“Não há na literatura portuguesa conhecida algo que se compare a Batalha do Apocalipse”
José Louzeiro, escritor e roteirista
Esta é uma definição mais do que perfeita para ‘A Batalha do Apocalipse’ primeiro livro do escritor carioca Eduardo Spohr. E é assim que eu também defino essa história literalmente fantástica. E o primeiro ponto que já ressalto de cara é a capacidade do Eduardo de se aprofundar em um conteúdo. É impressionante como ele te insere na trama e você vai adentrando aos mundos e submundos criados por ele e como esses universos têm a capacidade de ser muito mais que verossímeis, mas tudo beira o real, o palatável. Algumas coisas, de fato, são.
‘Batalha do Apocalipse’ vai nos apresentar a história da criação do mundo, mas pelo ponto de vista dos anjos. A narrativa se passa logo após a criação, e é explicado que o tempo de Deus não se passa da mesma forma que passa para os humanos. Então, enquanto para os homens já se passaram milênios, Deus e os anjos ainda se encontram logo após o sétimo dia, quando Deus está ‘descansando’ em um sono profundo e quando ele acordar será o momento do grande julgamento, do apocalipse. Ele deixa o Arcanjo Miguel incumbido de cuidar de tudo e todos. Miguel, porém, é cheio de rancor e inveja dos humanos, tendo sido responsável pelas maiores tragédias e guerras, no intuito de aniquilar a raça humana enquanto Deus está adormecido. Dentro deste contexto vamos conhecer o anjo Ablon, nosso protagonista, que foi expulso do céu e mandado para terra junto com outros anjos chamados de ‘Renegados’, depois de uma guerra ocorrida porque nem todos os anjos do céu apoiavam as atitudes arrogantes de Miguel. Sendo assim, Ablon reside entre humanos já tendo vivido diversos momentos na história da humanidade, e por meio de suas histórias vemos vários acontecimentos pelos quais os humanos já passaram, como a queda do Império Romano, Tomada de Constantinopla e muitos outros. O Apocalipse, que está em iminência, com o despertar de Deus para o juízo final, faz com que Ablon se veja obrigado a fazer o possível para evitar o fim da era dos homens, tendo em vista que Miguel quer aproveitar essa oportunidade para extirpar de vez os humanos.
Com um trabalho de pesquisa nitidamente gigantesco, aprofundamento histórico e muita criatividade, ele cria uma narrativa instigante que faz com que a gente questione a todo tempo se aquilo realmente não poderia ser verdade, se aquilo não pode de fato estar acontecendo no momento que estamos lendo suas páginas ou se não estamos a apenas um passo de um apocalipse.
A trama é recheada de personagens intrigantes além do próprio protagonista, como o Arcanjo Miguel, que foge daquela ideia que temos de que todos os anjos e arcanjos do céu são, por natureza, bondosos. Ele é um personagem muito bem aprofundado e muito bem escrito, cheio de argumento. Também podemos destacar Lúcifer, com sua intensidade e maldade, que ‘fundou’ seu próprio reino, o inferno, e a necromante (Necros = mortos + mancia = adivinhação, é o uso das habilidades do magista para contactar os espíritos dos mortos) Shamira que quase se pode considerar uma segunda protagonista, por estar sempre ao lado de Ablon. Ela é uma personagem forte, guerreira e com uma trajetória linda, principalmente tendo em vista sua luta para permanecer ao lado dele ao longo do tempo.
Outra coisa que considero merecer destaque é o fato de que muitas vezes damos super valor à obras estrangeiras, principalmente as obras de realismo fantástico, e, aqui, Eduardo Spohr mostra que brasileiro tem capacidade de escrever literatura fantástica maravilhosamente bem sem deixar nada a dever pra nenhum escritor mundialmente conhecido. ‘A batalha do apocalipse’ mostra que criatividade e talento não têm nacionalidade, e, nós brasileiros estamos precisando aprender isso há muito tempo!
Mesmo que em alguns momentos a leitura possa ser um tanto quanto arrastada, devido a necessidade, mais que compreensível de se explicar alguns fatos ou fazer contextualização histórica, a leitura flui bem e apresenta bons momentos de tirar o fôlego. Eduardo Spohr reuniu literatura fantástica atando com a história cristã de maneira muito bem feita e instigante. Em uma história absurdamente bem contada você vai sentir raiva, medo, alegria, aprender fatos históricos e se emocionar. Vale a pena!
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