Meu Encontro com Nina
Se me perguntarem a data precisa dos fatos, seria incapaz de lhes responder. Perdoem minha desatenção, mas a cabeça já está a variar e os pensamentos se confundem. A realidade não é mais como era antigamente. Hoje, ela se mistura com sonhos e devaneios. Por favor, não me julguem louco, meus caros. Preciso que saibam que a idade avança sobre mim e minha juventude ficou perdida há anos. Apenas espero que essa informação não tire a credibilidade do que vou lhes contar. Já fui muitas coisas nesta vida, mas hoje sou apenas um mero contador de histórias e esta marcou minha simplória vida. Peço-lhes licença, meus amigos, para compartilhar um pouco de minha convivência com a pequena Nina. Tentarei não me demorar em narrar este conto e sigo na humilde torcida de que vocês se encantem com essa doce história.
Em meados do verão de 1988, eu era um lavrador que trabalhava dia e noite para colocar comida na mesa. Não era mais um moço, já passava dos 50. Me casei tarde. Eu e minha esposa sonhamos durante muitos anos em sermos pais, mas, por algum plano desconhecido do destino, vivemos apenas nós dois durante longos anos. Éramos felizes! Essa era uma certeza que eu tinha.
Sempre gostei daquela vida, nunca fui chegado a luxo. Adorava a vidinha simples do interior. Sentia prazer em acordar ao som do galo a cantar e dormir logo após o sol se pôr. Aliás, eu nunca perdia um pôr de sol. Para mim, aquela era a prova mais clara de que Deus existia e estava ali por nós. Não tardou, minha esposa foi arrancada de mim e levada a morar com o Senhor. No dia 10 de setembro de 1989, os sinos da igreja anunciaram o cortejo fúnebre da minha amada que sofrera muito antes de sua partida.
Durante sua luta pela vida, me questionei algumas vezes sobre a existência de Deus. Hoje, me arrependo desses pensamentos, mas, à época, o sofrimento me cegara e, acreditem, era impossível pensar de maneira racional. Penso que as provas da verdadeira fé vem nos momentos de sofrimento. Espero que Deus tenha perdoado aquela minha fraqueza. Depois da última despedida, cheguei em casa e me vi só. Na tentativa de amenizar a solidão, me apeguei ao trabalho, mas nem o cansaço do dia a dia e da idade me fizeram parar de trabalhar pesado. Com o tempo, a rotina se tornou algo torturante.
De repente, aquela casinha, aquele emprego e aquele mesmo pôr do sol já não eram mais suficientes para me fazer sentir vivo. Eu lutava todos os dias para me manter de pé, com fé e não desistir da luta árdua e diária. Pensei em me mudar para outra cidade, deixar as lembranças, a dor e tudo mais para trás. Quase dois anos após a morte de minha mulher amada, decidi que não queria mais estar ali. No início, era dor, depois a dor se tornou saudade e depois não sentia mais nada além de um vazio sem tamanho. Quantas vezes me peguei chorando sem saber quando aquela vontade chegara.
Me perdoem! Estou me delongando na minha história e no meu sofrimento. Meu objetivo aqui não é falar sobre mim, mas sim, sobre Nina.
Ao amanhecer de um certo dia frio de inverno, não me recordo a data exata, me levantei antes do sol e decidi ir até o vilarejo vizinho. Não sabia o que faria lá. Parte de mim queria encontrar uma casinha para que eu pudesse me mudar, mas a outra parte queria permanecer onde morei por tantos anos. A questão é que fui ao vilarejo e vagueei por ele durante algumas horas. Os comércios estavam a abrir, aos poucos o sol já estava visível no céu e eu, queria desesperadamente saber porque estava ali caminhando sem rumo, como uma criança perdida dos pais.
Um ponto de consciência caiu sobre mim e decidi voltar para casa ainda sem descobrir o que estava havendo, sem encontrar as respostas que estava procurando. Certa vez, ouvi um homem dizer que quando a morte se aproxima, o ser humano tem o dom de pressentir. Com os olhos fixos no céu, agora fortemente iluminado, pensei que talvez esse desespero sem explicação fosse um pressentimento de minha morte. Não me assustei, já havia vivido tempo suficiente. Naquele momento, sentindo uma angústia que se forçara a entrar no meu peito e se instalara em minhas entranhas há vários dias, pensei que a morte poderia ser a minha solução. Havia me transformado em um ser desprezível. Perdoem-me a forma radical que vos falo, mas me sentia assim. Fiquei ali, parado por um tempo, em estado de transe.
