Grande parte das pessoas que gostam ou conhecem o filme “Bonequinha de Luxo” não devem ter lido a novela de Truman Capote que deu origem ao filme. Todos se lembram de Audrey Hepburn e seu vestido Givenchy, porém a história de Holly Golightly é muito mais profunda e cruel do que todos pensam.
O enredo do livro é ao mesmo tempo bem próximo e muito afastado da adaptação cinematográfica. Muito confuso? Calma, eu explico. Ao mesmo tempo em que muitas das falas do livro estão ipisis litteris no filme, as personagens do livro se afastam muito das interpretações dos atores. Enquanto Holly de Audrey é divertida, a de Capote é triste e, às vezes, um pouco sem sentimentos. Não que uma seja melhor que a outra, gostei das duas e, em alguns momentos, queria ter a presença que a Bonequinha de Luxo tem. A maneira como o autor cria uma personagem que encanta a todos os coadjuvantes e aos leitores, de uma maneira hipnótica, é quase impossível que alguém consiga construir algo semelhante.
O narrador personagem é Fred, escritor e vizinho da protagonista. Mesmo tendo sérios problemas em aceitar narrações em primeira pessoa, tenho que dizer que, quando feitas da maneira como são realizadas nesse livro, não deixando questionamentos, é perfeito. Nada desgastante ou irritante como pilhas de livros contemporâneos em que as personagens continuam a contar suas histórias. Fred, diferente do filme, não é o par romântico de Holly, mas mais um dos seus admiradores. Então, esqueçam as declarações na chuva.
Achei o livro tão atual e divertido, mas, ao mesmo tempo, tão triste. “Bonequinha de Luxo” é daquelas leituras que geram vários sentimentos. Devorei as suas poucas páginas e queria mais, acabei de ler com aquele vazio, sentindo falta das aventuras da jovem sem posses, com seu pobre gato sem nome. Achando o livro e o filme tão diferentes, mas tão perfeitos ao seu modo. Vale ler e assistir, porque a Holly Golighly loira das páginas do livro e a Holly morena de Audrey são igualmente maravilhosas.