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Crítica: Caixa de Pássaros – Josh Malerman

por Herlane Meira
7 minutos de leitura

Como adaptação literária, Caixa de Pássaros decepciona, mas é um filmão para os amantes do suspense

Construir uma narrativa de terror e suspense requer diversos detalhes e elementos surpresa que sejam capazes de deixar o leitor arrepiado e sedento pela continuação da história, mesmo não conhecendo de fato o inimigo que é enfrentado pelos personagens. É o que faz Josh Malerman em Caixa de Pássaros. O autor americano nos arrasta para um universo pós-apocalíptico com criaturas que são capazes de nos enlouquecer a ponto de levar ao suicídio, mas isso se olharmos direto para elas. Para seguir com a vida a partir de então é somente de olhos fechados.

“Caixa de Pássaros” é o romance de estreia de Josh Malerman, lançado no Brasil em 2015 pela Editora Intríseca. Além de romancista e escritor de contos, Malerman também é cantor e compositor da banda de rock “The High Strung”.

A História

O mundo mudou. A realidade não é mais a mesma da forma como a conhecemos. Pessoas morreram, os recursos estão escassos e a loucura está à solta nas ruas. É nesse terror persistente que vive Malorie e seus dois filhos pequenos, um menino e uma menina, de quatro anos de idade.

Os poucos sobreviventes nessa história aprenderam que o que estava causando a loucura nas pessoas ao redor do mundo era algo que não podia ser visto, então passaram a andar com os olhos vendados. E esse algo provavelmente era um ser, alguma coisa viva que ficou conhecida como criaturas.

 

O livro começa a partir do momento que Malorie decide tomar coragem e sair do único lugar que serviu de abrigo para ela e para as crianças nos últimos anos. Sem enxergar o caminho pela frente, mas com uma audição extremamente desenvolvida, principalmente de seus filhos, a protagonista sai em busca de um novo lar, seguindo às cegas a correnteza de um rio.

Garoto e Menina, como são chamados por Malorie, foram muito bem treinados para viver nessa nova realidade desde que nasceram, então, conseguem identificar qualquer tipo de barulho.

“Houve momentos, tardes sossegadas, noites tempestuosas, em que Malorie avisou aos filhos que aquele dia poderia chegar. Sim, ela já havia falado sobre o rio. Sobre uma viagem […] ela os alertava sobre uma possível manhã, quando os acordaria com pressa, e exigiria que se aprontassem para deixar a casa para sempre.” (pág. 13).

Os capítulos do livro se alternam entre o presente, trazendo os desafios da fuga de Malorie com as crianças, e o passado, que é quando o surto começou e o caos se instalou. Conhecemos um pouco sobre a sua história: a descoberta da gravidez, a morte da irmã Shannon e a chegada a casa onde conheceu Tom, Don, Victor, Felix, Jules e Cheryl, que se tornaram seus companheiros nesse novo mundo.

Como vamos acompanhando Malorie sozinha com as crianças durante o mundo atual, não é difícil imaginar o que aconteceu aos outros personagens. Porém, o autor, com várias doses de suspense consegue te prender em dois períodos da história ao mesmo tempo. E é impossível parar de ler até saber o que de fato aconteceu, e como, aos seus colegas de confinamento.

A leitura de Caixa de pássaros nos deixa o tempo todo apreensivos, com descrições de cenas que chegam a causar um leve arrepio na espinha. Precisava saber para onde Malorie estava levando os filhos, se conseguiria, se encontraria uma salvação. E mais: como as coisas chegaram naquele ponto. Como uma mulher sobreviveu sozinha e criara os filhos por quatro anos? Durante a leitura vamos aumentando o número de questionamentos e a curiosidade nos faz avançar, mesmo com momentos aterrorizantes.

Apaixonado pelo gênero de terror, Malerman descreve os cenários de “Caixa de Pássaros” com ricos detalhes que alimentam nossa imaginação. É impossível não embarcar nessa viagem apavorante. O autor tinha o objetivo de nos prender e é exatamente isso que acontece, a obra cumpre a sua meta.

A leitura vale muito a pena para quem gosta de mistério, de livros que nos prendam pelo seu ambiente sombrio. E a edição não decepciona. Tanto a capa quanto o início dos capítulos incorporam a atmosfera do livro, com as bordas das folhas decoradas. São 268 páginas de muito suspense.

O filme

A adaptação do livro “Caixa de Pássaros” ficou por conta da Netflix. A produção, que estreou na plataforma de streaming dia 21 de dezembro, traz um elenco de peso. Além de ter Sandra Bullock como a protagonista Malorie, o longa conta com Sarah Paulson, de “American Horror Story”, Rosa Salazar, da série “Divergente”, Trevante Rhodes, de “Moonlight: Sob a Luz do Luar”, Danielle Macdonald, de “Patti Cake$”, Jacki Weaver, de “O Lado Bom da Vida” e John Malkovich, que dispensa apresentações.

Confira o trailer:

Com a direção de Susanne Bier (Em um Mundo Melhor) e roteiro assinado por Eric Heisserer (A Chegada), o filme segue intercalando entre passado e presente, de uma forma muito rápida. O que tornou um pouco confuso entender aquele mundo pós-apocalíptico.

Malorie já está no meio da gestação quando o tumulto começa na cidade, causado pelo caos de pessoas se machucando, e machucando umas às outras. Ela assiste a irmã Jessica cometer suicídio e tenta fugir em meio à explosões e pessoas desesperadas nas ruas se matando. Nesse desespero Malorie encontra abrigo em uma casa com um monte de estranhos e ali tentam sobreviver ao terror que está do lado de fora.

Comparar a narrativa de um filme através da adaptação de uma história que surgiu em um livro não é uma tarefa fácil. Há cenas e personagens que acabam não fazendo parte da produção, e, na maioria das vezes, os longas deixam a desejar. E com “Caixa de Pássaros” não foi diferente.

Netflix/Divulgação

Mas, vejam bem, no sentido comparativo, a história segue de forma superficial quando analisada através dos mínimos detalhes descritos por Josh Malerman. Entretanto, apesar de personagens, que não tem nada a ver com a descrição da obra, e acontecimentos que se desenrolam de forma diferente, no aspecto geral, a produção da Netflix consegue seguir a narrativa do livro.

Bird Box, ou Caixa de Pássaros, vale seu tempo gasto na Netflix. Em pouco mais de duas horas de filme, a produção consegue manter o suspense do livro, mesmo exagerando em algumas cenas aterrorizantes. E, quanto a atuação de Sandra Bullock, não existiam dúvidas de vê-la na tela mais uma vez. A mulher é linda e arrasa. Pode se jogar sem medo, ou melhor, medo, talvez, algumas pessoas irão sentir.

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