De “A história sem fim” ao “Mistério do relógio na parede”: Relembre clássicos da literatura fantástica adaptados para o cinema
Não é de hoje que o cinema se apoia na literatura para compor seus clássicos. A história já está pronta e com um público relativamente formado. Alguns já com uma legião de fãs ávidos por ver seus personagens favoritos tomarem forma nas telonas do cinema.
Em muitos casos, o filme é o responsável por promover o livro onde aquela história ainda não chegou. Em outros, a adaptação e a obra literária se complementam de tal forma que parecem que foram feitas uma para outra. Na maior plataforma de streaming, a Netflix, existe, inclusive, uma aba dedicada aos livros que viraram filmes.
Os romances, a fantasia, a ficção e mais recentemente as distopias, disputam as bilheterias com a enxurrada de filmes de super-heróis e de ação que dominam os cinemas atualmente. Batem de frente e conquistam o gosto do público e o ranking das bilheterias mundiais.
São séries literárias que viraram franquias cinematográficas, ou apenas filmes únicos que impulsionaram as vendas dos livros e deram muita visibilidade aos autores.
No topo do ranking das maiores bilheterias em franquias aparecem as adaptações da “Saga Crepúsculo” – Stephenie Meyer (US$ 3,34 bilhões); a distopia “Jogos Vorazes” – Suzanne Collins (US$ 2,96 bilhões) e os clássicos da literatura fantástica: A trilogia de “O Senhor dos Anéis” e “O Hobbit” – J. R. R. Tolkien (US$ 5,8 bilhões) e o queridinho de uma geração inteira de leitores, a Saga “Harry Pottter” – J.K. Rowling (US$ 8,53 bilhões ).
Os filmes baseados em apenas um livro, também merecem o seu destaque. Figuram entre as maiores bilheterias do cinema o best-seller do escritor Dan Brown “O Código Da Vinci” (US$ 758 milhões); “A culpa é das estrelas” do norte-americano John Green (307,2 milhões USD ); “O Extraordinário” da também americana J. C Palácio (305,6 milhões USD); “A noviça rebelde” da escritora austríaca Maria von Trapp (US$ 286,2 milhões); “Como eu era antes de você” da britânica Jojo Moyes (208,3 milhões USD);
Não podemos esquecer dos clássicos da literatura infantil. A importância do gênero para a formação do leitor e desenvolvimento da criança, não passa despercebido pelos produtores de cinema. Baseados em best-sellers infantis aparecem no topo das maiores bilheterias “A Bela e a Fera” da francesa Gabrielle-Suzanne Barbot (versão de 2017| 1,264 bilhão USD); “Alice no País das Maravilhas” do escritor britânico Lewis Carroll (versão 2010| 1,025 bilhão USD); “Malévola” inspirada no conto da Bela Adormecida escrita pelo francês Charles Perrault (versão 2014| 758,5 milhões USD).
A literatura fantástica é uma queridinha dos produtores de Hollywood que podem abusar dos efeitos especiais e da tecnologia, explorar cenários e personagens exóticos, aliados a questões e problemas relacionados ao cotidiano.
A fórmula é muito parecida: crianças e adolescentes em sua maioria nerds inteligentes, invisíveis na sociedade, que encontram uma maneira de fugir da realidade para não encarar problemas como bullying, perdas, violência e solidão.
Essa fuga se dá invariavelmente por meio da imaginação ou de algo literalmente mágico. De repente a sobrevivência de mundos jamais imaginados, reinos distantes, e até o planeta Terra está nas mãos desses desajustados. É aí que entra os principais valores propagados por essas histórias, o poder da amizade, o combate às injustiças e o mal, superação e uma dose de amor.
A dobradinha literatura fantástica e cinema começou há muito tempo. Relembre alguns clássicos da literatura fantástica que viraram filme.
1984 – A história sem fim: Aposto que você assistiu a este filme exaustivamente na Sessão da Tarde e não sabia que era baseado em livro. Sim! No livro “Die unendliche Geschichte” do escritor alemão Michael Ende.