Agora, chegamos a parte da história que, inesperadamente, mudou minha forma de ver a vida e, mais tarde, me fizera sentir culpado por aqueles devaneios. Fui arrancado de meus pensamentos de maneira tão brusca que dei um pulo de susto. Por alguns segundos, fiquei desnorteado, olhando para os lados procurando de onde viera o grito que me despertara dos pensamentos. À minha esquerda, ao longe, avistei uma criança correndo na minha direção. Sem pensar direito, a segurei quando ela se aproximou e tentei acalmá-la. Não conseguia entender uma palavra do que ela dizia.
– Eu… foi sem querer… fome, muita fome… – ela balbuciava e chorava compulsivamente. Eu não sabia o que dizer. Queria dizer que estava tudo bem, mas nem sabia o que acontecera para deixar aquela pequena menina tão assustada.
De repente, um homem virou a esquina andando às pressas. Seus cabelos ondulados e cortados de maneira a cair na testa estavam grudados como se ele tivesse corrido uma maratona. Bufava feito um animal e gritava alguma coisa com uma voz tão grave que mal dava para entender. Quando se aproximou de mim e da garotinha, ele apontou um dedo rechonchudo para a menina e gritou. – Você nunca mais vai pegar nada na minha padaria. Você é uma ladrazinha. Já chamei a polícia. Alguém tem que fazer alguma coisa para nos livrar de gente como você – o homem olhou para trás como se estivesse esperando que a polícia virasse a esquina naquele instante. Fiquei paralisado. Tive vontade de pegar a menina e correr para longe daquela situação. Como alguém poderia falar com uma criança daquela maneira. Era apenas uma criança. – Calma! – comecei a dizer – o que está havendo aqui?
– Ela roubou minha padaria. Essa pequena ladra. Quero ela presa. Quero ela longe de mim e da minha loja – ele sacudia a mão no ar como se quisesse matar uma mosca invisível. Estava furioso. Tentei manter um diálogo pacífico com o homem, que aos poucos foi se acalmando. Me contou que a menina já havia o roubado antes e que isso não poderia continuar acontecendo, que ele tinha uma família para sustentar e blá, blá, blá. No fim, paguei ao homem uma quantia ainda maior do que o pão que a menina havia pegado e gentilmente o dispensei dizendo que precisava voltar para casa.
Ainda assustada, a menina começou a me explicar que não era ladra e que só estava com fome. Que não tinha ninguém da família que pudesse lhe dar comida e abrigo e, no fim do dia, já éramos amigos. A menina era Nina. Tinha apenas 9 anos e era mais inteligente e esperta do que bonita. Com estatura bem abaixo da esperada para sua idade, olhos amendoados e fundos, ela estava muito magra e com uma aparência de quem não tomava banho há dias.
Nina me disse que seu pai, contou sua mãe, havia desaparecido assim que soube que ela viria ao mundo em nove meses. Após seu nascimento, sua mãe trabalhara dia e noite para sustentá-las, mas nunca superou o sumiço de seu pai. Com o tempo, uma doença, que Nina acreditava ser da cabeça, atingiu sua mãe de tal maneira que, em alguns meses, não mais saia da cama. Nina ficara sabendo o que era a morte sem que ninguém lhe explicasse. Aos sete anos, ficou por quase uma semana dentro de casa com a mãe imóvel sobre a cama. Sentia apenas um forte cheiro que chegava a arder seus olhos. Um dia, várias pessoas que ela nunca havia visto na vida entraram em sua casa e levaram sua mãe embora. Ela nunca soube para onde, porque ninguém a viu para lhe dizer. Quando percebeu que estavam tentando entrar na casa, ela se escondeu no armário.
Fiquei muito comovido com a história de vida de Nina, mas o que mais me impressionou foi que ela me apresentou seu melhor amigo, que ela batizou de Sismer. Era ele quem a protegia de coisas ruins e do frio das noites que se seguiram. Ele a aconselhava, conversava com ela e era seu companheiro. O que tem de surpreendente nisso? Sismer era a blusa de moletom que Nina carregava nos braços quando estava quente e se cobria quando o frio chegava. Ela me contou que Sismer era de sua mãe e que agora era seu amigo. Aos olhares curiosos das pessoas, Nina era maluca e vivia falando sozinha. Desinformados seres humanos. Ela não estava falando sozinha, não estava a delirar, estava tendo diálogos com Sismer.
Naquela tarde, levei Nina para minha casa. Ofereci um balde de água quente para que pudesse se banhar e preparei um jantar para que pudesse matar a fome. Enquanto cozinhava, meus pensamentos estavam nas dificuldades pelas quais aquela menina já tinha passada em uma curta vida. Pensei que entre as crianças era normal a presença de amigos imaginários. Eles costumam suprir carências e incertezas da infância. Nesta história que lhes conto, nossa protagonista tem um moletom que a ouve e também a aconselha, a protege e é a única “pessoa” que ela tem na vida. Sismer mantém não apenas o corpo de Nina quentinho, ele aquece o coraçãozinho solitário dela. Ele lhe faz companhia. Ele é a representação de uma família para Nina. Meus olhos se encheram de lágrimas. Respirei fundo e não deixei que elas escapassem e caíssem por minhas bochechas. Seria bem ruim se Nina me visse chorando.
