Teresa Albuquerque | Amor de Perdição
Ao estilo Romeu e Julieta, Teresa Albuquerque e Simão Botelho protagonizam um dos romances mais dramáticos e infelizes da literatura mundial.
Essa infelicidade toda é provocada pelo ódio e rivalidade mortal entre as duas famílias que impedem o namoro do casal. Se fugissem, os dois não teriam como se manter, portanto o acordo inicial era de que ela ficasse e esperasse, enquanto ele terminava os estudos e arranjava um meio de mantê-los.
O pai de Teresa descobre a paixão proibida e obriga a mocinha a se casar com um primo asqueroso. Ela obviamente não aceita, e a sua desobediência terá graves consequências.
“_ Se a sua ideia é obrigar-me a casar com meu primo… Decerto não caso; e morro contente, mas não caso.” (pág.69)
Talvez hoje não saibamos medir e dar importância a essa atitude de Teresa. O ano é 1862, as mulheres não tinham voz e não podiam se casar por amor. A opinião do homem, independentemente de quem seja, era soberana a da mulher. Teresa não apenas disse não, como lutou veemente contra, apesar da pouca idade.
“É mulher varonil, tem força de caráter, orgulho fortalecido pelo amor, desapego das vulgares apreensões, se não apreensões a renúncia que uma filha faz do seu alvedrio às imprevidentes e caprichosas vontades de seu pai.” (pág.42)
Teresa tem apenas 15 anos e suas atitudes merecem uma justificativa por parte do autor, que literalmente entra na história para defender o amor platônico que Teresa se recusa a abandonar.
“Os poetas cansam-nos a paciência a falarem do amor da mulher aos quinze anos, como paixão perigosa, única e inflexível. Alguns prosadores de romances dizem o mesmo. Enganam-se ambos. O amor dos quinze é uma brincadeira; é a última manifestação do amor às bonecas; é a tentativa da avezinha que ensaia o voo fora do ninho, sempre com os olhos fitos na ave-mãe, que a está da fronde próxima chamando: tanto sabe a primeira o que é amar muito, como a segunda o que é voar para longe.” (pág. 32)
Enfrentando a ira do pai, seja com diálogos ácidos e respostas precisas, Teresa prefere a clausura do convento ao casamento com o primo. Aguenta as humilhações do pai e o sarcasmo do primo, batendo de frente com determinação e inteligência nunca antes vista por eles em uma mulher.
“_Sabe a prima que eu estou espantado do seu modo de falar!… Quem pensaria que os seus dezesseis anos estavam tão abundantes de palavras!…
_ Não são só as palavras, primo ¬ retorquiu Teresa com gravidade ¬, são sentimentos que merecem a sua estima, por serem verdadeiros. Se lhe mentisse, ficaria mais bem-vista de meu primo? (pág.39)
Teresa Albuquerque é uma personagem que está anos luz à frente do seu tempo. Por amor e independência ela sacrifica sua liberdade sem saber que a sua desobediência e a de tantas outras da época, valeriam a pena para as mulheres de hoje.
A propósito, ler sobre as mulheres no século XXlll é algo importantíssimo. Saber que hoje podemos casar por amor, que os nossos pais não precisam pagar um dote para o casamento, poder sair de casa sozinha pra ir a esquina, trabalhar, deve-se muito àquelas que, como a Teresa, lutaram firmemente em prol da independência feminina.
É uma personagem literária que representa um pouco a força das mulheres reais que, com corajosas atitudes, mudaram o nosso destino.
Por sua personalidade, força e respeito ao amor, Teresa Albuquerque é uma crush literária pra ninguém botar defeito.
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A imagem de destaque faz parte da adaptação do livro Amor de Perdição em 1978.
Quem nunca teve um crush literário. Listamos vários deles na coluna “Meu crush literário”