Fala sério, mãe! – Por mais adaptações de livros nacionais
A Thalita Rebouças está entre as minhas escritoras favoritas, gosto da simplicidade com que ela escreve. Seus livros são leves, divertidos, atuais e fáceis de ler. Sempre rola uma identificação com algum personagem, e os conflitos são os do nosso dia a dia, comuns a qualquer um de nós. Com isso, ela consegue passar sua mensagem, imprimir um tom de realidade e conquistar todos os públicos. Com o “Fala sério, mãe” não foi diferente. A história da relação entre uma mãe e a sua filha adolescente caiu no gosto tanto dos adultos, como dos adolescentes.
A história é narrada pela mãe, Ângela, e pela filha Maria de Lourdes, e é muito bom conhecer o ponto de vista das duas. O texto é muito dinâmico e os diálogos são hilários. As primeiras páginas são dedicadas a Ângela que começa nos contando sobre a sua gravidez, uma mãe de primeira viagem que espera ansiosa a chegada da filha. Ela narra de maneira divertida os quilos a mais, o excesso de atenção recebida neste período e a mania que as pessoas têm de passar a mão na barriga de uma grávida. Com a chegada da filha, conhecemos o outro lado nada glamoroso da vida de uma mãe super protetora, zelosa, e que se dedica de corpo e alma à filha. Vamos acompanhando sob os seus olhos o crescimento da filha, o nascimento dos irmãos (Mário Marcio e Malena), e todas as primeiras vezes da Maria de Lourdes, que, desde pequena, já era uma menina “geniosa”, palavras da mãe, afrontosa, se o livro fosse escrito hoje. Aos 13 anos, a narração fica por conta da adolescente Maria de Lourdes, suas neuras, seus dramas, a convivência com o seu pai, seus irmãos e, claro, a relação conturbada com a mãe, que se recusa a reconhecer que a filha não é mais criança. As duas protagonizam cenas divertidíssimas em fatos que marcaram ou marcarão sua vida familiar.
Toda adaptação literária é esperada com ansiedade pelos fãs, que sempre cobram uma certa fidelidade, que muitas vezes deixa a desejar. Como já vimos aqui, esse não foi o caso do mais recente sucesso cinematográfico, a adaptação de “Extraordinário”, da escritora R.J. Palacio, que seguiu fielmente a história literária. Esse também não é o caso de “Fala sério, mãe!”. Será difícil ler o livro agora e não pensar na Ingrid Guimarães e na Larissa Manoela como protagonistas perfeitas para a trama, as duas incorporaram com maestria as personagens que idealizamos na leitura, desde os trejeitos até o tom de voz. Acredito que a participação da Ingrid Guimarães (protagonista) e da dona da história, Thalita Rebouças, no roteiro garantiu a fidelidade das cenas escolhidas para adaptação e a reprodução exata dos diálogos tão marcantes na obra literária. Interessante é que há cenas no livro que não estão no filme e vice-versa, mas que fazem tanto sentido na história, que ambas se complementam. O comando de um especialista em adaptações literárias, o diretor global Pedro Vasconcelos, também faz toda a diferença, com uma direção de “responsa” que nos brindou com uma comédia leve, divertida e gostosa de assistir e mais atual, impossível. A trilha sonora é uma delícia e se encaixa perfeitamente em cada cena. As atuações impecáveis de todos os atores garantem aquela naturalidade, marca da escrita da Thalita Rebouças. Quero destacar a atuação das crianças na primeira fase, que talento! Elas são responsáveis por construir uma empatia entre o telespectador e a trama.
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Assim como no livro, o filme desperta várias emoções. Você vai rir muito e se identificar com pelo menos uma situação vivida pelas duas, mas, também vai se emocionar com um momento que gostei bastante, quando os papéis se invertem e a filha se torna a mãe. “Um belo dia, você acorda e se vê obrigada a cuidar um pouco de quem sempre cuidou de você”. A separação dos pais é um ponto forte tanto no livro quanto no filme, é de cortar o coração quando a Maria de Lourdes narra “cada discussão tinha mais decibéis do que a anterior” e no filme quando os irmãos se encolhem nos braços da irmã mais velha. “Tudo o que a gente faz pelos nossos pais não é nada do que eles já fizeram pela gente”. Esse é o marco para a virada na vida das duas, e o leitor/ telespectador entende que, na verdade, elas são iguais, cúmplices de uma relação eterna.
É importante ressaltar que, quando abrimos o cotidiano e o diálogo no núcleo familiar, temos acesso àquilo que muitas vezes não verbalizamos em público. Alguns diálogos no livro continham frases um tanto quanto preconceituosas, como a insistência da mãe para que a filha não fosse “fácil”, quando chama a filha de “baleia” e “hipopótamo” ou em frases como “mulher no volante perigo constante”, que graças a Deus, na adaptação quase desapareceram. “Fala sério, mãe!” é o retrato da convivência familiar com todo o pacote que temos direito, seus defeitos e suas qualidades. Tem emoção, drama, bons momentos de reflexão e principalmente, comédia. Afinal, o que seria de nós encarando as relações diárias sem humor.
Valorizando a literatura nacional, a Paris Filmes e Downtown Filmes nos entregaram uma adaptação literária perfeita. Temos excelentes escritores nacionais, com histórias primorosas aguardando por uma oportunidade para adaptação. Por favor, invistam. Os fãs agradecem!
As atrizes Ingrid Guimarães e Larissa Manoela, e o diretor Pedro Vasconcelos, falaram sobre os desafios de dar vida aos personagens de uma obra literária.
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