Não demorou e Nina adentrou a cozinha cantarolando e parecendo a pessoa mais feliz deste planeta. – Que cheiro bom. Estou com muita fome. – Meus olhos voltaram a lacrimejar e eu me forcei mais uma vez a não chorar. Me virei e vi Nina sentada na cadeira com os cabelos molhados, um sorriso de dentes tortos estampado no rosto e vestindo o moletom. – O jantar está quase pronto – sorri de volta para ela me sentindo mal por ter comida na mesa todos os dias.
Acredito ser extremamente necessário lhes pedir que não julguem Nina louca. Longe disso. Mesmo com pouco tempo de convivência, descobri que sua inteligência se sobressairia a qualquer menina de sua idade. Se tivesse oportunidade, ela seria destaque nas salas de aula daquela pequenina cidade do interior de Paraíso, interior do interior de Lugar Nenhum. Durante o jantar, que Nina devorou com uma vontade quase animal, ela me contou que aprendera a ler com a mãe e que frequentara a escola por alguns meses antes da mãe ficar de cama. Em suas muitas leituras, encontrou seu livro favorito na vida. Decidiu que “Alice no País das Maravilhas” era o universo onde queria estar. Contou-me que sentava todas as tardes debaixo de uma macieira e esperava que um coelho passasse às pressas por ela. Sabia que quando acontecesse, não pensaria duas vezes para segui-lo. Sentia uma adrenalina e um friozinho na barriga todas as vezes que ouvia um barulho vindo de algum lugar próximo.
E foi ali, sentado à mesa, num simples momento, em poucos minutos, quando eu me transformara em um observador, que tive a oportunidade de testemunhar o diálogo mais incrível de minha longa vida, que, permitam-me lhes dizer, já está no fim. A menina e seu moletom começaram uma conversa que, ainda hoje, anos depois, está gravada em minha mente. O passar dos anos nos tira muitas memórias e agradeço a Deus todos os dias por esta ainda permanecer intacta.
No começo, fiquei perdido, mas logo consegui captar as ideias do diálogo, que, para mim, era um monólogo, já que ouvia apenas os argumentos de Nina. Eles falavam sobre medos e angústias, sobre o amor e o coração. Não sobre o coração que bate em nosso peito, mas sobre o quanto a palavra pode ter variáveis metafóricas. Nina não sabia nada sobre metáforas. Não tivera tempo de chegar a este nível na escola, mas, mesmo com tal desconhecimento, não deixava a desejar e isso me tocou grandemente.
De repente, a menina ficou séria – Sismer, nos últimos dias, meu coração está apertadinho – a menina começou a falar – ouvi dizer que isso pode ser um pressentimento de que algo ruim está por vir. – Baixou a voz – Não conte a ninguém, mas estou com medo. – Nem preciso dizer a vocês o quanto esse comentário me atingiu. Não quis interromper a conversa, mas também estava sentindo uma angústia que há muito me incomodava. Não sabia explicar ao certo o que era. Forcei minha boca a não se abrir e continuei a observar. Ajeitando o moletom em volta do corpo para tentar espantar um arrepio que subiu por sua nuca, a menina estremeceu e deixou escapar dos lábios um som que pode facilmente ser confundido. Ou era um som de medo ou de alívio por não estar sozinha. Mais uma vez, tive a certeza de que aquele moletom mantinha a luz que eu “via” emanar de Nina. Uma luz infantil, uma luz que só um coração puro era capaz de ter.
