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A Revolução dos Bichos – George Orwell

por Elis Rouse
6 minutos de leitura

A revolução dos bichos – George Orwell

O clássico da literatura mundial, A revolução dos bichos já teve várias adaptações para o cinema, teatro e TV. A mais recente, de 1999, foi produzida pela TNT.

Livro: O que primeiro chama atenção na história de A revolução dos bichos é a intenção do autor de retratar na fábula um momento importante da história mundial, a ditadura stalinista na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), entre 1924 e 1953.

A fábula traz a história de animais que cansados dos abusos do seu patrão, decidem se rebelar e tomar o controle da fazenda. A situação do fazendeiro Jones é deprimente. Ele é um alcoólatra, displicente e descuidado, alvo de chacota dos vizinhos.

Os animais, motivados pelo velho porco Major, se aproveitam da decadência e incompetência de Jones para expulsá-lo da fazenda, proclamar a revolução e instituir o animalismo. Um regime que em síntese prega a igualdade entre os animais e declara o homem como seu pior inimigo.

“O homem é a única criatura que consome sem produzir. Não dá leite, não põe ovos, é fraco demais para puxar o arado, não corre o que dê para pegar uma lebre. Mesmo assim, é o senhor de todos os animais. “ (pág. 12)

Com a expulsão do seu dono e a morte do velho Major, símbolo da revolução, alguém tinha que liderar a bicharada toda. E essa missão fica com os porcos, que se auto-intitulam os mais espertos e intelectuais. Eles aprendem a ler e escrever. Com isso, dominam os outros animais que se dedicam ferrenhamente no trabalho pesado da fazenda. Crentes nos mandamentos do animalismo e esperançosos de que a vida vai melhorar um dia.

“Os porcos não trabalhavam, propriamente, mas dirigiam e supervisionavam o trabalho dos outros. Donos de um conhecimento maior, era natural que assumissem a liderança”. (pág.27)

Os porcos usam de toda a esperteza para se dar bem em cima dos animais, sempre sob a ameaça de uma possível volta de Jones. Eles mentem abertamente, não trabalham, comem os melhores produtos da fazenda e, por fim, se apoderam dos privilégios de Jones. Com o tempo, os ideais do animalismo se perdem, a ganância impera e no final das contas sempre haverá explorado e explorador, independente de quem esteja no poder. Dizer mais do que isso seria dar spoiler demais.

A revolução dos bichos é uma trama com mais de 70 anos, proibida em vários países, mas que continua atualíssima. Durante a leitura (é triste dizer isso), consegui identificar a personalidade de muitos conhecidos, tanto nos vilões, os porcos, sempre espertos e não poupam esforços para se dar bem. Quanto nos mocinhos, conheci gente que se comportava exatamente como os animais, trabalhadores incansáveis iludidos e ludibriados diariamente por aqueles que estão no poder.

A participação dos pombos na trama merece um parágrafo especial. São eles os responsáveis por percorrer as fazendas da vizinhança espalhando as notícias “sempre agradáveis” da revolução dos bichos na Granja Solar. Os responsáveis pela publicidade da revolução. Em época de eleições, e uma preocupação crescente com as Fake News, precisamos tomar cuidado com os pombos que vivem entre nós.  

Filme: A adaptação escolhida para comparativo é a de 1999, produzida pelos estúdios TNT. Conta com a participação de animais reais e grandes atores no elenco como o inglês Pete Postlethwaite e nas vozes dos animais como o britânico Patrick Stewart.

O filme é bem fiel ao livro e manteve os principais ápices da trama literária. O tom de revolução é até mais forte que no livro. A segunda frase do filme já dá uma dimensão do estar por vir.

“Passamos anos escondidos da opressão, escondidos de espiões assustadores, mas agora a natureza expurgava a doença”.

Sobre a história, gostei do foco dado pela produção ao mostrar a divergência entre os porcos, o idealista Bola de Neve e o tirano Napoleão. Enquanto Bola de Neve trabalhava pelos ideais do velho porco Major, símbolo da revolução, em favor do animalismo e a igualdade entre os bichos, Napoleão, o carrasco, tinha planos mais humanos para a fazenda, que inclua até mesmo extermínio dos animais.  

 

O destaque da adaptação é a participação de animais reais nas cenas, contracenando com os humanos e proporcionando momentos emocionantes e até hilários. As tomadas dos animais são sensacionais, as expressões deles e os movimentos da boca deram certo.

Entretanto, a dublagem é bizarra, o tom das vozes em português são hilárias e algumas cenas de movimento como a do porco Garganta descendo as escadas após inserir a placa com os mandamentos do animalismo é esdrúxula.

Tanto no livro quanto no filme, a mensagem é a mesma: quem está no poder há de explorar alguém para se manter lá. O livro sobressai, a adaptação não conseguiu representar toda a grandeza da história de George Orwell.

Livros ou suas adaptações? É sempre polêmico, né? Veja outros comparativos aqui

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