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Crítica: A desordem que ficou

por Jéssica Torres
3 minutos de leitura

A Desordem que Ficou é título apropriado para 2020
Mais uma vez, Netflix emplaca sucesso espanhol

Caminhamos para o fim deste ano com, pelo menos, duas certezas: o novo coronavírus não é só uma ‘gripezinha’ e a Espanha tem virado uma verdadeira fábrica de fenômenos da Netflix. Encabeçando sucessos como O Poço, La Casa de Papel e Vis a Vis, a bola da vez do país da La Tomatina é “A Desordem Que Ficou”, minissérie criada por Carlos Monteiro, autor de Elite.

Veja o trailer: 

Baseada no livro de mesmo nome também escrito por Monteiro, a narrativa acompanha Raquel, professora de literatura que aceita trabalhar como substituta no Instituto Novariz, em um povoado galego, cidade natal de seu marido Germán. Entretanto, a protagonista é envolvida em uma rede de mistérios que colocam não só o seu matrimônio, como a própria vida em perigo. E o caos se instaura justamente quando ela resolve investigar a morte de sua antecessora, Viruca, que aparecera afogada por suicídio, aparentemente.

O desempenho do elenco é o principal fator para que a minissérie, que mistura drama e mistério, prenda o telespectador do início ao fim, ao longo de seus oito episódios. Os nomes são de peso para quem acostuma acompanhar as produções de lá: Inma Cuesta, Bárbara Lennie, Tamar Novas, Arón Piper, Roberto Enriquez e Isabel Garrido.

Outro destaque, a construção dos personagens tem potentes elementos adicionados às suas características mais complexas. Por exemplo, o comportamento bad boy de Iago, interpretado por Arón Piper, que participou da série Elite ao lado de Monteiro. Desde as primeiras cenas, o telespectador consegue deduzir a típica atitude do adolescente, previsível em função do apelo pop pela espécime. Mas a composição de recursos, que não são entregues facilmente, como seu arco familiar, quase nos faz sentir culpa pelo juízo de valor anteriormente empregado.

Enquanto há técnica avançada na construção de personagens complexos, a produção peca por amadorismo quanto ao roteiro. Não demora muito para a compreensão de que a minissérie se passa em dois tempos distintos – pensou em Dark, não é? – assim como a série alemã. Enquanto uma espiral apresenta a história de Raquel, na outra conhecemos a de Viruca

Até então, o roteiro flui e quase beira à despretensão, com algumas falhas que passam despercebidas até para os mais críticos. O problema consiste nos plot twists a perder de vista. Um dos principais mecanismos do cinema para chacoalhar qualquer narrativa, a reviravolta nos é ensinada desde a jornada do herói.

Contudo, nunca vi sendo usada tantas vezes em um mesmo trabalho. A minissérie utiliza pequenos atritos que não chegam a lugar nenhum visando apenas “mais uma” reviravolta para a conta, mais uma falsa dedução, mais uma surpresa, o que é muito cansativo. E, mesmo para os pontos de maior tensão, não se justifica.

Mas, de maneira geral, a minissérie entrega uma história incrivelmente intrigante, com boa direção de arte, fotografia, elenco, cenário e trilha sonora envolvente. Assim, a harmonização de tais pontos supera as falhas no roteiro.

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