Fechando os olhos e respirando profundamente, Nina ouviu o som da voz de seu amigo. Era uma voz doce e gentil, dissera a menina em algum momento daquele dia, um som criado pela infantil imaginação daquela criança. Não pude evitar a pergunta e quis saber o que o seu amigo respondera. – Não se preocupe, minha doce menina. Esse aperto no coração é fruto de muitas coisas pelas quais você passou e ainda passa. A falta de sua mãe, de seu pai que você jamais conhecera e o medo da solidão podem facilmente confundir seus pensamentos e fazer com que você queira não mais estar neste mundo. Fique tranquila. Não se esqueça jamais de se apegar às coisas boas desta vida. Hoje, por exemplo, você tem muito o que agradecer. Encontrou um amigo que lhe ajudou, lhe deu comida e abrigo. Eu sinto que seu coraçãozinho está cheio de angústia, mas também de esperança e gratidão. Não podemos deixar que os sentimentos negativos ganhem força sobre as coisas boas. – A menina ouviu um som leve que julgou ser uma risada – Você é a menina mais criativa e inteligente que conheço e tem um coração que mal cabe no peito. Ah! E não se esqueça. Eu estou aqui não apenas para esquentar você em dias como este, de frio e vento. Também estou aqui para manter seu coração quentinho e sua cabeça tranquila. Há coisas neste mundo que podem sim fazer nossos dias mais infelizes, mas não podemos deixar que isso se torne rotina. Há sempre algo bom em meio as grandes tristezas. Já te disse isso outras vezes: ser feliz nem sempre é o que queremos. Às vezes, escolhemos a tristeza, a solidão e o isolamento. É mais fácil reclamar da vida do que agradecer. Lembre-se, minha pequenina, que a decisão é sua. A decisão de ser feliz, de deixar o passado no passado e de se apegar em coisas que lhe fazem bem. Você escolheu a mim como seu amigo e eu estarei aqui por você sempre. Haverá um dia em que você não mais precisará de mim e, não se preocupe, eu irei entender. A vida muda a cada dia e um dia olhamos para trás e percebemos o quanto mudamos, crescemos e amadurecemos. Muitas vezes, o sofrimento vem para mostrar que podemos vencer a vida. Isso é o que importa de verdade. – Depois de ouvir as palavras que, Nina dissera que vieram de Sismer, não consegui segurar uma lágrima que teimou e escapou dos meus olhos. Tive a certeza que a imaginação daquela menina a protegia do mundo, das coisas ruins e a mantivera feliz durante anos, apesar de tudo.
A menina deu um sorriso de satisfação. – Obrigada, Sismer. Você sabe que é o meu melhor amigo. Ou melhor, meu único. – Parou por um instante e olhou para mim – Agora, não mais o único. – Sorriu. Pedi licença e me retirei por alguns minutos. Não iria conseguir segurar mais aquele choro que estava preso na garganta, sufocando minha respiração.
Me levantei, caminhei até a porta da cozinha que dá acesso a um pequeno corredor e passei a observar de longe. Em silêncio por alguns minutos, Nina refletiu e disse: – Queria te pedir para nunca me abandonar. A verdade é que não quero que você se vá e me deixe sozinha. Não sei fazer amigos, não sei conversar com outras pessoas, não sei ser alguém com quem outras pessoas desejam estar. – Fez-se silêncio durante muitos minutos. Nina sorriu e tive a certeza que seu amigo havia lhe respondido que não a abandonaria, não enquanto ela precisasse dele.
Continuei ali, parado, refletindo sobre a vida com pensamentos desordenados demais para serem entendidos. Há menos de 24 horas, eu pensara em não mais viver porque minha vida era ruim demais. Meu Deus, quanto egoísmo. Enquanto observava Nina se aconchegar no moletom, e aos poucos adormecer, me julguei a pessoa mais insensível do mundo. Sim, perdi minha esposa, fiquei só, mas a vida é importante demais para ficar estagnado e o mundo grande demais, para ser esquecido. Me senti o maior idiota que já pisou sobre a terra.
Ali, sentada na cadeira de madeira da minha cozinha, a respiração da menina foi ganhando regularidade e ela caiu em um sono profundo ainda aninhada em seu moletom protetor. Fui até ela, a peguei no colo e a coloquei no quarto que havíamos preparado para a chegada de nosso filho que nunca viera. Fui para meu quarto e virei na cama por muitos minutos, ainda com a conversa entre a menina e seu moletom girando na cabeça como uma roda gigante sem fim. Adormeci e acordei ao som do galo, como sempre. Com alegria, percebi que aquele aperto no peito, aquela sensação de solidão e aquela angústia haviam passado. Aquele buraco que ficara em meu peito depois da morte de minha senhora também não estava mais ali. Era como se meu encontro com Nina fosse algo preparado pelo destino, por Deus ou apenas pelo acaso, simplesmente para me tirar daquele estado letárgico que não me abandonava. Me levantei, passei pelo quarto onde deixara Nina na noite passada.
O sobressalto que tive foi tão grande que fiquei perdido por alguns segundos. A cama estava arrumada como sempre estivera, como minha falecida esposa a tinha deixado há alguns anos. Entrei no quarto e procurei por algum indício de que alguém estivera ali. Nada! Sentei na cama e tentei organizar minhas ideias. Me lembrava de todos os momentos daquele dia que havia se passado. Minha ida ao vilarejo, minha conversa com o dono da padaria, minha volta para casa. Fechei os olhos e voltei ao momento em que fazia meu jantar e, em seguida, jantava sentado à mesa de madeira. Me forcei a recordar de todos os momentos vividos, mas por mais que me esforçasse não me lembrava claramente das coisas que envolviam Nina. Seu rosto, sua voz, sua conversa com seu melhor amigo: o moletom, tudo era muito parecido com um sonho. Me levantei e fui até a cozinha. Dentro da pia, apenas um prato.
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