Sinopse: Para fugir do bullying, da perda da sua mãe e das dificuldades na escola, o pequeno Bastian, usa e abusa da sua imaginação. Certo dia, um livreiro oferece a ele o livro “A história sem fim”, a leitura o transporta para uma aventura em um mundo distante, com seres sobrenaturais e um vilão que precisa urgentemente ser derrotado.
1995 – Jumanji: Mais um queridinho da Sessão da Tarde, que também é baseado em livro. O escritor Chris Van Allsburg também é dono de outro best-seller adaptado para o cinema, “Zattura: Uma aventura espacial” (2005). Voltando a Jumanji, a história do tabuleiro mágico que insere os seus jogos em uma aventura real e mortal, ganhou uma nova versão este ano, trazendo no elenco grandes nomes como Dwayne Johnson e Jack Black.
Sinopse: Alan Parrish desapareceu quando era menino e ninguém acredita na história de que ele foi sugado por um jogo. Vinte e seis anos depois, duas crianças acham o jogo no sótão e, quando começam a jogar, Alan é libertado. Mas o jogo ainda não acabou e Alan precisa terminar antes de ser realmente libertado.
1996 – Matilda: A menininha fofa de imaginação fértil que descobre poderes mágicos para fugir da solidão também é adaptação literária. O livro do escritor britânico Roald Dahl com ilustrações de Quentin Blake foi publicado em 1988.
Sinopse: Matilda Wormwood é uma criança brilhante de apenas seis anos, que cresceu em meio a pais grosseiros e ignorantes. Ambos ignoram a filha, a ponto de esquecerem de matriculá-la na escola. Desta forma Matilda fica sempre em casa ou na livraria, onde costuma estimular sua imaginação. Após uma série de estranhos eventos ocorridos em casa, quando Matilda descobre que possui poderes mágicos, seu pai resolve enviá-la à escola. O local é controlado com mão de ferro pela diretora Agatha Trunchbull, o que faz com que Matilda apenas se sinta bem ao lado da professora Honey, que tenta ajudá-la o máximo possível.
2001 – Harry Potter: Em 2001, estreava o primeiro filme da saga Harry Potter. Sucesso absoluto na literatura, a adaptação consolidou e eternizou a marca no mundo. Colocou J.K Rowling no rol dos escritores bilionários. A saga Harry Potter bateu vários recordes não apenas de vendas de livros, o último filme da saga “Harry Potter e as relíquias da morte – parte 2” (2011), aparece entre os 10 primeiros no ranking das maiores bilheterias do cinema, com arrecadação superior a US$ 1 bilhão. Juntos, os 9 filmes da saga arrecadaram, segundo o site Omelete, cerca de US$ 8,53 bilhões mundialmente. E não para por aí, em novembro estreia mais um capítulo desta história “Os Crimes de Grindelwald”, e claro, esse valor aumentará.
Sinopse: Harry Potter é um menino que soube em seu aniversário de onze anos que é filho órfão de dois bruxos e possui poderes mágicos únicos. De filho indesejado, passa a ser um estudante de Hogwarts, uma escola inglesa para bruxos. Lá ele conhece vários amigos que o ajudam a descobrir a verdade sobre as mortes misteriosas de seus pais.
2001 – O Senhor dos Anéis: O Senhor dos Anéis é uma trilogia escrita por J.R.R. Tolkien em 1937 e 1949, e publicada pela primeira vez 1954. A adaptação só veio quase 5 décadas depois e o sucesso foi imediato. A trilogia conquistou milhares de fãs e ainda 17 estatuetas do Oscar. Junto com a trilogia “O Hobbit” que é do mesmo autor, as aventuras da Terra-média, arrecadaram mais de US$ 5,8 bilhões mundialmente.
Sinopse: Um hobbit recebe de presente de seu tio um anel mágico e maligno que precisa ser destruído antes que caia nas mãos do mal, pois o futuro da civilização depende do destino desse anel. Para isso, o hobbit Frodo terá um caminho árduo pela frente. Ao seu lado, para o cumprimento desta jornada, ele poderá contar com outros hobbits.
2005 – As crônicas de Nárnia: Clive Stamples Lewis criou o reino de Nárnia em 1949. Uma curiosidade: O autor não confiava no cinema para adaptar sua história. Para ele, o cinema não seria capaz de reproduzir seu mundo de fantasia de maneira convincente. Anos após sua morte, seu filho adotivo autorizou a adaptação que foi para as telas em 2005.
