ele possa estar certo em tudo que escreveu, permanece por muito tempo na nossa mente. 

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1 comentário

Camille 29 de março de 2018 - 12:15

Amei a resenha ! Quero o livro a muito tempo, desde que ouvi falar. Nossa, depois do filme fiquei super ultra mega power motivada ! Voces descreveram o filme muito bem, porque o que vocês sentiram também senti, a emoção, a adrenalina e o amor em uma só adaptação. ❤️
Quero ver de novo !

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