Sinopse: Durante os bombardeios da Segunda Guerra Mundial de Londres, quatro irmãos ingleses são enviados para uma casa de campo onde eles estarão seguros. Um dia, Lucy encontra um guarda-roupa que a transporta para um mundo mágico chamado Nárnia.Junto com seus irmãos, Peter e Edmund, e sua irmã, Susan e o leão mágico, Aslan, eles lutam contra a Feiticeira Branca.
2010 – Percy Jackson: Baseada na obra do escritor Rick Riordan, a história de Percy Jackson traz elementos da mitologia grega, que andava meio sumida das telonas. Os dois filmes da trama adolescente arrecadaram cerca de 430 milhões USD no mundo todo.
Sinopse: A vida do adolescente Percy Jackson, que está sempre pronto para entrar em uma confusão, torna-se bem mais complicada quando ele descobre que é filho do deus grego Poseidon. Em um campo de treinamento para filhos das divindades, Percy aprende a tirar proveito de seus poderes divinos e se prepara para a maior aventura de sua vida.
2016 – O lar da Srta. Peregrine para crianças peculiares: O livro homônimo, escrito pelo americano Ransom Riggs, foi eleito como uma das 100 obras mais importantes da literatura jovem de todos os tempos. Ganhou adaptação para o cinema em 2016 com direito a Tim Burton na direção, liderou as bilheterias americanas por semanas e arrecadou cerca de 296,5 milhões USD.
Sinopse: A história começa com uma tragédia familiar que lança Jacob, um rapaz de 16 anos, em uma jornada até uma ilha remota na costa do País de Gales, onde descobre as ruínas do Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares. Enquanto Jacob explora os quartos e corredores abandonados, fica claro que as crianças do orfanato são muito mais do que simplesmente peculiares. Elas podem ter sido perigosas e confinadas na ilha deserta por um bom motivo. E, de algum modo – por mais impossível que possa parecer – ainda podem estar vivas.
2018 – O mistério do relógio na parede: A mais recente aposta do cinema são as aventuras escritas pelo norte-americano John Bellairs, um dos autores juvenis mais estimados dos Estados Unidos, embora ainda pouco conhecido por aqui.
“O mistério do relógio na parede” conta a história de Lewis, um menino órfão de apenas 10 anos, que precisa morar com um tio que nunca viu na vida. Ao chegar no novo lar, Lewis percebe que tanto o tio, quanto a mansão guardam alguns segredos. O principal deles é um misterioso relógio e seu tique-taque irritantemente incessante que ninguém encontrar. O que Lewis não sabe é que o seu tio e sua melhor amiga, são feiticeiros e que encontrar o relógio é questão de vida ou morte.
A adaptação estreou no Brasil em 20 de setembro e traz uma pegada diferente dos filmes fantasia, uma leve pitada de terror. Esse terrorzinho “café com leite” é fruto da dobradinha entre dois especialistas no assunto. A adaptação foi escrita por Eric Kripke que é apenas o criador da série de TV Sobrenatural (no ar a mais de 10 anos) e dirigida por uma das principais referências em filmes de terror, o diretor Eli Roth (O Albergue, Bata antes de entrar, Cabana do inferno, Piranha).
É um filme despretensioso, que se diferencia das demais adaptações recentes de literatura fantástica por conseguir entregar uma aventura simpática e ao mesmo tempo levemente assustadora. A atmosfera sombria de suspense e mistério paira o tempo todo sobre a obra, desde a típica mansão mal assombrada repleta de relógios e objetos macabros, como representações demoníacas, palhaços e bonecas, móveis falantes, animais fantásticos, tudo isso envolto a muita escuridão, alguns raios, chuva e trovões, e com direito até a alguns sustinhos, e claro! Tudo isso com o tiquetaquear pulsante do relógio do fim do mundo como principal trilha sonora.
O filme modernizou a história do livro acompanhando a evolução e a inteligência do seu público-alvo que já não se contenta mais com meros efeitos especiais. Eles querem algo que vai além daquilo que imaginaram na leitura. Por isso posso afirmar que temos aqui um dos raros casos em que a adaptação é sim melhor que o livro.